Monday, December 28, 2009

Yoani merecia outra coisa


Faz hoje uma semana foi dia de entrega das avaliações na minha escola. De véspera preenchi de cor vinte e dois cabeçalhos com nomes completos e depois, por baixo, as minhas bem intencionadas observações sobre aproveitamento e comportamento. Já sei que no próximo período devo contar com vinte e uma fichas apenas: os pais da Yoani (não é obviamente o seu verdadeiro nome) «têm que ir trabalhar para a Suiça». Fazem as malas nos primeiros dias de Janeiro.
Por várias razões esta notícia tem ocupado parte dos meus pensamentos. Uma delas é andar a antecipar já a ausência de Yoani e a estranheza que sentirei ao não a ver sentada no seu lugar. Decorreram alguns dias até me aperceber que esta minha pequena angústia não tem comparação com todas as que ela poderá sentir: quase tudo será de diferente na sua vida daqui para a frente: escola nova, colegas novos, professores novos, língua e países novos, por exemplo. Claro que também existirão coisas positivas, novas experiências a que de, outro modo, Yoani não teria acesso. Acontece que os seus pais não tomaram a opção de ir viver noutro país para lhe proporcionar o contacto com novas realidades, nem por apreciarem particularmente algum aspecto da cultura desse país. Nem sequer se trata de deixar uma carreira em Portugal para aproveitar uma oportunidade melhor. O que me preocupa verdadeiramente é saber que este é apenas mais um caso de uma família cujo país - o nosso - não consegue sustentar.
Não devíamos nós por esta altura ter deixado de enviar uma tão grande fatia de cada nova geração «para a Alemanha», «para a Espanha», ou «para a França», enfim, «lá para fora»?
Muitos dos colegas de Yoani passam meses sem ver o pai (ou pai e mãe, por vezes), separados da família para não a obrigar a ela a separar-se de tudo o resto. Podemos continuar a viver assim - ou antes, a sobreviver assim - mas isso será não só um sintoma como também uma causa do nosso atraso. Avançámos aparentemente muito em pouco tempo (o que é que isso significa é outra história; digamos que é o opsto de 'atrasar'!) mas há um atraso que permanece, que não soubemos ultrapassar e se manifesta às primeiras dificuldades. E que, infelizmente, deixaremos como legado a Yoani e a todos os colegas que já para a semana se voltam a sentar nos respectivos lugares.

Sunday, December 13, 2009

Vida animal

O meu cão à noite uiva. E ele ladra de dia quando não está a comer ou a chover. Mas estava mesmo agora a tentar adormecer, eu, e ele a ladrar sem descanso. É um cão que até ladra a qualquer hora, uiva muito também, dá ainda mais pena, à noite, parece uma pessoa. Aliás, dá nervos, uma fúria enorme. Quem me dera que começasse a chover para ele calar a matraca. Dou cem euros a quem ficar com o parvalhão, o mail é jbailica@gmail.com. É pequeno e não uiva de dia. Eu vou ao quintal. O canito ladra muito. Ele late-que-late que eu sei lá. Eu vou para o sofá. O cão é mau. O menino está chateado. Não posso sair de bicicleta. Nem chegar de carro. Nem urinar atrás de uma árvore ali perto. Para ir à quinta faço um desvio. Ladra sempre que me advinha, ou late ou cainha. É muito fino, quando os gatos fazem aqueles barulhos em Janeiro ele já os faz há muito tempo, penso que seja, aquele gatinhar, só se é alguém. Há aquela gente que gosta de vozear à noite e ele responde, logo, atira-se ao ar. Retruca. Eu pelo menos acordo de facto muitas vezes com o que me parece ser isso, uma artilharia totalmente desvairada que maluca, o malucão, resposta a vozes ou gatos que chego a pensar que ouço um pouco antes, não sei, se calhar é ele que faz tudo, de intruso e de cão de guarda zangado. Os gatos fazem mesmo lembrar uma pessoa aflita, e ele também sabe fazer isso em qualquer mês, isso e tudo menos estar calado, só se é alguém. É muito expressivo. É óptimo a fugir de qualquer lugar. Gosta muito de passear. Tem auto-estima e bom pêlo, principalmente quando está um dia bonito. Ao princípio íamos devagar porque ele corria para todos os lados ao mesmo tempo e nunca chegava a afastar-se por inteiro. Nem um pêlo me obedecia. Chamava-o e ele não vinha e então eu corria atrás dele e atirava-lhe pedras até ele parar. É muito mansinho. Fazia-lhe festas na barriga. Então achei que era melhor usar uma trela e comprei uma gira. Atrelado já não dava para eu ir devagar, que ia preso. Chegávamos a uma zona mais isolada e soltava-o durante meia hora, o resto era ele que não aparecia no lugar e hora combinados. Era depois esperar estar acordado quando chegasse na manhã seguinte, a ladrar por causa da fome e porque ele é assim. E por causa da alegria e da ansiedade. Tem todas as intangíveis expressões da condição canina, se calhar. Come de tudo e muitas vezes não há nada que lhe venha bem, ainda não sei qual é a sua ração preferida, os sacos que vou amontoando estão incluídos no preço com que me desfaço do cão e a trela também.

Thursday, December 3, 2009

Lanterna mágica




                                                        

Wednesday, December 2, 2009

Lanterna mágica




                                                        

Thursday, November 26, 2009

Stressado!


Eu pensava que a condição de jovem agricultor tinha uma mística sensacional mas não é tanto assim. Do que é que gosto mais, bom, gosto de andar de tractor, gosto de fazer uma coisa ancestral, gosto de ser um produtor salsa e de outras ervas e de azeitona. No fundo antecipava muitas vezes ver-me fazer coisas especiais, era o antecipar. E aqueles dias em que o meu time ganhou, o meu carro não quebrou e ando por cá sem vir o êxtase de saber que vai tudo em geral correr em bem, já nada é romântico, e eu achava que isso não tinha importância e tem?

O romântico sou eu! Oh! E pensar que me ria das pieguices que via, e afinal era tudo eu! Antes assim ou o raio porque agora posso expressar isso num blog. Foi bom vir aqui expressar. Expressar os meus problemas com a agricultura e o Stressado porque já me estou a sentir melhor.

A agricultura na quinta: se calhar está normal. Eu é que não sabia que ela era como uma chatice como outra qualquer.

O Stressado: o também contabilista chegou-se ao telemóvel ao pé de nós quando estávamos a meio de uma conversa na esplanada. Eu e o Stressado tínhamos combinado encontrarmo-nos lá. Para falar, Stressado! Espera lá que vou agora ligar para ti e já te digo que vou escrever uma postagem sobre esta situação desagradável toda. E então lá ficámos à espera que ele acabasse a conversa. Deixei-os entretanto e vim para casa, mas ele não atende. Ainda deve estar a falar. Já estou a escrever na mesma.

O Stressado é meio contabilista meio baterista, e era para ver a contabilidade da quinta e para combinar o ressurgimento de uma banda que tivemos em miúdos – que o Stressado é que leva a sério, eu é mais ou menos tanto faz. Mas parece que era para não dizer a ninguém.

Agora vou estragar a surpresa, e se são muitos os nossos leitores em Eiras de Sabaio! É bem feito. De qualquer maneira não há grandes movimentos na contabilidade. Deve ser fácil. E com este tempo não se pode andar de tractor.

Entretanto ligo ao Stressado.

Wednesday, November 18, 2009

Casebre amarelado


              


(É no Vale Interior mas a ser amarelo não é uma casa)

Wednesday, November 11, 2009

A casa amarela


Era o anoitecer e os nossos jovens corações agitavam-se. Olhávamo-nos em silêncio, à espera do primeiro movimento. Cinco ou seis. Sentados, a vinte ou trinta metros da casa amarela. Naquele tempo não havia electricidade nas terras. Trevas sobre o abismo para lá dos muros da casa amarela. Veio depois de alguns de nós terem filhos da nossa idade. A luz eram os nossos olhos excitados e os nossos ouvidos. O meu irmão, valentão, valentão! Então? E eu olhava para a casa amarela. Esperando ver surgir um velho que ainda não tivesse morrido mandar-nos para casa a tremer, só de olharmos para ele e ele para nós. Quem seria o valentão?

Assim que me levantei a casa serenou um pouco, não é nada, só uma casa. Anda. Mas eu sabia que nunca tinha ouvido silêncio assim. Fiz o percurso sem nunca me virar para trás, mas eu sabia que os outros nunca me haviam dirigido olhar assim. Assim. A casa sabia. Era um amarelo antigo, branca junto às janelas e à porta vermelha. Havia uma espécie de relvado natural em frente, de erva fininha e rara, não muito curta, verde claro. Mais rara ainda à volta da figueira para onde me dirigi, junto ao muro do lado Sul. O chão muito liso, pisa e deixa rasto. O cheiro da figueira vinha com cada inspiração, tronco, ramos e folhas. Espantei-me com o monte de lenha nova debaixo da árvore. E porque diabo, rapaz?

Agia como um condenado à morte debaixo daquela figueira. Subi para o monte de lenha e lancei-me às ramadas sem olhar para trás nem parar para pensar. Até ficar de pé em cima do muro Sul. Do pátio antigo da casa amarela. Parei para respirar. Para escutar o coração. Para pensar. Ainda sem olhar para trás. Quem está aí?

Decidi fugir mas não o fiz. Desci para o interior do pátio sem saber como. Depois de habituados à escuridão, os meus olhas começaram a ver onde o velho tinha o poço, zzzzpaafff, e o caminho que levava para a adega, e onde guardava os animais. Tudo sossegado e arrumado, como deve ser. Como pode ser? Sem sair do lugar tinha visto quase tudo, só havia aquela porta vazia para a casa amarela, como se nunca tivesse tido porta, como se velhos estivessem sempre a sair, que crescia quando a ignorava, que chamava o meu olhar, como agora. Assim.

Como agora.

Wednesday, November 4, 2009

Lanterna mágica


Não tragais borzeguins pretos





                                                        

Saturday, October 31, 2009

Ouvindo conversas, lendo fragmentos, observando sinais


Lance-se a vista por esse Portugal todo, e suas colónias, olhe-se bem, para os immensos recursos que de todas as partes a Providencia nos prodigalisou: veja-se o despreso que de tudo isto fazemos — e diga-se, se era tal terra para tal gente, ou tal gente para tal terra: não fazemos caso de nenhuma d'estas fontes de salvação, de vida, de riqueza e de opulencia: — de dia para dia e de hora para hora nos deixamos indolentemente ir rolando pela escarpa do precipicio, tendo tantos ramos onde nos apegar; tendo caminhos patentes e faceis para tornar a subir; tendo até asas para voar ás maiores e mais deliciosas alturas: a epigraphe, que prepuzemos, é uma carapuça que se enterra até ás orelhas nas nossas parvas e ruins cabeças.



