Tuesday, October 4, 2011

Info-exclusão para sempre


Às vezes pergunto-me que espécie de vida podemos nós ter, nós info-excluídos, à medida que a realidade se vai tornando cada vez mais virtual. Antes de mais, será que para além das alfaias electrónicas há ainda vida? Empregos, casas, bolsos, mentalidades, está tudo a ser invadido.
A EXCLUSÃO. É esse o nosso destino, aparentemente. A palavra diz tudo. O que é que uma pessoa há-de fazer? Gostaria de saber realmente se estamos tramados. Na minha vida (bastante pura e analógica!), respondo ao ataque com militância e luta, camarada. Mesmo que eu não saiba muito bem em que é que isso se traduz. Encontro no entanto muita gente bem pior, digo eu, gente que se queixa dos abusos de poder das máquinas mas que já nem reage. E isso faz falta. Podemos começar por brincar um pouco mais a sério, digamos assim, com o assunto: um passeio sem GPS, uma carta escrita à mão, dar de caras com um amigo e recomendar-lhe um livro, fundar uma associação (porque não? nós fizemos um blogue!).
O problema, como se vê, não é fácil de resolver, mas não me digam que não há nada que se possa fazer. Não é verdade. À medida que escrevo esta belo texto, por exemplo, sei bem que é como se a info-exclusão, o pior que há nela, já tivesse ganho! Porque tudo quanto se possa dizer sobre a questão (sobretudo num blogue, eu sei), como os exemplos de respostas a dar-lhe, parecem coisas ridículas e inúteis, num mundo infectado, e satisfeito, com a bendita tecnologia. Só que o problema é real, e ter vergonha de admiti-lo não resolve nada. Info-excluídos, por favor não vão por aí.
Para deixar claro, não é necessariamente a tecnologia que está em causa, mas a excessiva dependência e alienação que provoca na vida da maior parte das pessoas, além da discriminação sobre quem escapa aos dois primeiros males, que é ainda pior. Eis como se resume o «problema», da nossa perspectiva: a info-exclusão seria uma bênção, como poder comer de simples faca e simples garfo num jantar de gala. Mas acontece que os engalanados preocupam-se mais com os próprios talheres do que com a refeição.
E àqueles que dizem que não saber à partida usar os talheres é a raiz do problema, convém talvez lembrar que pode não ser fácil perceber quanto disso se deve à aversão e quanto se deve realmente a incapacidade. Há gente que teria capacidade, simplesmente é alérgica. Já todos lhe ouvimos chamar muita coisa, não é verdade? Mas pense lá bem se tem mesmo paciência para talheres. E depois há isto: ninguém se chateia, nem é muito chateado, se não souber construir um palheiro, ou gravar uma canção num estúdio profissional, por exemplo. São meras tecnologias também. Que ou bem que se domina, ou que não se domina. E pronto. Mas uma tecnologia que chega e quase ocupa toda a paisagem, adquirindo enorme relevância social, como é o caso não de uma mas de várias, tão «importantes» que já nos referimos a elas genérica e simplesmente como «a tecnologia», como se fosse a única, ou então dizemos «as novas tecnologias», como se não houvesse outras igualmente novas; enfim pois, com essa, ou com essas, é completamente diferente. É outro filme.
Por isso é que não podemos deixar de ser nós, info-excluídos, a dar os primeiros passos no sentido da desmistificação da importância das alfaias nas nossas vidas. Porque um meio é apenas um meio, não pode (obviamente) ser um fim em si mesmo. Isto nas nossas vidas info-excluídas, mas diga-se, é assim na de todos. Devemos ter a essa pretensão de sabermos melhor do que os outros, e de os querermos ajudar (por mim não peço outra vingança!).
Mais uma vez, já que houve ali uma frase que, vá-se lá saber como, me parece ter saído bem: um meio é apenas um meio, não é um fim em si mesmo. Certo?

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