Saturday, October 31, 2009

Ouvindo conversas, lendo fragmentos, observando sinais


Lance-se a vista por esse Portugal todo, e suas colónias, olhe-se bem, para os immensos recursos que de todas as partes a Providencia nos prodigalisou: veja-se o despreso que de tudo isto fazemos — e diga-se, se era tal terra para tal gente, ou tal gente para tal terra: não fazemos caso de nenhuma d'estas fontes de salvação, de vida, de riqueza e de opulencia: — de dia para dia e de hora para hora nos deixamos indolentemente ir rolando pela escarpa do precipicio, tendo tantos ramos onde nos apegar; tendo caminhos patentes e faceis para tornar a subir; tendo até asas para voar ás maiores e mais deliciosas alturas: a epigraphe, que prepuzemos, é uma carapuça que se enterra até ás orelhas nas nossas parvas e ruins cabeças.



(Revista Universal Universal Lisbonense, 17 Julho 1844)


Friday, October 23, 2009

Nova pigmentação de dentro para fora em vermelho vermelho I


                          




(Últimas vindimas no Vale Interior há cerca de uma semana)

Monday, October 19, 2009

Crónica da Madeira


Talvez esperando aprender alguma coisa com um exemplar raro na fauna portuguesa, salvo seja, decidi-me a fazer umas merecidas férias na Ilha da Madeira, após mais uma sempre desgastante campanha eleitoral. Então não é aqui que reina o maior «dinossauro» da vida política portuguesa? Eu nem me importo que alguns digam que eu já sou também um dinossauro da política de Eiras de Sabaio. Para mim só uma coisa conta no meio de tudo o que se diz: a nossa equipa mais uma vez saiu ganhadora, apresenta-se com o mesmo entusiasmo de sempre, aliando experiência e verdadeira juventude de espírito. E mais, até acho os dinossauros simpáticos comparados com outros répteis. Há uns de baixo perfil e língua um pouco mais afiada, que já na pré-história deviam andar aos esses para a esquerda e para a direita, tentando fazer pela vida. Mas com certeza não era qualquer dinossauro de passo calmo e certo que lhes ia dar atenção. Cada um sabe de si, e as campanhas eleitorais são o que são.
Devem ter reparado que durante o período de campanha não publiquei nada neste blog, que não se destina a fazer política. Poderia dar azo a duplas interpretações. Mas os eirenses sabem distinguir as reflexões de um cidadão como outro qualquer da instrumentalização política e, por isso, não entrando directamente no campo político-partidário, mas preferindo apenas partilhar algumas ideias e sentimentos referentes à minha actividade, mais no campo das curiosidades até, sinto-me agora com outra liberdade para falar.
A minha mulher foi mais uma vez às compras e como eu já tenho a minha conta em vinhos e licores e não estou para andar atrás de rendas e aos bordados resolvi vir para o espaço Internet do hotel, precisamente para dar conta de algumas notas pessoais que venho remoendo. É muito saudável sair do nosso reduto para reflectir e partilhar à distância com os conterrâneos, deixando assentar a poeira, arejar as ideias. Desde já, como não o fiz ainda, aproveito para saudar desde esta belíssima ilha os amigos de Eiras e de todo o Vale, ou de qualquer ponto de onde nos leiam. Por aqui, as férias estão magníficas.
Então e que assuntos me trazem junto aos computadores para me retirar da convivência com os «souvenirs» locais feitos na China (nem todos, nem todos)? São apenas espuma, mas como mos lançaram no período eleitoral em jeito de amigável provocação, aproveito a ocasião para me explicar, como quem dá seguimento à paródia. O primeiro até vem em linha com a famosa questão dos dinossauros, que serviu de introdução à crónica. Mas desta vez em formato amigável, para variar, porque essa parte não interessa e já está arrumada, visto que, como sabeis, só agora mais recentemente, e pouco amigavelmente, é que quiseram colar-me essa e alcunhar-me de fóssil.
