Thursday, January 26, 2012

Carta a mim


Venho por este meio protestar junto de minha excelência por ser tão vaidoso na minha modéstia. Lamento o tempo que passei olhando as flores crescer. As flores que são também as obras dos homens, em especial as que tive a vaidade de ajudar a cultivar no nosso quintal, na nossa Eiras de Sabaio. Sou vaidoso.
Protesto junto de minha excelência, por não dar tanta importância à remuneração financeira como alguns dos melhores de entre nós, políticos e classe dirigente em geral. Esses sim, são humildes. Não têm a vaidade ou a ambição pessoal de trabalhar para ver realizados os sonhos dos seus concidadãos. Eles, ou alguém por eles, parece querer fazer crer que só o dinheiro interessa, ou por ser muito, ou por ser pouco. Não terão maiores ambições.
Protesto junto de minha excelência por ser tão vaidoso, e inclino-me perante a sua modéstia. Eu tenho a vaidade enorme de esperar realização pessoal para mim e para os meus concidadãos. Se falasse em remunerações em vez de sonhos realizados, se tivesse cara solene em vez de mostrar a melhor face às dificuldades e responsabilidades, seria humilde. Mas não, ainda tenho a vaidade de sorrir, na cara e por dentro, no coração. Protesto por não aprender com os melhores a ser humilde.
Protesto junto de minha excelência por as minhas ambições serem muito diferentes de ou ter muito dinheiro, ou de querer parecer que não tenho muito dinheiro, ou ambas as coisas ao mesmo tempo, que parece ser possível na cabeça de alguns. As minhas ambições não têm é nada a ver com dinheiro, e essa modéstia é hoje em dia é um luxo e uma vaidade. Eu deveria portanto ser mais humilde.
Protesto por tudo isto junto de minha excelência, o vaidoso.

Humildemente,
Francisco Aires Marchante (Presidente da Junta)

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