(Revista Universal Universal Lisbonense, 17 Julho 1844)


Friday, October 23, 2009

Nova pigmentação de dentro para fora em vermelho vermelho I


                          




(Últimas vindimas no Vale Interior há cerca de uma semana)

Monday, October 19, 2009

Crónica da Madeira


Talvez esperando aprender alguma coisa com um exemplar raro na fauna portuguesa, salvo seja, decidi-me a fazer umas merecidas férias na Ilha da Madeira, após mais uma sempre desgastante campanha eleitoral. Então não é aqui que reina o maior «dinossauro» da vida política portuguesa? Eu nem me importo que alguns digam que eu já sou também um dinossauro da política de Eiras de Sabaio. Para mim só uma coisa conta no meio de tudo o que se diz: a nossa equipa mais uma vez saiu ganhadora, apresenta-se com o mesmo entusiasmo de sempre, aliando experiência e verdadeira juventude de espírito. E mais, até acho os dinossauros simpáticos comparados com outros répteis. Há uns de baixo perfil e língua um pouco mais afiada, que já na pré-história deviam andar aos esses para a esquerda e para a direita, tentando fazer pela vida. Mas com certeza não era qualquer dinossauro de passo calmo e certo que lhes ia dar atenção. Cada um sabe de si, e as campanhas eleitorais são o que são.
Devem ter reparado que durante o período de campanha não publiquei nada neste blog, que não se destina a fazer política. Poderia dar azo a duplas interpretações. Mas os eirenses sabem distinguir as reflexões de um cidadão como outro qualquer da instrumentalização política e, por isso, não entrando directamente no campo político-partidário, mas preferindo apenas partilhar algumas ideias e sentimentos referentes à minha actividade, mais no campo das curiosidades até, sinto-me agora com outra liberdade para falar.
A minha mulher foi mais uma vez às compras e como eu já tenho a minha conta em vinhos e licores e não estou para andar atrás de rendas e aos bordados resolvi vir para o espaço Internet do hotel, precisamente para dar conta de algumas notas pessoais que venho remoendo. É muito saudável sair do nosso reduto para reflectir e partilhar à distância com os conterrâneos, deixando assentar a poeira, arejar as ideias. Desde já, como não o fiz ainda, aproveito para saudar desde esta belíssima ilha os amigos de Eiras e de todo o Vale, ou de qualquer ponto de onde nos leiam. Por aqui, as férias estão magníficas.
Então e que assuntos me trazem junto aos computadores para me retirar da convivência com os «souvenirs» locais feitos na China (nem todos, nem todos)? São apenas espuma, mas como mos lançaram no período eleitoral em jeito de amigável provocação, aproveito a ocasião para me explicar, como quem dá seguimento à paródia. O primeiro até vem em linha com a famosa questão dos dinossauros, que serviu de introdução à crónica. Mas desta vez em formato amigável, para variar, porque essa parte não interessa e já está arrumada, visto que, como sabeis, só agora mais recentemente, e pouco amigavelmente, é que quiseram colar-me essa e alcunhar-me de fóssil.
A verdade é que já de há muito a minha «alcunha» é Presidente da Junta, só. Podem dizer o que quiserem, mas toda a gente me trata assim. Dentro e fora da freguesia, sem eu pedir nada. Aposto que se na região perguntarem pelo meu nome, Francisco Aires Marchante, muitos não saberão informar quem é. Para ter resposta unânime e sem dúvidas só têm duas hipóteses: ou o «Aires da Junta» ou pelo «Presidente da Junta». Deste modo, acho que estou baptizado. Para os que, mesmo adversários, nomeadamente de maior elevação e companheirismo, vinham ao meu encontro brincando com o que aconteceria caso perdesse as eleições, eu digo do mesmo modo, mas alto e bom som: além de não perder as eleições (mas isso é o que menos conta, entre democratas) já estou baptizado, e consagrado! Ouçam esta: o Zé Padeiro não deixou de ser o Zé Padeiro depois da reforma! E já não vende pão nem broa (sincero abraço para ele).
O outro assunto que não me preocupa, apenas me interessa como cidadão, mas que não saiu da boca de muita gente foi a grande afluência de gente nestas eleições e a perda de votos da nossa lista. Fala-se em vontade de mudança, e eu concordo. Sou o primeiro a achar que devem aparecer boas propostas alternativas, gente nova que queira trabalhar. E temos todos a agradecer quando se concretizar. Nessa altura é que tiro umas boas férias. Em vez de ir embora já amanhã até ficava mais uma semana ou duas! Nas eleições da passada semana, se posso adiantar alguma coisa, acho que muita gente estava indecisa, devido a uma campanha de desinformação que ficou patente, e depois agravou-se com um percalço que houve. Eu fui votar por volta das 15h. De facto estava muita gente, por causa das eleições e devido à festa de Santo André. Quer a sede da Junta quer a Igreja estão colocadas no centro da futura Vila, por razões históricas. E é aí que temos menos estacionamento. Não é fácil mexer de um dia para o outro nesta situação. Só há um sítio onde se pode criar mais estacionamentos junto à Junta, mas a Câmara não tem atendido aos nossos muitos ofícios enviados, e há também problemas com as autorizações e os donos do terreno. Vi muita gente aborrecida a circular longos minutos sem conseguir estacionar o carro para exercer o direito de voto. Estas coisas são mesmo assim e chegou-se a gerar alguma confusão. Foi o percalço, digamos assim. Na altura não quis estar a esclarecer as pessoas porque tinha falado do problema na campanha, e achei que não era ali o momento. Agora posso fazer também um pouco de analista e revelar que estou convencido que isto, entre outras coisas, fez com que muitos eleitores se decidissem a alterar o seu voto à boca da urna, o que é compreensível.
Mesmo assim ganhámos. Independentemente disso, se perdessemos para mim tudo seguiria na mesma, de acordo com a estima, a elevação e o respeito que a freguesia e o seu povo merecem, aceitando democraticamente e com gratidão o resultado da votação. Se alguma coisa me preocupa não são os resultados. De certeza.
Eram estas palavras de compreensão e de amizade, para aqueles que as merecem e que dela são capazes, que eu gostava de deixar à boa gente de Eiras de Sabaio e sobretudo aos muitos amigos e demais leitores deste blog, alguns dos quais me acompanharam na campanha e não tiveram ainda conhecimento disto.

Thursday, October 15, 2009

Fosso de orquestra

(caricaturas sonoras)

Santana Lopes - órgão




                                                        







                                                        

Monday, October 12, 2009

A seda entre nós - I


              Uma das coisas que claramente falta na nossa região é um centro para manter viva a secular tradição da produção da seda, que foi o orgulho e, em tempos, uma das principais fontes de riqueza do Vale. A seda é nem mais nem menos do que uma das mais excelentes e altivas matérias-primas que a Natureza pode conceder ao Homem, mediante as mãos sábias de artesãos e artesãs e o saber apurado dos mestres sericultores. Como muitas das melhores coisas, surge de onde menos se espera – o bicho-da-seda, uma feia lagarta – e só isso seria motivo para olharmos mais atentamente para este material que suscitou durante séculos ou milénios o comércio entre algumas das mais remotas e afastadas regiões do mundo, ateou cobiças de conquistadores e exploradores, atiçou roubos, logro, pirataria e guerras.
              São muitos os saberes envolvidos na sua produção, desde os cuidados com as amoreiras, de cujas folhas a larva se alimenta, passando pela selecção, criação e manejo do bicho-da-seda até à manufactura propriamente dita.
              De tudo isto há ainda memórias no Vale, tudo isto foi uma realidade da nossa região. Algumas amoreiras ainda se podem por cá encontrar. Era importante que se cuidasse deste património, quer na forma de registos, livros, estudos (existem alguns, antigos, que convinha que as entidades competentes salvaguardassem), passando depois para um eventual núcleo museológico e idealmente por um centro activo que não só preservasse o património como também lhe desse nova vida. Isto possibilitaria uma presença reduzida mas contínua das actividades serícolas, algum ganho a pequenos produtores e artesãos, que contribuiriam com o seu trabalho de diversas formas: integrados no próprio centro, vendendo produtos, participando em feiras e certames, etc. Há já municípios a apostar nestas iniciativas. As novas gerações têm o direito de entrar em contacto com a sua identidade. Além disso, a própria União Europeia pretende elevar a produção e depender menos de exportações de países como a China, segundo creio. Em geral não sou favorável à política de subsídios de Bruxelas, que tem sido daninha para a nossa agricultura, mas não me oponho a apoios que visem lançar, ou relançar, uma produção que merece ser estimulada, como é o caso. Receber para não produzir é que não.
              Oportunamente voltarei a este tema.

Saturday, October 3, 2009

Omelete de queijo


Eu e as artes culinárias somos uma história! Depois de uma introdução que queria leve e colorida, a ver se sai, uma receita que já fiz. E saiu e bem. É uma omelete muito boa e pouco calórica. Cozinhar é daquelas actividades que nos fazem aguçar devidamente os sentidos. Das poucas, porque vivemos em ambientes artificiais. A plena realização sensorial dos indivíduos é um direito (e uma responsabilidade). Há estudos que indicam que nos países desenvolvidos as pessoas estão a perder a capacidade de identificar correctamente as cores porque não correm risco de vida se por exemplo escolherem um fruto errado no supermercado, o que contraria uma necessidade evolutiva (de distinguir entre frutos perigosos e comestíveis, verdes e maduros, etc.). Ou então, Eva é uma história diferente, comeu a maçã porque quis. Fez muito bem, estava madurinha, era uma questão de plena realização sensorial. Um direito. Uma responsabilidade não, não faz sentido, não se aplica, porque a serpente é que era venenosa e não a maçã, e o Paraíso era como os supermercados.

Os índios ouviam as correrias dos búfalos encostando a orelha ao chão. Os bosquímanos do Kalahari distinguem o rasto de um animal ferido entre as centenas de pegadas de uma manada em movimento e fazem omeletes gigantescas com ovos de avestruz.

Ora, se fizermos uma omelete de queijo quase sem as gemas aguçamos os sentidos e ela fica menos calórica. Pode levar por exemplo
três claras,
uma gema ou menos,
um queijo de cabra ou menos,
salsa e alho.
Num prato, vai ao micro-ondas, porque é para cromos e fica menos calórica.
As claras dos ovos são bastante pouco calóricas.
Ainda não sei o que se faz às gemas.
O cão é que me resolveu o problema.
Quem quiser pode aprender a fazer bolos para dar a um pobre ou a uma pessoa amiga que já seja gorda.

É espantoso como uma comidita tão despretensiosa pode ser assim de apaladada. Eu sei que isto parece tudo feito meio à bacalhau… mas se é bom! Vá-se experimentando nos ingredientes, que eu também não os sei bem ao certo, mas um queijo (individual) para três claras não deve estar mal. Mais vale excedermo-nos na salsa do que no alho, para o meu gosto ao menos, mas é como digo, é tudo uma questão de bom senso.

Outras dicas:
Doces vegetarianos – são bons e engordam na mesma;
Raparigas vegetarianas muito bonitas – há;
Yoga – dá menos fome do que fazer exercício;

Tuesday, September 29, 2009

Interior nosso


Sobre este seríssimo assunto de estarmos aqui a morrer aos poucos no Interior, penso sinceramente que havemos de sair mais fortalecidos no final das contas, se não desvanecermos de todo antes. Há caminhos que vão sendo feitos, há gente boa a trabalhar, há sinais de uma nova confiança e ambição. Não é ingenuidade, não se trata de optimismo vazio, é apenas a minha percepção de que existe um certo despertar de almas. Não sei é se vem a tempo. Porque o risco de o Interior morrer de facto, ou ficar moribundo durante décadas, é real, se as coisas não mudarem definitivamente de rumo. Pode ser que a tomada de consciência destes riscos seja o derradeiro estímulo para o início de uma transformação. Pode ser.