A verdade é que já de há muito a minha «alcunha» é Presidente da Junta, só. Podem dizer o que quiserem, mas toda a gente me trata assim. Dentro e fora da freguesia, sem eu pedir nada. Aposto que se na região perguntarem pelo meu nome, Francisco Aires Marchante, muitos não saberão informar quem é. Para ter resposta unânime e sem dúvidas só têm duas hipóteses: ou o «Aires da Junta» ou pelo «Presidente da Junta». Deste modo, acho que estou baptizado. Para os que, mesmo adversários, nomeadamente de maior elevação e companheirismo, vinham ao meu encontro brincando com o que aconteceria caso perdesse as eleições, eu digo do mesmo modo, mas alto e bom som: além de não perder as eleições (mas isso é o que menos conta, entre democratas) já estou baptizado, e consagrado! Ouçam esta: o Zé Padeiro não deixou de ser o Zé Padeiro depois da reforma! E já não vende pão nem broa (sincero abraço para ele).
O outro assunto que não me preocupa, apenas me interessa como cidadão, mas que não saiu da boca de muita gente foi a grande afluência de gente nestas eleições e a perda de votos da nossa lista. Fala-se em vontade de mudança, e eu concordo. Sou o primeiro a achar que devem aparecer boas propostas alternativas, gente nova que queira trabalhar. E temos todos a agradecer quando se concretizar. Nessa altura é que tiro umas boas férias. Em vez de ir embora já amanhã até ficava mais uma semana ou duas! Nas eleições da passada semana, se posso adiantar alguma coisa, acho que muita gente estava indecisa, devido a uma campanha de desinformação que ficou patente, e depois agravou-se com um percalço que houve. Eu fui votar por volta das 15h. De facto estava muita gente, por causa das eleições e devido à festa de Santo André. Quer a sede da Junta quer a Igreja estão colocadas no centro da futura Vila, por razões históricas. E é aí que temos menos estacionamento. Não é fácil mexer de um dia para o outro nesta situação. Só há um sítio onde se pode criar mais estacionamentos junto à Junta, mas a Câmara não tem atendido aos nossos muitos ofícios enviados, e há também problemas com as autorizações e os donos do terreno. Vi muita gente aborrecida a circular longos minutos sem conseguir estacionar o carro para exercer o direito de voto. Estas coisas são mesmo assim e chegou-se a gerar alguma confusão. Foi o percalço, digamos assim. Na altura não quis estar a esclarecer as pessoas porque tinha falado do problema na campanha, e achei que não era ali o momento. Agora posso fazer também um pouco de analista e revelar que estou convencido que isto, entre outras coisas, fez com que muitos eleitores se decidissem a alterar o seu voto à boca da urna, o que é compreensível.
Mesmo assim ganhámos. Independentemente disso, se perdessemos para mim tudo seguiria na mesma, de acordo com a estima, a elevação e o respeito que a freguesia e o seu povo merecem, aceitando democraticamente e com gratidão o resultado da votação. Se alguma coisa me preocupa não são os resultados. De certeza.
Eram estas palavras de compreensão e de amizade, para aqueles que as merecem e que dela são capazes, que eu gostava de deixar à boa gente de Eiras de Sabaio e sobretudo aos muitos amigos e demais leitores deste blog, alguns dos quais me acompanharam na campanha e não tiveram ainda conhecimento disto.

Thursday, October 15, 2009

Fosso de orquestra

(caricaturas sonoras)

Santana Lopes - órgão




                                                        







                                                        

