Tuesday, November 13, 2012

Sunday, July 29, 2012

Ouvindo conversas, lendo fragmentos, observando sinais



O Automóvel e o Código da Estrada

Primeiros passeios de automóvel

Quando na criança despertam os sentidos e começa a aprender a fixar o nome das pessoas
e das coisas, o automóvel cedo lhe é familiar e conhecido.
E não é sem uma sensação de felicidade que recebe, por exemplo, a notícia de que vai dar
um passeio de automóvel, um "passeio no popó".
A esta fase segue-se a destrinça entre a camioneta e o autocarro, a furgoneta.
"Este é o carro do pai",  "Aquele é o carro do tio" e, a par das formas e das cores que distingue, bem cedo começa também a fixar as marcas.
Assim, passo a passo, vai completando e aperfeiçoando os seus conhecimentos sobre o automóvel.
Quer ir para o colo do condutor para ter a sensação de agarrar o volante e de conduzir, quer tocar a buzina para ouvir o som que ela própria obrigou a produzir, e segue-se todo aquele mundo de curiosidades e de perguntas como: “Que é isto?”, “Como se chama?”, “Para que serve?”

A paisagem e tudo quanto vê não lhe despertam tanta atenção, todo o interesse está concentrado
no “universo” do carro.
Nele se sente verdadeiramente confortável, tanto como se estivesse na sua própria casa, no berço
em que a embalam. E por se sentir embalada, a verdade é que facilmente acaba por adormecer, e profundamente.



(Do capítulo «O automóvel» da Enciclopédia Legal  - Selecções do Reader's Digest -, do ano de 1987, páginas 304 e 305)

Tuesday, April 17, 2012

Notícias do Vale Interior




Dia da Floresta


Integrado na comemoração do Dia da Floresta e na sequência do projeto Eco-Escolas, a EB1 de Meniouca realizou no passado dia 21 de Março, uma limpeza do pinhal.
Há semelhança do ano passado, a EB1 de Meniouca convidou os encarregados de educação para, em conjunto com as crianças, realizarem uma recolha de resíduos na zona de pinhal envolvente. Infelizmente, na área seleccionada para o efeito não foram encontradas garrafas, plásticos, latas de bebidas, cartões, ou outros detritos, ou só em muito pequenas quantidades, e como que por mão bem intencionada, o foram.



Couve ínfima

Desta vez, um casal de reformados de Parangonas Novas anunciou ter encontrado na sua horta uma couve minúscula. Mede de quatro dedos a um palmo, já adulta.





Novo presidente do GVAUF, de Fermimfundo, reclama mudança de estatutos polémicos

Os estatutos actuais prevêem que a sede da associação deverá situar-se em Fermimfundo, mas o presidente recém-eleito já anunciou constatar-se que os sócios e utentes não são maioritariamente daquela localidade. O que se impõe é mudar os estatutos, para mudar a sede, no sentido de encontrar uma localização adequada à erecção da estrutura, para cabal cobrimento de sócios e utentes, diz o presidente.
No entanto, a mudança da sede, das actuais instalações provisórias, em Fermimfundo, para a nova sede, fora de Fermimfundo, poderá ocorrer mesmo sem a mudança de estatutos, acrescenta. Isto porque «os estatutos se revelam completamente impotentes para responder a muitas das funções e novas solicitações com que os distintos órgãos se têm deparado: o mundo não parou em 1976, todos os aspectos da vida mudaram, entretanto só os estatutos se mantêm inertes. Não é bonito, mas às vezes não há outra solução que um bom pontapé nos estatutos», conclui.

(Notícia recolhida no Jornal de Fermimfundo)

Wednesday, March 7, 2012

Fosso de orquestra



A trompe de chasse. O António José Seguro.
Este não aparece nas imagens (de preocupado que está em fugir); a velha trompe de chasse não mudou de nome; trata-se de uma alusão isso sim a um político português pouco conhecido.




Thursday, January 26, 2012

Carta a mim


Venho por este meio protestar junto de minha excelência por ser tão vaidoso na minha modéstia. Lamento o tempo que passei olhando as flores crescer. As flores que são também as obras dos homens, em especial as que tive a vaidade de ajudar a cultivar no nosso quintal, na nossa Eiras de Sabaio. Sou vaidoso.
Protesto junto de minha excelência, por não dar tanta importância à remuneração financeira como alguns dos melhores de entre nós, políticos e classe dirigente em geral. Esses sim, são humildes. Não têm a vaidade ou a ambição pessoal de trabalhar para ver realizados os sonhos dos seus concidadãos. Eles, ou alguém por eles, parece querer fazer crer que só o dinheiro interessa, ou por ser muito, ou por ser pouco. Não terão maiores ambições.
Protesto junto de minha excelência por ser tão vaidoso, e inclino-me perante a sua modéstia. Eu tenho a vaidade enorme de esperar realização pessoal para mim e para os meus concidadãos. Se falasse em remunerações em vez de sonhos realizados, se tivesse cara solene em vez de mostrar a melhor face às dificuldades e responsabilidades, seria humilde. Mas não, ainda tenho a vaidade de sorrir, na cara e por dentro, no coração. Protesto por não aprender com os melhores a ser humilde.
Protesto junto de minha excelência por as minhas ambições serem muito diferentes de ou ter muito dinheiro, ou de querer parecer que não tenho muito dinheiro, ou ambas as coisas ao mesmo tempo, que parece ser possível na cabeça de alguns. As minhas ambições não têm é nada a ver com dinheiro, e essa modéstia é hoje em dia é um luxo e uma vaidade. Eu deveria portanto ser mais humilde.
Protesto por tudo isto junto de minha excelência, o vaidoso.