O desequilíbrio entre Interior e Litoral é coisa de séculos. A localização da maior parte dos grandes centros na zona Litoral era já um convite à saída para o mar (se pensarmos na razão de ser dessa localização recuaremos milénios e não séculos). E então fizemo-nos ao mar. O Litoral ganhou definitivamente grande importância em tudo, enquanto boa parte do nosso Interior começava a ser esquecido. Talvez fosse inevitável. Em todo o caso, o Interior continuava a encontrar ainda nas actividades mais tradicionais uma vitalidade própria. Só muito mais tarde a situação se degradou a sério, com o despontar de actividades como a indústria e os serviços, muito mais dependentes da tecnologia e do conhecimento. Por efeitos da inércia e de falta de visão política, essas actividades concentraram-se predominantemente no Litoral (para não falar do que se passava noutras paragens, noutros países).

O esvaziamento de muitas regiões do país foi avassalador, no último meio século. De há algum tempo a esta parte tem sido tema de discussão a nível nacional. Muito se tem discutido, de resto. Talvez demais. Nós próprios, ‘interioranos’, nos perdemos às vezes em análises de todo o género, no estudo das opções estratégicas e afins. Não digo que isso não tenha importância nenhuma, mas o que não podemos é esquecemo-nos de caminhar, de fazer coisas, de experimentar. Já todos temos consciência dos problemas que defrontamos. Já se fizeram mais que muitos diagnósticos. Pessoalmente dou apenas uma importância relativa a discussões em volta de temas como a distinção entre o que cabe fazer às autarquias e o que é que cabe ao governo; ou saber se essas autarquias devem ou não conciliar estratégias entre si; ou se é melhor apoiar as empresas que queiram investir na região ou tentar atrair pessoas através de benefícios vários; ou ainda perceber se a melhor aposta está no turismo ou se por outro lado não podemos passar sem alguma indústria. Experimente-se: o que resultar é bom.

Eu não sou exemplo, uma vez que me limito a ‘palpitar’ umas ideias, em vez de fazer. Em todo o caso, palpito também que se não fizerem bem, as ideias, também não hão-de fazer mal, não é por aqui que se perde o fio à meada. Aliás, aqueles que parecem querer olhar de novo para o Interior como lugar de oportunidade e esperança depois de derramadas todas as lágrimas pelo quase tudo que se perdeu – dos quais falei no início (e de que tentarei dar exemplos noutras oportunidades) – não actuam primordialmente em função das muitas leituras que se vão fazendo.


Depois de uma catástrofe séria numa área natural, as formas de vida mais simples encarregam-se aos poucos de ocupar o espaço vazio. E atrás desses primeiros rebentos vêm outros, de raízes mais fundas. Nem todos vingam, mas a Natureza não desiste. Mais cedo ou mais tarde, tudo estará recomposto.

Gostava que esta metáfora viesse a aplicar-se ao Interior. A parte da catástrofe já está.

Thursday, September 24, 2009

Monday, September 21, 2009

Tenho de encontrar alguma coisa


Tenho de encontrar alguma coisa. Tenho de encontrar alguma coisa. Tenho de encontrar alguma coisa. Tenho de encontrar alguma coisa. Tenho de encontrar alguma coisa. Tenho de encontrar alguma coisa. Tenho de encontrar alguma coisa. Tenho de encontrar alguma coisa. Tenho de encontrar alguma coisa. Tenho de encontrar alguma coisa. Tenho de encontrar alguma coisa. Tenho de encontrar alguma coisa. Tenho de encontrar alguma coisa. Tenho de encontrar alguma coisa. Tenho de encontrar alguma coisa. Tenho de encontrar alguma coisa. Tenho de encontrar alguma coisa. Tenho de encontrar alguma coisa. Tenho de encontrar alguma coisa. Tenho de encontrar alguma coisa. Tenho de encontrar alguma coisa. Tenho de encontrar alguma coisa. Tenho de encontrar alguma coisa. Tenho de encontrar alguma coisa. Tenho de encontrar alguma coisa. Tenho de encontrar alguma coisa. Tenho de encontrar alguma coisa. Tenho de encontrar alguma coisa. Tenho de encontrar alguma coisa. Tenho de encontrar alguma coisa. Tenho de encontrar alguma coisa. Tenho de encontrar alguma coisa. Tenho de encontrar alguma coisa.




























Tenho de encontrar alguma coisa





































Optimismo!
























É isso













Thursday, September 17, 2009

Ouvindo conversas, lendo fragmentos, observando sinais


Assim também eu criava colhões!




(Homem gritando do lugar do passageiro de uma viatura que abrandou a sua marcha e se abeirou de outro, aparentemente conhecido do primeiro, e que, imóvel, ensimesmado e de boné na cabeça, se encontrava sentado num banco de jardim, a apanhar o sol da tarde de braços e pernas afastados; hoje, praça central de Eiras de Sabaio)

Monday, September 14, 2009

O mal-da -terra


...A emigrazon y ó Rey, arrebatanlles de continuo,
o amante, o hirman, o seu home, sosten dá familia
de cote numerosa, e asi, abandonadas, chorando o
seu desamparo, pasan a amarga vida ant'ras incer-
tidumbres d'a esperanza, á negrura d'a soidade y
as angustias d'un-ha perene miseria. Y o mais des-
consolador par' élas, e, que os seus homes vans' in-
do todos, uns por que ll'os levan y outros porque o
exempro, as necesidades, âs veces un-ha cobiza,
anque disculpabre, cêga, fannos fuxir d'o lar queri-
do, d'aquela á quen amaron, d'a esposa xá nay e
dos numerosos fillos...


(Rosalia Castro de Murguía)

Thursday, September 10, 2009

Baunilha e chocolate - que humanidade é esta?


Há agora umas sobremesas muito boas de baunilha e chocolate no Minipreço de Romaride. Onde vou às vezes. E há agora crianças neste país que são uns príncipes birrentos e chorões. Eu também lá vou por causa das refeições congeladas, não como só baunilha e chocolate. As crianças é que não, querem tudo o que lhes apetece aos berros. A mim apeteceu-me há dias dar uma bolachona a uma, mas sou responsável e não estive para a estragar com mimos, se fosse à mãe comprava-lhe hortaliça para ficar forte em vez de chupas, como sou eu comprei pão caseiro para mim.

Mas gosto suficientemente de crianças para olhar às vezes para mulheres como quem admite arriscar-se a engravidá-las um pouco, bem aí umas quatro ou cinco delas faço-lhes isso entre ir e não vir do supermercado, de semana. Se for ao Modelo na sede de concelho talvez cheguem às trinta. Acho isto normal. Sete ou oito vezes por mês em média, durante dez anos, e pode acabar por me aparecer uma de tal maneira que me convença a ir às compras com uma criança, só que das nossas (a não ser que seja só para dar beijinhos), em todo o caso depois senta-se à mesa e não toca em sobremesa nenhuma enquanto não comer a sopa de feijão verde.

Agora apenas indo eu ainda a caminho do Minipreço tive foi e de que maneira uma vontade cega de matar um velho que entrou de repente de mota a seguir à curva da Cardosa.

Ao todo, de casa a Romaride e de Romaride a casa, acho que me cruzei com umas dezasseis pessoas, e catorze nem olharam para mim (saberiam de alguma coisa?, foi, foi, que eu deixo transparecer tudo).

Por fim voltei para casa e acaba já a seguir: as sobremesas estavam fora do prazo, a rapariga da caixa fora uma das que olhara para mim mas havia sido gorda e mal-encarada, e eu não sei fazer sopa de feijão verde. Ora bem, estando a gente em Eiras de Sabaio, não haverá por perto, eirenses, um pequeno comércio tradicional onde as crianças vão sozinhas buscar o pimentão que falta às mães e a gente encontra alguém que tem a saúde de espírito necessária para saber fazer uma sobremesa a sério (as do Minipreço também as há de caramelo e não são piores)?

Monday, September 7, 2009

Thursday, September 3, 2009

Entrevistas a pessoas da nossa terra

A Maria João não é natural do Vale Interior, nasceu em Lisboa e aí viveu até se ter mudado para cá, há cerca de cinco anos. Deixou a profissão, Educadora de Infância, e abriu um pequeno negócio em Eiras de Sabaio. Onde tem aproveitado a oportunidade de desenvolver as suas capacidades pessoais em diversas áreas. Com ela, podemos aprender a ter perspectivas diferentes sobre o Vale.


Filipa – Depois de ter passado estes últimos cinco anos no Vale Interior de certeza que já o conhece bem. O que é que a região lhe diz de especial? Já se sente plenamente integrada?
Mª João –
Sim, se não somos já carne e unha anda lá perto. Mas isto é uma iniciação, o conhecimento nunca tem fim. Nestes quase cinco anos já fiz, se quiseres, o 1º ciclo. Sei o básico. Passava no exame – com boa nota, quem sabe! Pelo menos tenho-me esforçado. Penso que me senti integrado logo desde o início. Cada vez mais, claro.

Filipa – Como era a sua vida em Lisboa?
Mª João –
Agitada, corre-se muito e não se sai do lugar. Sempre a mesma coisa durante… muito tempo. Sempre soube que me faltava algo. Mas posso dizer-te do que é que eu gostava, também: de ir ver bailado, moderno e clássico, sou uma louca; dos santos populares; dos elevadores; de contemplar o rio. Há muitas coisas fantásticas. Lisboa é um sítio interessante para visitar, para questionares os teus equilíbrios, porque ao mesmo tempo tens a energia e a melancolia. É super confusa, acidentada, e depois as pessoas foram construindo tudo em camadas. Ao longo da história, foi-se construindo. Não tem uma força estável, uma ordem, não é? A própria terra me dá razão, de vez em quando, dá uns abanõezitos. Por isso, é bom para libertares as tensões internas. Eu vou lá quando sinto que preciso de baralhar e dar de novo. Mas depois afasto-me. É bom para visitar, mas para viver para mim não.

Filipa – Foi por isso que veio para o Vale Interior? Veio à procura de paz?
Mª João –
Pode dizer-se que sim. Os lugares é a gente que os faz, acredito nisso. Mas para isso eles têm realmente de nos dizer alguma coisa também, como dizias muito bem.

Filipa – E o que é que o Vale lhe diz? Acha que as pessoas que são de cá também podem ouvir?
Mª João –
É quase impossível explicar por palavras. Toda a Terra te pode acolher, não é? Ou melhor, toda a Terra pode acolher pessoas, toda a Terra pode acolher gente! Só que nem todos os lugares são iguais para toda a gente. Depende também da sensibilidade e do momento, do desenvolvimento pessoal. Muitas pessoas não sabem traduzir isto. Muitas vezes as pessoas dizem ‘não gosto deste sítio’, mas não sabem dizer, ou não percebem porquê. Pode ser por causa da paisagem, do ambiente, e elas podem dizer isso. Mas muitas vezes não percebem que o lugar lhes está a comunicar através de sinais ao seu… interior, vamos lá, ao seu ser mais profundo, que é próprio de cada pessoa. São sinais, são… coisas que as pessoas não sabem traduzir, não aprenderam a descodificar. E então dizem que não se sentem bem, ou que não gostam deste lugar, ou daquele lugar, isso ouve-se muito.

