Eu pensava que a condição de jovem agricultor tinha uma mística sensacional mas não é tanto assim. Do que é que gosto mais, bom, gosto de andar de tractor, gosto de fazer uma coisa ancestral, gosto de ser um produtor salsa e de outras ervas e de azeitona. No fundo antecipava muitas vezes ver-me fazer coisas especiais, era o antecipar. E aqueles dias em que o meu time ganhou, o meu carro não quebrou e ando por cá sem vir o êxtase de saber que vai tudo em geral correr em bem, já nada é romântico, e eu achava que isso não tinha importância e tem?
O romântico sou eu! Oh! E pensar que me ria das pieguices que via, e afinal era tudo eu! Antes assim ou o raio porque agora posso expressar isso num blog. Foi bom vir aqui expressar. Expressar os meus problemas com a agricultura e o Stressado porque já me estou a sentir melhor.
A agricultura na quinta: se calhar está normal. Eu é que não sabia que ela era como uma chatice como outra qualquer.
O Stressado: o também contabilista chegou-se ao telemóvel ao pé de nós quando estávamos a meio de uma conversa na esplanada. Eu e o Stressado tínhamos combinado encontrarmo-nos lá. Para falar, Stressado! Espera lá que vou agora ligar para ti e já te digo que vou escrever uma postagem sobre esta situação desagradável toda. E então lá ficámos à espera que ele acabasse a conversa. Deixei-os entretanto e vim para casa, mas ele não atende. Ainda deve estar a falar. Já estou a escrever na mesma.
O Stressado é meio contabilista meio baterista, e era para ver a contabilidade da quinta e para combinar o ressurgimento de uma banda que tivemos em miúdos – que o Stressado é que leva a sério, eu é mais ou menos tanto faz. Mas parece que era para não dizer a ninguém.
Agora vou estragar a surpresa, e se são muitos os nossos leitores em Eiras de Sabaio! É bem feito. De qualquer maneira não há grandes movimentos na contabilidade. Deve ser fácil. E com este tempo não se pode andar de tractor.
Entretanto ligo ao Stressado.
Thursday, November 26, 2009
Stressado!
Wednesday, November 18, 2009
Casebre amarelado
Wednesday, November 11, 2009
A casa amarela
Era o anoitecer e os nossos jovens corações agitavam-se. Olhávamo-nos em silêncio, à espera do primeiro movimento. Cinco ou seis. Sentados, a vinte ou trinta metros da casa amarela. Naquele tempo não havia electricidade nas terras. Trevas sobre o abismo para lá dos muros da casa amarela. Veio depois de alguns de nós terem filhos da nossa idade. A luz eram os nossos olhos excitados e os nossos ouvidos. O meu irmão, valentão, valentão! Então? E eu olhava para a casa amarela. Esperando ver surgir um velho que ainda não tivesse morrido mandar-nos para casa a tremer, só de olharmos para ele e ele para nós. Quem seria o valentão?
Assim que me levantei a casa serenou um pouco, não é nada, só uma casa. Anda. Mas eu sabia que nunca tinha ouvido silêncio assim. Fiz o percurso sem nunca me virar para trás, mas eu sabia que os outros nunca me haviam dirigido olhar assim. Assim. A casa sabia. Era um amarelo antigo, branca junto às janelas e à porta vermelha. Havia uma espécie de relvado natural em frente, de erva fininha e rara, não muito curta, verde claro. Mais rara ainda à volta da figueira para onde me dirigi, junto ao muro do lado Sul. O chão muito liso, pisa e deixa rasto. O cheiro da figueira vinha com cada inspiração, tronco, ramos e folhas. Espantei-me com o monte de lenha nova debaixo da árvore. E porque diabo, rapaz?
Agia como um condenado à morte debaixo daquela figueira. Subi para o monte de lenha e lancei-me às ramadas sem olhar para trás nem parar para pensar. Até ficar de pé em cima do muro Sul. Do pátio antigo da casa amarela. Parei para respirar. Para escutar o coração. Para pensar. Ainda sem olhar para trás. Quem está aí?
Decidi fugir mas não o fiz. Desci para o interior do pátio sem saber como. Depois de habituados à escuridão, os meus olhas começaram a ver onde o velho tinha o poço, zzzzpaafff, e o caminho que levava para a adega, e onde guardava os animais. Tudo sossegado e arrumado, como deve ser. Como pode ser? Sem sair do lugar tinha visto quase tudo, só havia aquela porta vazia para a casa amarela, como se nunca tivesse tido porta, como se velhos estivessem sempre a sair, que crescia quando a ignorava, que chamava o meu olhar, como agora. Assim.
Como agora.
Wednesday, November 4, 2009
Lanterna mágica
Não tragais borzeguins pretos