Humildemente,
Francisco Aires Marchante (Presidente da Junta)

Friday, January 6, 2012

O trabalho numa quinta nunca acaba, entre rotinas entediantes e incidentes sem significado, agora no tempo gasto com reparação da cancela, de onde, ao longe, vejo um grupo de americanos aproximar-se. Acabei depois por não perceber bem se eram uma espécie de arqueólogos, se geólogos,, ou algo ligado ao turismo ou à agricultura ou a que «projectos»,  porque o vereador também la vinha, e ele vem sempre mais do que disposto a apostar em «projetos», a mostrar «projectos» ou a falar de «projectos», de maneira que de vez em quando aprece para aí todo o feitio de tropa. Mas americanos deviam ser. Gostei especialmente duma, bonitinha, olhou para mim também, foi bom. Se tivessem vindo de manhã, talvez ela me tivesse visto partir a cancela com o tractor. Que vergonha, meu Deus, que vergonha passei, quando afinal estávamos sozinhos, o tractor e eu. Mas não, para grande sorte minha, ela aparecia agora. Ferramentas. Lidando com alicates, com estacas a sério. Pois é, amiga! Sou homem ou não sou?
Tão-pouco os outros, alguns deles gente experimentada na vida, pareciam perceber que eu não saberia usar bem a chave de fendas, quanto mais conduzir o trator, que ali continuava meio desorientado. Mas talvez estivessem apenas a ser simpáticos, no fundo os americanos são pessoas quase iguais às outras. E eu, meio envergonhado, lá lhes perguntei o que é que achavam de Portugal, o que é que estavam a sentir. Algum tempo depois, evidentemente, já tinha confiança para os abordar de outra maneira:  o que é que é vocês acham de Portugal? O que é que estão a sentir?
Claro que sim. Mas mais e mais:  O que é que é o nosso interior para vocês? E o que é que é uma quinta biológica como a nossa? O que é que é? E, claro, cá o Portugal propriamente, de que maneira é que é que Portugal é visto na América, e tal?, Já provaram leitão?, Não vos faz impressão? Sabem que somos um país independente da Espanha? Ou pensam que somos uma província da Espanha, hã, Portugal, o que é que acham lá na América, o que é que é?
Bom, J., ainda não conhecemos muito, gostamos de Neizauréh, vamos para Vaizu, e Lissboah é simplesmente adorável.
Que resposta tão inteligente, para aquelas circunstâncias. O truque está aí. Percebi então como funciona a mente americana, que era o que eu mais queria na porra da vida. Ah, pois, Vaizu, Vaizu.
E que americana tão bonita vinha na comitiva, realmente, morena. Acho eu. Pareceu-me bonita. É um cabelo castanho escuro, mas luminoso, como que translúcido. Já tinha olhado para mim segunda vez, entretanto, mãe do Céu, novamente bom. Há aquele canela acobreado, que para mim é rei! Mas isso são casos raros. Não me parece que na América haja muito.
Na América há muito nas senhoras a cor de cabelo canela acobreado, ou não?, perguntei-lhe finalmente, desesperado. Não percebeu. Silêncio, silêncio. O que é que achas de Portugal? Pelezinha clara, modos suaves. Ah, adorável, estou a ver. Silêncio, pardais. Os americanos às vezes invadem países e depois fazem filmes sobre isso, acrescentei, é muito curioso.
Ela pareceu não gostar muito de mim e foi-se embora.
De um ramo, ao longe, alguma ave iniciava calma e tranquilamente o seu voo. Amor da minha vida! Não, não faças isso! E se viesses passear comigo no tractor? Os outros américas (que afinal estavam apenas de férias) que regressem à Vila com o vereador. Ou então eu depois ligo-te, vens cá e conduzes tu sozinha e eu fico só a olhar para ti.
Não deu.
Mas no dia seguinte reencontrámo-nos e deu (tratava-se também de prospecção de minério a comitiva queria aproveitar. Eu fiquei com a mais bonita. E à tarde pude explicar-lhe, na pastelaria, que até tinha concordado com a guerra no Afeganistão.
Que ideia, perguntava-me ela então, têm vocês da América? Há pessoas aqui que não suportam a América, certo? Mas gostam dos nossos filmes, não gostam? Etc.).