Filipa – E quais são esses sinais aqui no Vale Interior?
Mª João –
Pronto, para mim há alguns pontos de referência específicos e há também uma atmosfera, como uma personalidade deste lugar. Em Lisboa também há, por exemplo falei-te na energia e melancolia, aqui há uma energia… – ah, mas em Lisboa é uma energia mais caótica, mais tensa – aqui é uma energia mais de ligação. O vale acolhe, tem uma alma forte, mas não prende. Tem espaço, os cumes estão afastados e têm uma inclinação suave. E isso nota-se em tudo, nas plantas, nas árvores, até nas pessoas. É concêntrico mas tem por onde libertar a carga que acumula. Tem por exemplo o rio, um canal que atravessa este prato todo e comunica para além dele. Eu às vezes imagino que é uma espécie de disco, como os pratos de uma antena parabólica. É um emissor que liga a energia proveniente, não sei, do espaço, de tudo o que flutua na atmosfera, e a recolhe para a terra. Ao memo tempo acumula e o prato faz de reflector para um determinado ponto no espaço. Faz uma ligação nos dois sentidos. E é isso que eu sinto de especial. Tem mais a ver com o nosso mapa interno, com o nosso íntimo. Agora, cada um faz a sua leitura. Não tem nada de extraordinário, toda a gente sente estas coisas, só que nem todos param para pensar e sentir. Eu às vezes sinto esta ligação de uma maneira… muito forte mesmo. Não tem explicação, mesmo que te quisesse dizer… às vezes sinto a energia a correr através de mim nos dois sentidos, e é como se fosse mãe e filha deste chão que estou a pisar. Já te aconteceu alguma vez?

Filipa – Ainda não.
Mª João –
Também ainda és muito nova, mas hás-de experimentar andar descalça. Sentir o chão.

Filipa – O que é que se pode aprender nas suas visitas guiadas?
Mª João –
Isso é um bom exemplo. Eu acho que uma experiência se deve desenvolver em vários planos, ser a mais rica possível, e depois cada um retira aquilo que está de acordo com os seus interesses e sensibilidade. Por isso eu não me foco em nada de muito específico, mas num todo. O importante é que faça sentido. Há pessoas que vêm e se identificam mais com a paisagem, outras com a gastronomia, enfim, pode ser um passeio turístico como qualquer outro. O contacto com a natureza, andar a cavalo, essas coisas. Depois fazemos na quinta actividades, relacionadas com as artes – aprendem artesanato também, quem quiser. Fazemos diversas técnicas espirituais ou de relaxamento e meditação, aprendemos sobre alimentação, tudo isso. O que é giro é depois incluir tudo numa visita guiada, e isso já depende da época do ano, da disponibilidade de algumas pessoas da região, porque levamos mesmo os visitantes aos locais, mostramos o artesão, ouvimos falar das lendas e das histórias locais. Eu falo normalmente um bocado da minha interpretação espiritual do Vale Interior, baseada na minha experiência e na pesquisa a diversos autores – falo do Rio Sabaio, da Pedra da Salga, da configuração do Vale, os seus montes, as suas grutas, mas também das plantas, das ervas medicinais, que as pessoas recolhem também muitas vezes. Depois fazemos um almoço que inclui produtos da região, podemos aplicar à tarde, por exemplo, algumas técnicas, ou vamos para as artes, num local bonito, ou com determinadas características especiais. Enfim, não há duas visitas iguais.

Sunday, August 30, 2009

Não uma estátua, mas um grande beijo


Enquanto o Ministério da Educação, o Ministério da Saúde e os da Economia e das Finanças (e os outros) andam a brincar aos ministérios, e enquanto grande número de instituições e entidades andam a brincar às instituições e às entidades, o país conta com uma quinta coluna que miraculosamente o vai aguentando. Chamam-se as avós.

E chamam-se os avôs, e as tias, e os vizinhos e todos nós. A Nação agradece o esforço de todos (lá bem no fundo, pois então), e cada um que explique as coisas como entender, mas a verdade é que boa parte das famílias estaria bem mal arranjada, não fosse a ajuda das que já foram mães e agora são também avós. Isto diz muito das avós que temos, mas diz mais ainda do país que temos. Guiadas pela educação ou pelo instinto, o que é certo é que elas já contam com a ajuda que hão-de dar. E nós com ela. É normal. Ou seria, se não tivéssemos passado por uma série de mudanças sociais – desde logo a entrada das mulheres no mercado de trabalho – que, apesar de importantíssimas, trouxeram problemas novos. O país (ou seja, nós) não soube encontrar formas de dar resposta a estas mudanças. Mais fica para a avó: é o preparar, o levar e o trazer as crianças da escola; depois há o cuidar, nas horas livres e na doença – e não só de miúdos; são as refeições para os grandes ajuntamentos familiares e as feitas à pressa para quem aparece sem aviso.

Sabemos que facilmente se encheria uma página com exemplos. Quando tudo o resto falha, só mesmo quem se habituou desde cedo a atender mais a solicitações alheias do que às suas parece ter ainda a disponibilidade e o saber necessários para acudir aos tais problemas novos. Que talvez nem o sejam, se ao fim e ao cabo as solicitações não são muito diferentes das de sempre.

Posso cometer uma injustiça (aliás, a generalização já é uma forma de injustiça), mas para mim a avó é a reserva e ao mesmo tempo o melhor símbolo do nosso património cívico. A morfologia da intuição, aliás, devia poder levar a melhor sobre a semântica dos dicionários, consagrando-se a palavra matrimónio em casos como este. Património ficaria para os monumentos e para os registos de propriedade.

A propósito, não é uma estátua que as avós merecem. É mesmo um grande beijo.

Wednesday, August 26, 2009

Die «heisseste» Hochzeit des Jahres!!!


Heute, am 14. Juli 1990, geben sich die attraktive Manuela und der Kontaktfreudige Ürsel das Ja-Wort.
Manuela (29) und Urs (30) lernten sich vor 3 Jahren(?) kennen. Ein heisser Blick, es funkt, und zwei Herzen brannten lichterloh (118). Von da an war jedem klar, das gibt ein Traumpaar. So ist es geblieben, am 1. Dezember 1989 wurde der Vertrag unterschrieben.

Hoje, 14 de Julho 1990, dào a actractiva Manuela e o bastante sociàvel Urs a palavra-Sim.
Manuela (29) e Urs (30) conheceram se à 3 anos. Um olhar fogoso, e pronto, dois corações ardem em chamas (115). A partir daí era a todos claro, seria um paridem. Assim permaneceu, e em dezembru 1989, foi o contrato assinado.

(de uma edição em formato de jornal, no topo do qual se encontram os dizeres PETRI-HEIL-ZEITUNG , salvo melhor opinião, que no mesmo topo se imprimiu também o desenho de um peixe, a cauda dele vindo a cobrir parte das letras que formam os ditos)

Sunday, August 23, 2009

Wednesday, August 19, 2009

Como


Quais são as boas comidas que há que sejam rápidas de fazer sem trabalho e bem boas, não importa? Imagina, quando tu chegas numa noite e tens aquela necessidade de um petisco especial improvisado para devorar e esquecer. Piiim.

Num prato fundo ou tigela partes uma banana em bocados com uns dois a três centímetros. Juntas pedaços também de queijo. Do frigorífico tiras o leite que havias previamente posto a arrefecer e basta deitar sem mexer nem bater, até sensivelmente cobrir dois terços da altura dos pedaços de banana. Não me lembro agora da quantidade de mel, mas duas colheres de sobremesa não devem ser de mais. Esperas um pouco que o leite adoce e podes juntar canela.

Como é que se equilibra a alimentação? Por exemplo alternar pratos de carne com pratos de peixe, fazes: ao almoço atum (com batatas) e ao jantar salsichas (com esparguete e uma salada). Depois trocas.

Atenção que o mel faz dor de barriga.

Sunday, August 16, 2009

De hoje a oito dias na história


No dia 23 de Agosto de 1939 a Alemanha e a União Soviética assinam o pacto de não agressão, ou pacto Molotov-Ribbentrop, nas vésperas da Segunda Guerra Mundial.

Cada uma das partes esperava na realidade que a outra não interferisse nas suas próprias agressões a terceiros países europeus, no âmbito de uma secreta divisão do território a ocupar por estas duas nações.

A Alemanha acabou por quebrar o acordo ao invadir a União Soviética em 1941.

Molotov e Ribbentrop eram os responsáveis pelas relações externas dos dois países quando o tratado foi assinado.

Molotov, que foi uma das mais relevantes figuras da política soviética durante décadas, não inventou o Coquetail de Molotov, mas o seu nome está de facto ligado a este tipo de arma incendiária, por razões que se podem apurar na Wikipédia.

Ribbentrop foi condenado à morte após a Segunda Guerra Mundial, no Julgamento de Nuremberga.

Thursday, August 13, 2009

Fosso de orquestra

(caricaturas sonoras)

José Sócrates - computador e voz


Tuesday, August 11, 2009

Figuras ligadas ao vale interior

Justino Ferreira Custódio

Nasceu em Lisboa, no dia 31 de Outubro de 1839.
Licenciado em Filosofia pela Universidade de Coimbra e tendo frequentado a Academia Florestal de Tharandt (Alemanha) veio para o Vale Interior em 1866, para fazer a planta cadastral das Matas da Degorra. Em 1879 passou a dirigir a Mata.
Aqui se destacou como insigne Silvicultor e realizou obra incomparável.
Iniciou os Ordenamentos (trabalho que se elabora de 10 em 10 anos e tem por fim todo o desenvolvimento da floresta, dando a conhecer também a sua situação geral), levantou a primeira planta rigorosa, criou a escrituração técnica do Pinhal do Vale da Degorra, procedeu a vários estudos sobre sementeiras e resinagem, mandou construir os primeiros pontos de Vigia contra incêndios, instalou na mata os primeiros postos de meteorologia.
Justino Ferreira Custódio que, no dizer do eng.º Estrela Godinho, foi o primeiro apóstolo da exploração técnica da floresta, era um homem inteiramente dedicado ao trabalho, tenaz e afável.
Quando Ferreira Custódio enviuvou, em 1879, fez-se membro da Congregação de S. Vicente de Paulo (Lazaristas). Ordenou-se presbítero em 1888, no convento de Arroios, em Lisboa. Foi aí, no dia 4 de Outubro de 1910, que uma bala transviada o atingiu mortalmente. “Um santo e um sábio” – foram as palavras da imprensa da capital ao referir-se à sua morte.
O Vale Interior não esqueceu o Mestre (como os seus colegas silvicultores o tratavam). Assim, no dia do primeiro centenário do seu nascimento (31 de Outubro de 1839) foi inaugurado na Ladeira Alta um modesto mas significativo monumento em sua homenagem. Plantou-se também, no local, um pinheiro manso.

Friday, August 7, 2009

Eu

Estava ali a pensar tudo direitinho sobre outra coisa, tau, tau, não sei quê, mas a questão da lesão do lateral do Benfica! Logo agora que o campeonato já estava ganho! O Benfica é o maior clube do mundo (por exemplo, no Word não é possível escrever Benfica com minúscula); tem a maior lista de jogadores do mundo que estiveram quase para vir jogar para o Benfica (coisa que alguns iluminados insistem em dizer que tem toda a lógica, mas é desprestigiante); tem jogadores que vão ser os melhores do mundo (e era sobre ser bom no mundo, na minha vida, que eu estava a pensar, digo-o com todo o coração, digo e digo; não era nada ser o melhor jogador do mundo e estar no Benfica, era muito mais do que isso).

