Monday, February 16, 2009

Jogos de azar

À sexta-feira feira vêem-se por todo o lado. Pessoas que se juntam à tardinha, e tiveram a semana toda, com o boletim do euromilhões na mão, as mesmas que de novo se juntarão, no último dia do prazo, para entregar a declaração do IRS. Que gente é esta, nós? A gente não sabe. Enquanto prolonga uma fila tristonha, vai pesando o dia de trabalho, as canseiras da semana e de toda uma vida suspensa na miragem do Jackpot que nunca calha à gente, que para todos os azares foi nascida, ou lá virá o dia, e se vier é justiça que se faz a uma vida tão malfadada. A fé no milagre, é desta que a gente acerta, é que a vai amparando, para não dizer resgatando, para quê ralar-se com a indiferença do sorteio face a estes anseios, que temos por justos e que aos números sorteados, e aos outros, parecerão futilidades, enfim, por que razão há-de a gente tentar perceber a gente mesma? Não nos calha.

Gosto de pensar que boa parte dos portugueses que se tornam euromilionários de um dia para o outro - o que nos acontecerá a todos no prazo de umas dez milhões de semanas, a continuar a este ritmo – se empanturram de excentricidades. O anúncio deu o mote, e bem, haja quem gaste dinheiro às pazadas, se é para continuar com a história do desgraçadinho (ai agora o que é que eu faço com tanto dinheiro, ainda mo roubam, vou continuar a comprar nas lojas dos chineses para não levantar ondas, e depois faço umas obras na casa de banho) não valeu de nada, mais valia continuar encostado à parede, com o boletim na mão, na fila do café. Ao menos nessa altura podia a malta sonhar com o euromilhões.

Eu cá, por essas e por outras, só jogo nos melões. Faço palpites, estudo-os e aposto. E a verdade é que frequentemente perco o dinheiro, porque é difícil acertar num bom melão. Jogar nos melões é mais adequado para quem não está preparado para ver a sua conta inchar subitamente como a de um oligarca russo nos anos noventa. Nenhum português está, tirando alguns que não se pode dizer. Apesar do nosso instinto e do nosso desembaraço, nunca saberemos ser oligarcas nem russos, só eles sabem como se faz. Nós desenrascamo-nos bem, mas precisamos de estar na miséria, ou, quando muito, assim-assim, para nos podermos queixar: “estou à rasca, pá”.

É bom que o país continue a apostar no euromilhões, desde que seja para acabar com tanto queixume. E os resultados estão à vista: nós somos os campeões do euro. Estamos sempre a limpar os prémios, entre tantos países concorrentes. Estou a falar do euromilhões, porque o futebol é outra fruta. A bola é redonda, o melão é que tem aquele formato da cara que fazemos quando descobrimos que o prémio saiu a outro marmelo qualquer, por acaso, ou talvez não, também português.

Devemos ser o povo mais sortudo com os indivíduos mais azarados da Europa. É ou não é de ficar com um grande melão? Calha-nos sempre, mas nunca à gente. Para o bem e para o mal, somos os derradeiros euromelões.

1 comment:

Tari said...

Concordo com a tua opinião.

Somos um país de pequeninos em que muitos deles não tomam o café no dia-a-dia para apostar no Euromilhões à sexta, quando se juntassem o dinheiro que apostam ao final do ano, já tinham uma real e boa poupança.

E sim, ninguém está de todo preparado para ser multi-milionário e por mais que pareça aliciante, era certo termos a nossa vida totalmente mudada e complicada o resto dos nossos dias.

Mas não vale a pena falar, são opiniões de uma minoria.

Eu não jogo exactamente por defender esses dois pontos e por isso resolvi opinar...

Beijinhos**