Faz hoje uma semana foi dia de entrega das avaliações na minha escola. De véspera preenchi de cor vinte e dois cabeçalhos com nomes completos e depois, por baixo, as minhas bem intencionadas observações sobre aproveitamento e comportamento. Já sei que no próximo período devo contar com vinte e uma fichas apenas: os pais da Yoani (não é obviamente o seu verdadeiro nome) «têm que ir trabalhar para a Suiça». Fazem as malas nos primeiros dias de Janeiro.
Por várias razões esta notícia tem ocupado parte dos meus pensamentos. Uma delas é andar a antecipar já a ausência de Yoani e a estranheza que sentirei ao não a ver sentada no seu lugar. Decorreram alguns dias até me aperceber que esta minha pequena angústia não tem comparação com todas as que ela poderá sentir: quase tudo será de diferente na sua vida daqui para a frente: escola nova, colegas novos, professores novos, língua e países novos, por exemplo. Claro que também existirão coisas positivas, novas experiências a que de, outro modo, Yoani não teria acesso. Acontece que os seus pais não tomaram a opção de ir viver noutro país para lhe proporcionar o contacto com novas realidades, nem por apreciarem particularmente algum aspecto da cultura desse país. Nem sequer se trata de deixar uma carreira em Portugal para aproveitar uma oportunidade melhor. O que me preocupa verdadeiramente é saber que este é apenas mais um caso de uma família cujo país - o nosso - não consegue sustentar.
Não devíamos nós por esta altura ter deixado de enviar uma tão grande fatia de cada nova geração «para a Alemanha», «para a Espanha», ou «para a França», enfim, «lá para fora»?
Muitos dos colegas de Yoani passam meses sem ver o pai (ou pai e mãe, por vezes), separados da família para não a obrigar a ela a separar-se de tudo o resto. Podemos continuar a viver assim - ou antes, a sobreviver assim - mas isso será não só um sintoma como também uma causa do nosso atraso. Avançámos aparentemente muito em pouco tempo (o que é que isso significa é outra história; digamos que é o opsto de 'atrasar'!) mas há um atraso que permanece, que não soubemos ultrapassar e se manifesta às primeiras dificuldades. E que, infelizmente, deixaremos como legado a Yoani e a todos os colegas que já para a semana se voltam a sentar nos respectivos lugares.
Monday, December 28, 2009
Yoani merecia outra coisa
Sunday, December 13, 2009
Vida animal
O meu cão à noite uiva. E ele ladra de dia quando não está a comer ou a chover. Mas estava mesmo agora a tentar adormecer, eu, e ele a ladrar sem descanso. É um cão que até ladra a qualquer hora, uiva muito também, dá ainda mais pena, à noite, parece uma pessoa. Aliás, dá nervos, uma fúria enorme. Quem me dera que começasse a chover para ele calar a matraca. Dou cem euros a quem ficar com o parvalhão, o mail é jbailica@gmail.com. É pequeno e não uiva de dia. Eu vou ao quintal. O canito ladra muito. Ele late-que-late que eu sei lá. Eu vou para o sofá. O cão é mau. O menino está chateado. Não posso sair de bicicleta. Nem chegar de carro. Nem urinar atrás de uma árvore ali perto. Para ir à quinta faço um desvio. Ladra sempre que me advinha, ou late ou cainha. É muito fino, quando os gatos fazem aqueles barulhos em Janeiro ele já os faz há muito tempo, penso que seja, aquele gatinhar, só se é alguém. Há aquela gente que gosta de vozear à noite e ele responde, logo, atira-se ao ar. Retruca. Eu pelo menos acordo de facto muitas vezes com o que me parece ser isso, uma artilharia totalmente desvairada que maluca, o malucão, resposta a vozes ou gatos que chego a pensar que ouço um pouco antes, não sei, se calhar é ele que faz tudo, de intruso e de cão de guarda zangado. Os gatos fazem mesmo lembrar uma pessoa aflita, e ele também sabe fazer isso em qualquer mês, isso e tudo menos estar calado, só se é alguém. É muito expressivo. É óptimo a fugir de qualquer lugar. Gosta muito de passear. Tem auto-estima e bom pêlo, principalmente quando está um dia bonito. Ao princípio íamos devagar porque ele corria para todos os lados ao mesmo tempo e nunca chegava a afastar-se por inteiro. Nem um pêlo me obedecia. Chamava-o e ele não vinha e então eu corria atrás dele e atirava-lhe pedras até ele parar. É muito mansinho. Fazia-lhe festas na barriga. Então achei que era melhor usar uma trela e comprei uma gira. Atrelado já não dava para eu ir devagar, que ia preso. Chegávamos a uma zona mais isolada e soltava-o durante meia hora, o resto era ele que não aparecia no lugar e hora combinados. Era depois esperar estar acordado quando chegasse na manhã seguinte, a ladrar por causa da fome e porque ele é assim. E por causa da alegria e da ansiedade. Tem todas as intangíveis expressões da condição canina, se calhar. Come de tudo e muitas vezes não há nada que lhe venha bem, ainda não sei qual é a sua ração preferida, os sacos que vou amontoando estão incluídos no preço com que me desfaço do cão e a trela também.
Thursday, December 3, 2009
Lanterna mágica
                                                        
Wednesday, December 2, 2009
Lanterna mágica
                                                        
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