A alma benfiquista ainda não foi dissecada. É a maior do mundo. Outra coisa: o que é que há no mundo para além do Benfica? Uma certa esperança de que tudo corra bem. Só. Qualquer palerma sabe fazer isso, ó mundo! Respira profundamente e põe teus olhos em nós, se queres.

És um desorientado, quando dás por ti. Logo os teus comportamentos serão questionados nos planos ético, legal e mental. Isto já tu conheces e tens cumprido, Grande Cabeça-à-roda. Mas quando o clamor de toda a galáxia te impedir de manter os olhos fixos na bola não deixes que te esmaguem como a uma lagartixa. Adensa o nevoeiro e embriaga-te com hélio se for preciso. Depois, provoca tempestades, ameaça com tremores de terra e com a lava a jorrar dos vulcões. Aqui nos tens.

É TÃO fácil!

Que se fosse mais difícil se fazia menos mal. Quando no Estádio da Luz deixar de se ouvir uma voz grunhosa gritar sai, RAAAA – AAA-AA-MIREZZZZ; entra DIII-IIII-III-III MÁRIAÁÁÁ!, e dando-nos para acreditar pela gente mesma que até podemos ganhar, ai (Ai!), calam-se as galáxias.

Tuesday, August 4, 2009

Vou-lhes cantar quadras, quadras que não são minhas, que os mais velhos deixaram prá gente cantar



Não me ocorre agora outra coisa senão esta cantiga popular muito bem interpretada pelo Quim Barreiros.




Quando eu era rapazote
Davam-me muitas vinetas, (BIS)
Andava sempre amarelo,
De fazer muitas caretas. (BIS)

São João rapioqueiro
Casai-me que bem podeis, (BIS)
Já tenho teias de aranhas,
Naquilo que bem sabeis. (BIS)

Ó meu Gonçalo de Amarante,
Rachador de pau de pinho, (BIS)
Dá-me força no vergalho,
Como o porco tem no focinho. (BIS)

Estas moças que aqui estão,
São bonitas trajam bem, (BIS)
Por cima são tudo rendas
Por baixo nem calças têm. (BIS)

As moças da minha terra,
Têm todas cordão d’ouro, (BIS)
Também têm bigodinho,
Á volta do mijadoiro. (BIS)

Fui à praia com o meu pai,
Fui à praia de calções, (BIS)
Andamos a tomar banho,
Com água até aos joelhos. (BIS)

Wednesday, July 29, 2009

Uma tribo pós-histórica


Escrever é envelhecer o mundo. No documentário Uma tribo em Paris, ou algo assim, que vi no Odisseia, lá estavam os papuas (ou seriam polinésios?) de uma tribo remota, nas ruas da capital da França, a falar sobre o homem branco. Muitos espantados de tudo. Riam-se. Eram bem simpáticos, aliás, e perceberam logo muitas coisas pelas quais passamos de todo alheados. Barbudos, com penachos na cabeça, um deles (eram dois), o chefe, tinha uma espécie de pauzinho chinês a atravessar a base do nariz. Um pircing em forma de lápis.

Seja de que maneira, não sabem ler nem escrever. Vêem da pré-história e não temos nenhuma informação sobre os chefes que sucederam a chefes, guerras, pazes e afins. História política, história militar, história da economia, história das ideias, história da vida privada, história das mulheres e história dos homens. De nada há registo nem memória - excepto nas tradições orais, que se vão repetindo e renovando através dos tempos, de forma análoga à renovação da natureza.

Escuta o canto dos pássaros.
Eles são os pequenos mensageiros da manhã.


A escrita é diferente: onde assenta, deixa marcas visíveis. Que leitura farão os papuas da passagem do tempo? A face da Terra tem outras cicatrizes, sinais que talvez saibam interpretar. Mas também não é impossível, caso se ponham realmente a pensar nisso, considerarem por exemplo que o mundo sempre existiu, ao mesmo tempo que tudo é sempre novo. Não lhes assentaria mal uma especulação destas. Dado que não têm História, apenas isso.

Ao visitarem a tribo do homem branco, debruçando-se na varanda do hotel sobre Paris, dar-se-iam os polinésios (ou eram papuas?) conta da importância da progressão do tempo na construção da realidade humana, que convenientemente gostamos de qualificar como ‘progresso’, ou, pelo contrário, assentariam fundamentalmente as suas especulações numa concepção não dinâmica da realidade? Pareceu-me terem optado por não dar grandes indicações num ou noutro sentido, sensatamente. Talvez pressentissem o que outros recusariam concluir: estar a dar-se neles próprios e na sua circunstância uma transição da pré-história para a pós-história.

Porquê? Porque a cidade de Paris, aquela criação humana, só se percebe através de uma forma de narrativa específica (a História) que transforma qualquer fenómeno em objecto de conhecimento. E mais, toda a vivência é já tão marcada pela demanda da objectividade (dos chamados ‘factos’), que os papuas devem ter sentido de repente que já não havia lugar à subjectividade, todos os limites da sua imaginação lhes pareceriam subitamente esgotados. Nem precisariam de os levar a bibliotecas, museus ou universidades. Levaram-nos ao Moulin Rouge, e foi o melhor que fizeram (eles riam-se, riam-se).
A ausência de registo de fenómenos é a pré-história. A materialização automática e sistemática de todos os fenómenos em detrimento da subjectividade é a pós-história.

A nossa tribo há muito que tem consciência histórica. O conhecimento da História (no sentido de narrativa (de sucessão de acontecimentos)) influencia a própria História (no sentido se sucessão de acontecimentos). Agora, com a tendência para a digitalização de todos os aspectos da vida, pergunto-me às vezes duas coisas: a (aparente) emergência do ‘sujeito digital’ (fóruns, blogs, páginas pessoais, redes sociais, etc.) não a estará afinal a tornar a verdadeira subjectividade individual irrelevante face ao crescimento galopante de uma forma nova e muito mais poderosa de materialização, de transformação de tudo em objectos do conhecimento? e não sentiremos nós por vezes, tal como os papuas, que os limites do imaginável estão cada vez mais a ser postos à prova, afectando a própria História (no sentido se sucessão de acontecimentos)? Já não digo nada.

Eu às vezes parece-me que vivo numa espécie de pós-história, confesso. Não sei o que seja isto. Se entretanto conseguir saber mais do que tenho, venho cá dizer (posso ter uma inspiração repentina).

Tuesday, July 14, 2009

Voluntariado jovem para as florestas

Estamos já em pleno verão, e com ele o programa ‘Voluntariado jovem para as florestas’, em Eiras de Sabaio.
Ó juventude! (aqui está o meu grito de guerra, já conhecido aliás).
Na nossa freguesia sempre as gentes andaram de mãos arregaçadas lutando contra as adversidades, foi ou não foi?

Foi. Sempre nos unimos quando houve necessidade. E agora é a defesa das nossas florestas que está em causa. Eu sempre aderi a diversas iniciativas em jovem, e nem por isso me dei mal, antes pelo contrário. Sempre gostei de me colocar ao serviço da comunidade. Numa nota pessoal, a respeito disto e do assunto deste texto, recordo com saudade que já em muito novo sonhava fazer vigilância florestal. Sabem como, de preferência? Confesso que era a cavalo! Já imaginaram o que seria percorrer estas matas, no dorso de uma montada, em missão de reconhecimento? Infelizmente nunca cheguei a realizar o sonho, mas na altura alguns guardas florestais usavam realmente este meio de transporte! E infelizmente, também, continuamos actualmente a não poder ir para tão altas cavalarias, mas haverá BTTs para todos e rádios, para comunicar as ocorrências. No futuro, quem sabe? Talvez a ideia dos cavalos possa vir a ter pernas para andar. Como dizia Agostinho da Silva, “nós somo feitos para o impossível”.

Este ano, para além das acções de Vigilância e Prevenção, sensibilização e realização de Inquéritos à população, os Jovens participarão em outras formas de Prevenção como a limpeza de alguns cursos e espelhos de água.

As inscrições já estão abertas na sede da Junta.
Ó juventude! Vem pedalar connosco!

Monday, July 6, 2009

Thursday, June 25, 2009

Havia uma banda em Boston, Massachussetts


O Henrique é muito bom rapaz mas já me estava a chatear a mania de ficar com a cara de parvo fixa num grupo de raparigas que nos estavam a catrapiscar. Desculpa lá, deixa ver se estão a olhar para mim por exemplo, era só isso que eu queria. Não tenho ido quase a discotecas desde que me tornei ‘camponês’, que é um projecto cá em Eiras com o Sérgio (dos Cabeças de Máquina, o namorado da Anabela, dos Pratas (Gaiteiros), colega de blog). Mas ele é bom rapaz.

Depois fomos para uma zona de esplanada, nas traseiras. Pixies, ao ar fresco! Em vez de música de discoteca! O jovem agricultor que se tem esforçado alegrou-se logo na verdade insolente daquela música. (Ah. É isso.) Estavam lá o vereador e a mulher, (ouviamo-nos), uma sinestesia poderosa na espinha desde o ouvido interno à ponta dos dedos levava-me, em ombros, já os via companheiros meus, do bairro, da escola, e tudo começava outra vez. Sim. (Pixies, Pixies!). O edil quis saber como é que ia ‘esse projecto, diga lá’, e foi assim. Eu quase só bebia cerveja, dêem-me largueza agora, quero lembrar-me de tanta coisa. Mesmo. Nada de especial, valeu que o Henrique é um conversador nato e chato (desculpa lá isto e aquilo de há bocado, Henrique; eu avisei-te!) e percebe das coisas do campo e como é que funciona, explicou-se bem.

Aos poucos fui dando dei por mim a concordar com o vereador e uns casais amigos que se vieram juntar a nós quanto às vantagens da esplanada, que era outra música. Um deles participava com pensamentos pacíficos, está-se bem aqui, amenamente (teve graça, em parte), outro tinha um jipe, o vereador deve ser o político mais jovem que eu conheço e estava à vontade. O mais novo dos presentes era mesmo o Henrique, apesar de não se encaixar em nenhuma das categorias: jovem autarca, jovem agricultor ou jovem (membro de) casal. Não me espantaria se todos tivéssemos mais ou menos as mesmas ‘referências’, apesar de provirmos de diferentes ‘meios’ (mas não sei se gostavam de Pixies, que duraram pouco tempo; bem procurei, no entanto, por algum sobressalto quando a banda de Boston foi sem apelo nem agravo substituídos pelos Simply Red (!), mas não senhor). Só o Henrique, por vezes, parecia não ter referência nenhuma ali. Passaria por ser o mais atinado, o mais velho, quando na verdade desejava sobretudo voltar para a sala dos miúdos. Estava meio deslocado.

Deitei-me ainda relativamente cedo, interrogando-me sobre a sorte dos meus amigos de outros tempos (quantos teriam jipes? algum deles seria agora vereador numa câmara ou isso?), mas o demente do caniche da vizinha ladrou toda a noite.