Monday, October 12, 2009

A seda entre nós - I


              Uma das coisas que claramente falta na nossa região é um centro para manter viva a secular tradição da produção da seda, que foi o orgulho e, em tempos, uma das principais fontes de riqueza do Vale. A seda é nem mais nem menos do que uma das mais excelentes e altivas matérias-primas que a Natureza pode conceder ao Homem, mediante as mãos sábias de artesãos e artesãs e o saber apurado dos mestres sericultores. Como muitas das melhores coisas, surge de onde menos se espera – o bicho-da-seda, uma feia lagarta – e só isso seria motivo para olharmos mais atentamente para este material que suscitou durante séculos ou milénios o comércio entre algumas das mais remotas e afastadas regiões do mundo, ateou cobiças de conquistadores e exploradores, atiçou roubos, logro, pirataria e guerras.
              São muitos os saberes envolvidos na sua produção, desde os cuidados com as amoreiras, de cujas folhas a larva se alimenta, passando pela selecção, criação e manejo do bicho-da-seda até à manufactura propriamente dita.
              De tudo isto há ainda memórias no Vale, tudo isto foi uma realidade da nossa região. Algumas amoreiras ainda se podem por cá encontrar. Era importante que se cuidasse deste património, quer na forma de registos, livros, estudos (existem alguns, antigos, que convinha que as entidades competentes salvaguardassem), passando depois para um eventual núcleo museológico e idealmente por um centro activo que não só preservasse o património como também lhe desse nova vida. Isto possibilitaria uma presença reduzida mas contínua das actividades serícolas, algum ganho a pequenos produtores e artesãos, que contribuiriam com o seu trabalho de diversas formas: integrados no próprio centro, vendendo produtos, participando em feiras e certames, etc. Há já municípios a apostar nestas iniciativas. As novas gerações têm o direito de entrar em contacto com a sua identidade. Além disso, a própria União Europeia pretende elevar a produção e depender menos de exportações de países como a China, segundo creio. Em geral não sou favorável à política de subsídios de Bruxelas, que tem sido daninha para a nossa agricultura, mas não me oponho a apoios que visem lançar, ou relançar, uma produção que merece ser estimulada, como é o caso. Receber para não produzir é que não.
              Oportunamente voltarei a este tema.

Saturday, October 3, 2009

Omelete de queijo


Eu e as artes culinárias somos uma história! Depois de uma introdução que queria leve e colorida, a ver se sai, uma receita que já fiz. E saiu e bem. É uma omelete muito boa e pouco calórica. Cozinhar é daquelas actividades que nos fazem aguçar devidamente os sentidos. Das poucas, porque vivemos em ambientes artificiais. A plena realização sensorial dos indivíduos é um direito (e uma responsabilidade). Há estudos que indicam que nos países desenvolvidos as pessoas estão a perder a capacidade de identificar correctamente as cores porque não correm risco de vida se por exemplo escolherem um fruto errado no supermercado, o que contraria uma necessidade evolutiva (de distinguir entre frutos perigosos e comestíveis, verdes e maduros, etc.). Ou então, Eva é uma história diferente, comeu a maçã porque quis. Fez muito bem, estava madurinha, era uma questão de plena realização sensorial. Um direito. Uma responsabilidade não, não faz sentido, não se aplica, porque a serpente é que era venenosa e não a maçã, e o Paraíso era como os supermercados.

Os índios ouviam as correrias dos búfalos encostando a orelha ao chão. Os bosquímanos do Kalahari distinguem o rasto de um animal ferido entre as centenas de pegadas de uma manada em movimento e fazem omeletes gigantescas com ovos de avestruz.

Ora, se fizermos uma omelete de queijo quase sem as gemas aguçamos os sentidos e ela fica menos calórica. Pode levar por exemplo
três claras,
uma gema ou menos,
um queijo de cabra ou menos,
salsa e alho.
Num prato, vai ao micro-ondas, porque é para cromos e fica menos calórica.
As claras dos ovos são bastante pouco calóricas.
Ainda não sei o que se faz às gemas.
O cão é que me resolveu o problema.
Quem quiser pode aprender a fazer bolos para dar a um pobre ou a uma pessoa amiga que já seja gorda.

É espantoso como uma comidita tão despretensiosa pode ser assim de apaladada. Eu sei que isto parece tudo feito meio à bacalhau… mas se é bom! Vá-se experimentando nos ingredientes, que eu também não os sei bem ao certo, mas um queijo (individual) para três claras não deve estar mal. Mais vale excedermo-nos na salsa do que no alho, para o meu gosto ao menos, mas é como digo, é tudo uma questão de bom senso.

Outras dicas:
Doces vegetarianos – são bons e engordam na mesma;
Raparigas vegetarianas muito bonitas – há;
Yoga – dá menos fome do que fazer exercício;