Wednesday, July 29, 2009

Uma tribo pós-histórica


Escrever é envelhecer o mundo. No documentário Uma tribo em Paris, ou algo assim, que vi no Odisseia, lá estavam os papuas (ou seriam polinésios?) de uma tribo remota, nas ruas da capital da França, a falar sobre o homem branco. Muitos espantados de tudo. Riam-se. Eram bem simpáticos, aliás, e perceberam logo muitas coisas pelas quais passamos de todo alheados. Barbudos, com penachos na cabeça, um deles (eram dois), o chefe, tinha uma espécie de pauzinho chinês a atravessar a base do nariz. Um pircing em forma de lápis.

Seja de que maneira, não sabem ler nem escrever. Vêem da pré-história e não temos nenhuma informação sobre os chefes que sucederam a chefes, guerras, pazes e afins. História política, história militar, história da economia, história das ideias, história da vida privada, história das mulheres e história dos homens. De nada há registo nem memória - excepto nas tradições orais, que se vão repetindo e renovando através dos tempos, de forma análoga à renovação da natureza.

Escuta o canto dos pássaros.
Eles são os pequenos mensageiros da manhã.


A escrita é diferente: onde assenta, deixa marcas visíveis. Que leitura farão os papuas da passagem do tempo? A face da Terra tem outras cicatrizes, sinais que talvez saibam interpretar. Mas também não é impossível, caso se ponham realmente a pensar nisso, considerarem por exemplo que o mundo sempre existiu, ao mesmo tempo que tudo é sempre novo. Não lhes assentaria mal uma especulação destas. Dado que não têm História, apenas isso.

Ao visitarem a tribo do homem branco, debruçando-se na varanda do hotel sobre Paris, dar-se-iam os polinésios (ou eram papuas?) conta da importância da progressão do tempo na construção da realidade humana, que convenientemente gostamos de qualificar como ‘progresso’, ou, pelo contrário, assentariam fundamentalmente as suas especulações numa concepção não dinâmica da realidade? Pareceu-me terem optado por não dar grandes indicações num ou noutro sentido, sensatamente. Talvez pressentissem o que outros recusariam concluir: estar a dar-se neles próprios e na sua circunstância uma transição da pré-história para a pós-história.

Porquê? Porque a cidade de Paris, aquela criação humana, só se percebe através de uma forma de narrativa específica (a História) que transforma qualquer fenómeno em objecto de conhecimento. E mais, toda a vivência é já tão marcada pela demanda da objectividade (dos chamados ‘factos’), que os papuas devem ter sentido de repente que já não havia lugar à subjectividade, todos os limites da sua imaginação lhes pareceriam subitamente esgotados. Nem precisariam de os levar a bibliotecas, museus ou universidades. Levaram-nos ao Moulin Rouge, e foi o melhor que fizeram (eles riam-se, riam-se).
A ausência de registo de fenómenos é a pré-história. A materialização automática e sistemática de todos os fenómenos em detrimento da subjectividade é a pós-história.

A nossa tribo há muito que tem consciência histórica. O conhecimento da História (no sentido de narrativa (de sucessão de acontecimentos)) influencia a própria História (no sentido se sucessão de acontecimentos). Agora, com a tendência para a digitalização de todos os aspectos da vida, pergunto-me às vezes duas coisas: a (aparente) emergência do ‘sujeito digital’ (fóruns, blogs, páginas pessoais, redes sociais, etc.) não a estará afinal a tornar a verdadeira subjectividade individual irrelevante face ao crescimento galopante de uma forma nova e muito mais poderosa de materialização, de transformação de tudo em objectos do conhecimento? e não sentiremos nós por vezes, tal como os papuas, que os limites do imaginável estão cada vez mais a ser postos à prova, afectando a própria História (no sentido se sucessão de acontecimentos)? Já não digo nada.

Eu às vezes parece-me que vivo numa espécie de pós-história, confesso. Não sei o que seja isto. Se entretanto conseguir saber mais do que tenho, venho cá dizer (posso ter uma inspiração repentina).

Tuesday, July 14, 2009

Voluntariado jovem para as florestas

Estamos já em pleno verão, e com ele o programa ‘Voluntariado jovem para as florestas’, em Eiras de Sabaio.
Ó juventude! (aqui está o meu grito de guerra, já conhecido aliás).
Na nossa freguesia sempre as gentes andaram de mãos arregaçadas lutando contra as adversidades, foi ou não foi?

Foi. Sempre nos unimos quando houve necessidade. E agora é a defesa das nossas florestas que está em causa. Eu sempre aderi a diversas iniciativas em jovem, e nem por isso me dei mal, antes pelo contrário. Sempre gostei de me colocar ao serviço da comunidade. Numa nota pessoal, a respeito disto e do assunto deste texto, recordo com saudade que já em muito novo sonhava fazer vigilância florestal. Sabem como, de preferência? Confesso que era a cavalo! Já imaginaram o que seria percorrer estas matas, no dorso de uma montada, em missão de reconhecimento? Infelizmente nunca cheguei a realizar o sonho, mas na altura alguns guardas florestais usavam realmente este meio de transporte! E infelizmente, também, continuamos actualmente a não poder ir para tão altas cavalarias, mas haverá BTTs para todos e rádios, para comunicar as ocorrências. No futuro, quem sabe? Talvez a ideia dos cavalos possa vir a ter pernas para andar. Como dizia Agostinho da Silva, “nós somo feitos para o impossível”.

Este ano, para além das acções de Vigilância e Prevenção, sensibilização e realização de Inquéritos à população, os Jovens participarão em outras formas de Prevenção como a limpeza de alguns cursos e espelhos de água.

As inscrições já estão abertas na sede da Junta.
Ó juventude! Vem pedalar connosco!

Monday, July 6, 2009