Monday, June 15, 2009

Fosso de orquestra



(caricaturas sonoras)

Manuela Ferreira Leite - Viola da Gamba

Wednesday, June 10, 2009

Notícias do Vale Interior



Squash

Realizou-se nos dias 30 e 31 de Maio a 4ª e última prova do circuito Grupo Hoteleiro Pontevedra, nas instalações do hotel em Valinhos e nas piscinas públicas da freguesia, do Torneio Logitel Informática – Maio 09.
O Torneio Logitel Informática –Maio 09 foi organizado pelo Hit&Run, núcleo de Squash da Casa do Povo de Valinhos, e contou com a presença de 6 atletas. Esta foi a última oportunidade que os atletas tiveram para se apurar para o Masters 09.
O vencedor do torneio foi o atleta Marco Feliciano, enquanto Carlos Gomes, 39 anos, ganhou o Prémio Consagração AEVI (Associação Empresarial do Vale Interior).


(do Voz de Valinhos)



Autarquias de mãos dadas

Teve lugar, num salão de eventos de Romaride, um jantar-convívio promovido por uma comissão ad hoc representativa das diferentes autarquias e associações da região, cujos objectivos passaram pela criação de uma comissão permanente de interligação das mesmas - a qual se encarregará também da organizará de futuras iniciativas similares, no âmbito e objectivos, à que lhe deu origem – e pela oportunidade de proporcionar o contacto a nível pessoal entre representantes das diferentes entidades envolvidas.
Quanto à interligação entre as autarquias da região, é consensual a necessidade de encontrar estratégias comuns de desenvolvimento num grande leque de áreas, procurando o interesse da região como um todo, independentemente dos interesses específicos - e até das disputas administrativas – de cada entidade.

(do Jornal do Vale Interior)


Espaço Internet

A Casa de Cultura e Recreio de Eiras de Sabaio (CCRES) volta a inovar e passou a disponibilizar desde o dia 12 de Abril acesso à Internet. Este serviço está ao dispor de toda a população e é completamente gratuito.
O acesso à Internet pode ser feito através de um dos dois computadores desktop que foram recentemente instalados na sala de convívio da CCR Eiras de Sabaio.
Mais uma importante medida que demonstra o enorme esforço que esta associação tem feito para dar à sua população e associados serviços diversificados, úteis e de interesse público.
Numa zona tão “info-excluida” e com rendimentos tão baixos como é a Zona do Vale Interior, este é sem dúvida um serviço que se prevê de sucesso e que tenha uma grande afluência de público, e que vem complementar o presente serviço de Internet existente, a título gratuito para todos os cidadãos, na seda da Junta de Freguesia.

REGULAMENTO ESPAÇO INTERNET

1- A CCR Eiras de Sabaio disponibiliza a toda a comunidade acesso à Internet de forma gratuita, através dos dois computadores que estão disponíveis na sala de convívio;
2- Os utilizadores devem ler antecipadamente este regulamento e só se estiverem de acordo com todas as regras estipuladas poderão utilizar os computadores de acesso à Internet;
3- O utilizador poderá ficar o tempo que desejar no computador de acesso à Internet, excepto se:
a. O responsável da sala de convívio lhe der indicação em contrário, sem ser necessária qualquer justificação;
b. Os dois computadores disponíveis na sala estejam a ser utilizados e hajam mais pessoas em fila de espera. Se o utilizador estiver à mais de 60 minutos a utilizar o computador (180 minutos caso seja um sócio activo da CCR Eiras de Sabaio), será obrigado a ceder o seu lugar à pessoa que está à mais tempo em fila de espera. O utilizador que foi obrigado a ceder o seu lugar terá de aguardar 60 minutos até que possa voltar a entrar em fila de espera;
c. Nenhum destes pontos (3-a e 3-b) se aplica aos responsáveis da sala de convívio nem aos órgãos directivos desta associação;
4- Qualquer dano que se averigúe ser causado pelo mau uso do computador por parte do utilizador deverá ser-lhe induzido, tendo de compensar esta associação por todos os danos materiais causados;
5- O utilizador está expressamente proibido de instalar qualquer aplicação no computador;
6- O utilizador está expressamente proibido de fazer downloads de músicas ou filmes de forma ilícita, bem como de consultar páginas de cariz pedófilo ou com conteúdos considerados ilícitos pelas leis da República Portuguesa. O utilizador que o faça será denunciado às autoridades competentes;
7- É proibida a consulta de páginas de cariz pornográfico;
8- O utilizador deve encerrar o computador e desligar o monitor sempre que terminar a sua sessão;
9- O utilizador está expressamente proibido de fumar quando está a utilizar o computador ou de colocar qualquer recipiente com bebidas (copos, garrafas ou latas), lixo ou cinzeiros em cima da mesa do computador;
10- Caso se verifique uma extrema falta de conduta e de não cumprimento do presente regulamento por parte do utilizador, o mesmo poderá ficar indefinidamente proibido de voltar a utilizar os computadores de acesso à Internet
Atentamente:
Diogo Carriço
(Vice-presidente Casa de Cultura e Recreio de Eiras de Sabaio)

(Do Sabaiense)

Sunday, May 31, 2009

Lanterna Mágica

Nortec Collective presents: Bostich+Fussible "Tijuana Sound Machine"

Monday, May 25, 2009

Bem fixo


Há pouco tempo tive oportunidade de ver, na televisão, uma escola primária do Estado Novo convertida em museu (em Grândola, se não me engano). Lá estavam as efígies dos governantes, ao lado do crucifixo enorme (não sei se estavam uma à esquerda e outra à direita ou ambas do mesmo lado, à esquerda, diria eu), lá estavam os mapas, a régua, as carteiras alinhadas, as janelas amplas (mas altas), enfim, a iconografia completa. Com o 25 de Abril, as fotografias de políticos foram retiradas das paredes das salas de aula, evidentemente. Era tempo de arejar.

Em muitas escolas públicas portuguesas, no entanto, por cima do quadro negro, ainda se pode ver o crucifixo. Há tempos houve falatório nos media a este respeito, mas eu pensei que se tratasse de casos mais ou menos isolados, em vias de normalização (sim, ora!). Acontece que, neste ano lectivo, tenho tido oportunidade de visitar muitas escolas do meu agrupamento e tenho verificado que não é assim. Vários colegas, aliás, têm-me confirmado isso mesmo.

Bem sei que este não é o problema mais grave que o mundo tem pela frente, que no domínio da educação nacional há assuntos mais preocupantes (“que mal é que isso tem?”, é o que me dizem alguns), mas é precisamente esse tipo de mentalidade que tem permitido que as coisas se arrastem.

Imagino que grande parte dos colegas que trabalham nestas salas, sob a vigilância do crucificado, não se sinta propriamente confortável com a situação, mas algumas dúvidas quanto à responsabilidade pela tomada de medidas e o receio de eventuais reacções negativas (uma complacência lusitana típica) vão-se sobrepondo ao bom senso. E à lei.

Dizer que a religião e educação não são incompatíveis, ou que a religiosidade é um aspecto essencial do ser humano, etc. e tal, soa muito bem e é muito bonito, mas dar a entender que esses princípios genéricos têm alguma coisa a ver com o patrocínio, por parte do estado, de um símbolo religioso (e de uma religião em particular) é inaceitável. Idem aspas para a perspectiva contrária, se quisermos ir por aí: a religião (a católica, neste caso) no papel de ‘patrocinadora’da escola pública. Presentemente talvez se trate de um ‘ligação involuntária’, um legado do passado, mas que se pode falar numa ligação imprópria entre duas partes (caso se considere exagerado falar em ‘patrocínio’), pode.

Dizer que se trata de uma ‘questão cultural’ é igualmente incompreensível. Li algures uma opinião de um bispo que ia nesse sentido. Mas cultural como? Da mesma maneira que o Domingo se institucionalizou como dia de descanso independentemente do seu significado religioso? Mas como se pode dizer que o crucifixo, ou a cruz, o mais importante símbolo do cristianismo, não tem sobretudo um significado religioso? Se numa escola pública houver uma alusão a um motivo religioso num painel, numa pintura, num azulejo, por exemplo, ou mesmo numa história ou canção, aí sim, admite-se que se possa tratar de uma ‘questão cultural’. E convém ter isso presente antes de corrermos a queimar os textos e a partir os santinhos à martelada. Já o tradicional crucifixo, estrategicamente colocado num poiso altaneiro da sala de aula, dificilmente se pode deixar de ver sobretudo como um símbolo religioso, mesmo que seja também outras coisas.

Há casos e casos, mas se se transformasse uma escola actual numa ‘escola museu’ ela podia ser assim: o edifício é uma construção do Estado Novo - apenas está mais degradado- mas as mentalidades de quem neles trabalha mudaram (e no entanto…); as ardósias foram substituídas por ‘Magalhães’ (ainda que o computador da sala não funcione); as réguas, pequenas e de plástico, agora estão na mão dos alunos; as carteiras podem apresentar diversas disposições: em grupos de quatro, em sofisticada forma de ‘U’, etc.; o território que se pode ver representado no mapa de Portugal encolheu muito; o crucifixo continua bem fixo.

Tuesday, April 28, 2009

Batida beirã


Num fim-de-semana destinado ao descanso, levantar às sete e meia não está mau! A concentração, para a batida ao javali, está marcada para as oito, na Associação de Caçadores de Romaride. O Toino Princês vai ser o meu companheiro de porta, que é o sítio destinado a cada caçador. Ele é que caça, a bem dizer, eu só vou ver a bola.

Concentrados os caçadores, começa a algazarra. Há umas instruções, há o sorteio das portas, mas ninguém se concentra verdadeiramente em nada senão em conversa, entremeada com pão e malgas de vinho para quem quer. Só às dez e meia vamos para as portas.

O Princês acha que a nossa porta não é das melhores, mas só mo disse a mim, pelo caminho. Não quis estar a queixar-se durante o sorteio, como alguns, que culparam logo o azar por, na volta, poderem vir de mãos a abanar. Com uma porta enguiçada vive a gente bem! Quem conhece o Toino Princês sabe que é quase impossível ouvi-lo resmungar seja pelo que for, para mais em dia de caça. Se alguma coisa estava menos a seu jeito era não poder ficar a tratar do almoço, ainda se os javalis viessem ao encontro dos tachos, com a espingarda numa mão e a colher de pau na outra, era homem!

Bom. Ou isso ou já não é pouca a sorte se algum animal lhe vier desafiar a pontaria no sossego do posto de caça. Nem precisa de se apressar, que o lugar convida e estamos já postos em sossego também, assentando o que resta das ideias que fomos chamando à conversa no caminho para cá. Devo ser mais dado à morte da bezerra do que à de javalis, porque não me fixei verdadeiramente em nada da paisagem que nos envolvia senão quando a bicharada resolveu acrescentar-lhe o devido som de fundo, anunciando desta maneira que nos perdera o respeito e seguiria com a sua vida. E eu recostei-me como deve ser numa árvore e olhei.

Tanto que passado algum tempo deixei de esperar por qulaquer outra notícia. Só os cães, que já batiam os vales, conseguiam por vezes fazer-se ouvir acima da cegarrega geral instalada. Se não surgisse javardo até ao soar da corneta acabaria por amaldiçoar a hora em que metera pés ao caminho, tão aborrecidos podem ser os arbustos e o pouco mais que havia, depois de devidamente apreciados os cheiros, ervas e flores.

O Princês fazia-me gestos, apontava para ali e para acolá, como se me perguntasse “viste?” ou “ouviste?”, e eu acenava “aaah! sim, sim!” sem perceber se ele se referia a algum som, vislumbre ou cheiro de porco ou se me estava a tentar mostrar outra coisa. Por exemplo, algum dos pássaros de que me falara durante a tirada, como o melro, de que diz apanhar quantos quer. Até me ensinou meia dúzias de técnicas.

Mas a verdade é que eu não distingo o melro da cotovia. O que distinguia, entre os gestos apurados do velho Toino Princês, eram dois olhos em silencioso deslumbramento, como de quem não sabe muito bem se realmente pode estar ali, a viver o momento, e vai sorrindo com malícia e vergonha. Os mesmos que desde há mais de cinquenta anos estas terras vêem chegar-se à culatra, um aberto e outro fechado, alinhando a outra ponta com quase tudo o que nelas corra ou voe. “Cada vez gosto mais!”, diz-me. Nem a porta azarada consegue beliscar-lhe o gosto.

Com o passar das horas fomos ouvindo alguns disparos dispersos, mas a arma do Princês nunca foi chamada a prestar contas. A meio da tarde a caçada estava terminada e nós regressámos à base, onde nos concentrámos em novo e mais nutrido convívio com os demais. Desta parte da festa já eu sabia que tudo quanto viesse era ganho.

Wednesday, April 15, 2009

Ouvindo conversas, lendo fragmentos, observando sinais


« Duma vez fui ao mato mais a comadre Marciala com uma podoa muito boa que o meu pai que Deus tem trouxe do Brasil, igual a uma que trouxe para ela também - duas valentes podoas! - e nisto ópois esqueceu-me a podoa no pinhal!
Tinha muita estimação nas podoas...
Lembrou-me o responso!
Rezei, rezei, rezei o responso! Ópois havia aqui um caminho, este não havia ainda nada, tinha ali uns alhos à beira do caminho. Uma ocasião vou a passar, lá estava a podoa!
A pessoa que acha ou rouba, bem a gente rezando o responso, já não tem parança! Lá se lembrou que havia de vir aqui regar os alhos e que eu a via, deixou-a e abalou.
Fui dizer à comadre Marciala e ela até dava beijos à podoa!
Eu, foi como Deus que me tivesse aparecido!»


(Irene Bisgata, 87 anos; hoje, Eiras de Sabaio)

Tuesday, March 24, 2009

Basso profondo (lanterna mágica, especial 'Fosso de orquestra')


Qual a música e quais os artistas que tocam na nossa vida pública?

Confesso que tenho este estranho hábito de associar pessoas a instrumentos musicais (neste caso à voz de 'basso profondo'). Pensei, assim, singelamente, em catalogar algumas figuras conhecidas - em especial as da política - de acordo com o instrumento que cada uma invoca na minha imaginação. Pode ser uma espécie de uma caricatura sonora, que, tal como acontece como as pictóricas, realça algumas características da personagem, ainda que de forma distorcida.
As audições têm decorrido diariamente, e sabemos que as qualidades musicais dos executantes nem sempre são as melhores. Ouvimos muitas vezes as suas desafinações e estridências. Por vezes uma ou outra doce melodia, em contraponto com as tiradas mais dissonantes. É música e também é ruído. Mas a excelência musical não é requisito importante neste Fosso de Orquestra. Eis o primeiro elemento:


Basso profondo - Manuel Alegre

Friday, March 13, 2009

A crise na Islândia


Em 2001 a palavra crise era pouco mais do que um eco longínquo na minha memória. Ainda me lembro do Mundial de 82, em Espanha, de ouvir dizer que o desemprego em Setúbal era crónico, mas não do Argentina 78. Depois de muitos anos de ausência, qualificámo-nos para o México 86 e para CEE. Cresci num tempo de esperança, a professora de Estudos Sociais explicou-nos as vantagens da adesão, Portugal ia crescendo connosco, pintei num papelinho uma bandeira de Portugal quando o Carlos Manuel marcou o golo à Alemanha e no dia seguinte fui para a escola com aquele crachá. Éramos felizes, na cauda da Europa e do futebol, sabíamos para onde íamos, os professores Carlos Queiroz e Cavaco Silva guiavam-nos na direcção da mítica moeda única e dos gloriosos primeiros lugares, que acabámos por alcançar, anos mais tarde. Mas entretanto perdemos a felicidade.

Em 2001 a palavra crise era pouco mais do que um eco longínquo na minha memória, Portugal ia de vento em popa e isso era para sempre. Mas a partir desse ano tivemos que voltar a pô-la ao uso, e agora a crise está nas bocas do mundo. Não é no futebol, mas em todas as coisas, que se verifica serem as verdades de ontem as mentiras de amanhã. Talvez não seja assim mas ao contrário.

Na minha cronologia da crise há um antes e um depois de 2001. Não sei explicar causas nem consequências, nem relacionar acontecimentos de forma coerente, mas lembro-me de pressentir que qualquer coisa estava a ficar fora de controlo quando se começou a falar do «problema do deficit» daquela maneira. Depois veio a crise política, governos a entrar e a sair sem mais nem menos, o Santana, coitado, chegou a ir para lá, a Justiça abanava por todos os lados, desvarios de todos os géneros, atrasos, desordens e desmandos, um belo cenário para as doses corridas de escândalos e casos que vinham com cada telejornal. Muitos dos problemas económicos que agora afligem o mundo têm origem, ou foram agravados, diz-se, por certas práticas que remontam a 2001, mais coisa menos coisa. A economia da Argentina colapsou, aprendi que um país podia «falir». No dia 11 de Setembro, atentados terroristas nas cidades americanas de Nova Iorque e Washington afectaram de forma profunda todo o panorama geopolítico. O mundo não acabou em 2000 mais do que em outros anos, mas parecia estar a ficar louco.

E no entanto sinto que muito do que está em causa é a percepção das coisas, a ideia de crise, e não tanto a realidade objectiva, nem as eventuais ligações, complexas, e eu não percebo nada disso, entre fenómenos isolados. Destes, alguns são mais alhos, outros bugalhos, mas para muita gente que alimentava ilusões é a alhada geral.

Depois disto, mais cínicos, mais sábios até, podemos encarar de outra maneira a inquietante situação da Islândia. Aquela gente, tenho visto reportagens, está a passar um mau bocado. O país faliu. Tem havido alguma instabilidade política também. A boa notícia é que a mudança é a coisa mais constante que há, como vimos. Porque hão-de os islandeses estar condenados ao fracasso? Como povo não são menos capazes do que os outros, e nem sequer se podem queixar da falta de quadros qualificados. Há todas as razões para acreditar que a classe política, mais tarde ou mais cedo, acabará por colocar os recursos da nação ao serviço do povo, na senda do desenvolvimento. Há ainda muito trabalho a fazer, mas é enorme o potencial daquele que é um dos mais desconhecidos mas também um dos mais belos recantos do continente europeu. Trata-se de uma terra mágica, abençoada pela natureza. Tem uma identidade própria que, diz quem já experimentou, marca para sempre as pessoas. São as cores, as diferentes cambiantes de branco, é o cheiro forte e inconfundível daquela terra, a enxofre. E é sobretudo o sorriso doce daquelas crianças, a alegria e a vontade de viver que transparece nos seus pequenos rostos enquanto, curiosas, fitam as câmaras que logo à noite as apresentarão nos telejornais dos quatro cantos do mundo (os irlandeses, da Irlanda, também estão à rasca, mas têm um jeito para a música, amigo! E as danças? É já mesmo deles, aquilo).

Sunday, February 22, 2009

O Rato Mickey


O Rato Mickey
Tive ocasião de ler num jornal regional um interessantíssimo texto sobre a mais célebre criação de Walt Disney, que fez 90 anos em Novembro último. Chamou-me a atenção a reflexão sobre a mensagem que personagens de animação aparentemente tão inofensivos podem passar aos mais novos, e não só, que o pequeno roedor de luvas brancas e calções vermelhos encontra muitos admiradores entre gente graúda também. E isto apesar de se encontrarem, no rico alfobre da nossa cultura e tradições, incontáveis exemplos de distracções muito mais saudáveis e educativas.
Mas analisemos o que está em causa. Aprofundando um pouco, o conteúdo dos filmes do famoso Rato são imorais e não se escandalizem, ou não o façam sem antes me ler o texto.
Os ratos são animais sem nobreza nenhuma, sujos e repelentes até, que transmitem doenças e que não gostamos nada de ver em nossas casas. Era por isso que antigamente toda a casa que se quisesse a salvo de tal companhia procurava ter um gato, seu inimigo figadal. Ora, o que acontece nos filmes onde entra o Rato Mickey? A verdade é que este, que por ser rato devia ser o mau da fita, leva sempre a melhor sobre o gato com quem trabalha. Nas aventuras que vivem em conjunto, o gato sai sempre vencido e humilhado pela astúcia do rato, que se fica a rir. Esta mensagem, a do mal que vence o bem e ainda é louvado e aplaudido, não pode deixar de penetrar nas mentes dos jovens espectadores, incapazes de avaliar a situação por si próprios e de se distanciarem da mais subtil das perversidades. Ainda assim, e dando o devido desconto, os filmes distraem e são inofensivos, comparados com os filmes actuais, sorvidos em doses assustadoras pelas crianças de agora.
Nestes, impera a violência, as figuras monstruosas, as histórias infernais e a música atordoante. E, para cúmulo, muitos dos filmes de animação actuais são pornográficos e vão amolecendo o critério das crianças, que passam a achar tudo “aquilo” natural.


Mais uma obra sobre a região do Vale Interior

Acaba de sair um livro precioso sobre grande parte do nosso melhor património, desde as Igrejas de Eiras de Sabaio e Valinhos, até ao convento de Santa Ana, entre muitos outros exemplos.
Trata-se de um estudo rigoroso, sem se tornar demasiado “pesado” ou académico, servido por excelentes textos e fotos, os primeiros da lavra do dr. Maciel Carvalho e as segundas a cargo de Ana de Vasconcelos, intitulado “ Vale Interior pedra a pedra”
A apresentação decorreu no Casa Municipal da Cultura, registando-se o assessor da Cultura da edilidade.

Monday, February 16, 2009

Jogos de azar

À sexta-feira feira vêem-se por todo o lado. Pessoas que se juntam à tardinha, e tiveram a semana toda, com o boletim do euromilhões na mão, as mesmas que de novo se juntarão, no último dia do prazo, para entregar a declaração do IRS. Que gente é esta, nós? A gente não sabe. Enquanto prolonga uma fila tristonha, vai pesando o dia de trabalho, as canseiras da semana e de toda uma vida suspensa na miragem do Jackpot que nunca calha à gente, que para todos os azares foi nascida, ou lá virá o dia, e se vier é justiça que se faz a uma vida tão malfadada. A fé no milagre, é desta que a gente acerta, é que a vai amparando, para não dizer resgatando, para quê ralar-se com a indiferença do sorteio face a estes anseios, que temos por justos e que aos números sorteados, e aos outros, parecerão futilidades, enfim, por que razão há-de a gente tentar perceber a gente mesma? Não nos calha.

Gosto de pensar que boa parte dos portugueses que se tornam euromilionários de um dia para o outro - o que nos acontecerá a todos no prazo de umas dez milhões de semanas, a continuar a este ritmo – se empanturram de excentricidades. O anúncio deu o mote, e bem, haja quem gaste dinheiro às pazadas, se é para continuar com a história do desgraçadinho (ai agora o que é que eu faço com tanto dinheiro, ainda mo roubam, vou continuar a comprar nas lojas dos chineses para não levantar ondas, e depois faço umas obras na casa de banho) não valeu de nada, mais valia continuar encostado à parede, com o boletim na mão, na fila do café. Ao menos nessa altura podia a malta sonhar com o euromilhões.

Eu cá, por essas e por outras, só jogo nos melões. Faço palpites, estudo-os e aposto. E a verdade é que frequentemente perco o dinheiro, porque é difícil acertar num bom melão. Jogar nos melões é mais adequado para quem não está preparado para ver a sua conta inchar subitamente como a de um oligarca russo nos anos noventa. Nenhum português está, tirando alguns que não se pode dizer. Apesar do nosso instinto e do nosso desembaraço, nunca saberemos ser oligarcas nem russos, só eles sabem como se faz. Nós desenrascamo-nos bem, mas precisamos de estar na miséria, ou, quando muito, assim-assim, para nos podermos queixar: “estou à rasca, pá”.

É bom que o país continue a apostar no euromilhões, desde que seja para acabar com tanto queixume. E os resultados estão à vista: nós somos os campeões do euro. Estamos sempre a limpar os prémios, entre tantos países concorrentes. Estou a falar do euromilhões, porque o futebol é outra fruta. A bola é redonda, o melão é que tem aquele formato da cara que fazemos quando descobrimos que o prémio saiu a outro marmelo qualquer, por acaso, ou talvez não, também português.

Devemos ser o povo mais sortudo com os indivíduos mais azarados da Europa. É ou não é de ficar com um grande melão? Calha-nos sempre, mas nunca à gente. Para o bem e para o mal, somos os derradeiros euromelões.

Saturday, February 7, 2009

A formiga e o lobo

(completa)

Uma formiga batedora andava a explorar o areal húmido que rodeava uma poça quase seca quando se deparou com um buraco. A forma perfeita da enorme cratera levou-a a pensar tratar-se uma pegada muito recente de um animal que por ali andasse. Subiu a uma erva para avaliar melhor e logo percebeu que tinha sido um lobo o responsável.
As formigas batedoras são escolhidas pela sua capacidade de raciocínio e curiosidade, e esta não era excepção. De imediato se lançou numa grande correria, tentando alcançar o lobo que, com toda a certeza, não andaria longe. Por sorte, avistou-o pouco depois junto a uns arbustos. Parecia estar muito concentrado, observando qualquer coisa a boa distância. Tal como suspeitara, tratava-se de um velho conhecido seu. Na verdade, conhecer outros animais - e assim aprender coisas novas, contactar com diferentes maneiras de pensar ou simplesmente conviver - era muito do agrado da formiga. O preço a pagar era ser olhada com certo desdém pelas suas irmãs. Mas esta formiga sabia bem que as tarefas extenuantes e monótonas que as outras tinham de fazer as deixavam incapazes de, ao menos, vislumbrar quanto perdem por nunca se desviarem do carreiro.
Entretanto, a formiga aproveitou a paragem do lobo para se aproximar. Começara já a chama-lo quando este partiu de cabeça baixa, num trote silencioso. A formiga bem correu, gritando «lobo, amigo!», mas as suas pequenas patas não lhe permitiriam alcançar um ouriço coxo, e a sua vozinha era quase tão fraca quanto o som de um pingo de chuva.
Não lhe restou se não subir arbusto acima para ver no que aquilo ia dar. Oh, que belo animal era o lobo! E que astuto e audaz! Primeiro aproximou-se silenciosamente da sua presa. Depois, possante, derrubou-a de um salto. Quase não precisou de correr.
A formiga deixou-se ficar numa folha, a observar. O lobo comeu tranquilamente, regressando depois pelo mesmo caminho. Quando já estava suficientemente perto, a formiga surpreendeu-o com este cumprimento:
- Olha quem é ele! Vê lá se soubeste trazer alguma coisa para os amigos…
- Não avisaste! – respondeu o lobo com um sorriso.
- Eu chamei-te, tu é que não ouviste. E eu que me contentava com uma lasquinha qualquer…
- Ah sim? – perguntou o lobo. – Não seja por isso! Tenho aqui uma entre os dentes. Tiras-ma e é toda tua. Só a aflição que me está a dar!
- Pois, isso é chato, é.
A formiga teve pena do lobo, um animal nobre e valente que se via agora atormentado por um pedacinho de carne do bicho que matara. Não deixou de se perguntar: «E se ele aproveita para me devorar também?» Mas logo concluiu: «Não o fará. Os corajosos não atacam os fracos dessa maneira. Só os cobardes o fazem». Sem saber muito bem o que fazer, e depois de um silêncio embaraçoso, acabou por lhe dizer:
- Eh, eh, o que tu queres sei eu!
- Oh, achas? Estás a brincar, não?
- Claro!
- Então vá – disse o lobo, abrindo a enorme boca junto à folha onde a formiga ainda estava.
Foi então a vez de a formiga mostrar a sua agilidade, saltando para a língua do lobo. Sentindo-a a fazer umas levíssimas cócegas, o lobo deu por si a pensar: «É tão franzina! Como pode ela achar que eu tiraria o mínimo proveito das suas poucas carnes? Uma sobremesa, talvez….»
Ainda um pouco perturbada com o que sugerira, a formiga avançava sobre aquela superfície movediça enquanto ia dizendo:
- Não, é que às vezes podias distrair-te… é só isso.

Esta resposta deixou o lobo pensativo por alguns instantes, mas logo se resolveu por incentivar a pequena batedora:
- É mesmo isso, aí.
A formiga estava a fazer o melhor que conseguia, tentando concentrar-se no trabalho e não nos seus receios. Procurava até que o lobo percebesse isso mesmo, e no entanto… não se coibia de segregar tanto ácido fórmico quanto conseguia. Afinal, sempre era bom que os animais grandes e poderosos, como os lobos, soubessem que aqueles que julgam fracos nem sempre se deixam engolir sem amargos de boca nem azias de estômago. Seria caso para pensar que era a honra das formigas que estava em causa, mas a verdade é que a formiga não se permitia perder muito tempo com tais conjecturas. E então respondeu-lhe:
- Pois é isto, amigo, mas é complicado. É preciso é calma.
- Sim.
- Desculpa lá estar a usar as pinças desta maneira, mas é só mais um bocadinho. Dói-te?
Toda esta azáfama parecia divertir o lobo, que pensava: «Está a fazer-se picante! Será que pensa que é isso que me impede?»
- E que doesse! O que arde cura, hihihi!
- …
- É ou não é?
- Olha, amigo, lá isso é verdade. Lá isso é verdade, é.
Como se de um gesto súbito e involuntário se tratasse, o ácido deixou de fluir. Cada vez mais divertido, o lobo ria com despudor. Quanto mais se tentava conter, mais sonoras eram as gargalhadas, colocando a formiga em sério risco de ser engolida inadvertidamente. Esta, desesperada por se livrar daquele perigo mortal, deixou de remexer com as pinças e imobilizou-se completamente. Depois, como se quisesse provar a si própria e ao lobo que não estava assustada, resolveu usar as patas para corresponder, com umas cócegas em plena língua, àquele riso tão desconcertante.
Fosse das cócegas ou fosse de adivinhar o desespero que as motivou, a verdade é que as gargalhadas do lobo passaram de incontidas a caso perdido e descontrolado. E em muito boa hora para a formiga, que assim se viu expelida com violência, entre risadas.
Enquanto um e outro se recompunham, dirige-se a formiga ao lobo nestes termos:
- Agora ia correndo mal, ou quê?
- …pois, nem por isso. Isto está tudo controlado!
- Ah, isso tem que ser. Vá lá, vá lá.
- E obrigado.
- Sempre saiu a carne?
- Olha, está aqui. Queres? Se queres vê lá!
- Não, vou andando.
- É?
- Vou. Xau.
- Então vá. Quando vieres para estes lados vê lá se dizes alguma coisa.
-Sempre.
-…
-...
- Olha, a sério, desculpa lá estar-me a rir e não sei quê, está bom?

Monday, February 2, 2009

Thursday, January 29, 2009

Chover no molhado




Chover no molhado é daquelas felizes expressões populares que nos ajudam a converter determinadas ideias numa imagem acessível a todos. Normalmente usamo-las em sentido figurado, para assinalar um acontecimento, uma característica, um comportamento, etc. no campo cartografado do proverbial.


Como é evidente, as situações em que se pode usar são as mais diversas, mas a frase veio-me à ideia a propósito de determinados gastos supéfluos de recursos, em especial os públicos. Por exemplo, a construção de todos aqueles espampanantes estádios de futebol para o Euro 2004, num país já tão futebolizado, que outra coisa foi senão chover no molhado? E quanto se gasta, na nossa televisão pública, com programas em tudo idênticos aos das privadas - como aquelas xaropadas, verdadeiras conversas da treta, a que temos o privilégio de poder assistir de manhã e à tarde?


Fazia falta, num país de magros recursos e grandes carências como o nosso, uma cultura de rigor e eficiência, e não o nosso (também proverbial) laxismo. Não é apenas a pertinência dos gastos que está em causa, é sobretudo a sua redundância. A primeira preocupa-me, a segunda enfurece-me. Nas ‘grandes’ e nas pequenas coisas.


Um caso paradigmático – e que me dá uma especial fúria – é o dos candeeiros de iluminação pública que, muitas vezes, alumiam as nossas ruas e estradas em pleno dia (o espécime que se pode ver acima foi fotografado por volta do meio-dia). Como podem eles ter a pretensão de iluminar no iluminado? Dir-se-ia que em Portugal levamos tão a sério a causa ambientalista que até já queremos encontrar energias alternativas à luz solar!


Desde miúda que esta anomalia me deixa perplexa (sim, isto acontece há muitos anos!), mas enquanto fui jovem e inocente pensei que, mais tarde ou mais cedo, seria corrigida. No entanto, é difícil conceber que na raiz do problema esteja uma deficiência técnica. É mais provável que se trate de uma questão cultural, para mal dos nossos pecados. É o nosso paralisante “não te apoquentes, que eu também não”.


Nestes últimos dias tenho-me deparado com esta situação com mais frequência do que o habitual. Posso dar testemunho de quilómetros (literalmente) de candeeiros a desperdiçar energia. Quem a paga? Quem responde pelos custos ambientais desta ineficiência energética?
Para cúmulo, ontem passei por um jardim cujo sistema de rega automático estava em pleno funcionamento durante uma copiosa chuvada. O jardim era privado, mas já vi cenas semelhantes em rotundas relvadas, por exemplo.


Como disse no início, normalmente usamos a expressão chover no molhado em sentido figurado, mas este (o da rega à chuva) é um caso em que o que queremos descrever corresponde ao significado literal da expressão. Interrogo-me se a realidade, por capricho extremo, não estará a conspirar para nos roubar as palavras – ou talvez procure fazer que tenham mais força ainda, mostrando-nos como a nossa inclinação para a displicência e para o despropósito pode ir tão longe quanto, em contrapartida, vai a nossa imaginação na produção de sapientes ditos e provérbios.