Saturday, November 29, 2008

Encontrei isto

É uma história engraçada, quase teatro de comédia (tenho ideia que já ouvi algures algo parecido, mas posso estar enganado), que encontrei aqui.

(Aliás, quem a encontrou foi um comparsa, que gosta mais de ler e comentar os blogs dos outros do que escrever no seu, mas enfim.)

Friday, November 28, 2008

Entrevistas a pessoas da nossa terra



A srª. Maria dos Anjos Sobral vive no lugar dos Malheiros, mas é conhecida em quase toda a freguesia de Romaride. Em tempos foi das pessoas que mais protestaram contra o encerramento de uma instituição de apoio a crianças pobres de Romaride, porque os homens tinham emigrado e pouca gente sabia ler e escrever. Ela era, aliás, das poucas mulheres que não eram analfabetas. Soube criar os filhos e os netos, e ainda ajudou e participou, ao longo dos seus 82 anos, em várias associações e iniciativas, como o Rancho Folclórico de Romaride.

Filipa – A srª Mª dos Anjos como é que aprendeu a ler?
Srª Maria dos Anjos –
O meu pai era lavrador e teve seis filhos. Só os dois mais novos é que foram rapazes, as quatro primeiras tudo raparigas. Eu sou a terceira, a Custódia era a mais velha. E eu fui a única das minhas irmãs que aprendeu a ler. Isto porque a minha irmã Custódia foi servir para um padre que nessa altura veio para Romaride aos doze anos. E eu não podia ficar em casa sozinha, ia mais ela e por lá estava, quando assim calhava. E foi com a irmã do padre, que era mais velhota que ele (e ele também já não era novo), que eu fui começando a aprender.

Filipa – E foi fácil?
Srª Maria dos Anjos –
Ah, aprendi como os outros! Os que puderam, quem podia aprendia. Mas nunca fui muito rude, sempre gostei de aprender de tudo.

Filipa – E depois as outras raparigas iam ter consigo para lhes escrever as cartas aos namorados, não era? Não ficava atrapalhada por estar a escrever coisas de namorados?
Srª Maria dos Anjos –
Escrevia para raparigas e rapazes, escrevia para quem calhava. Mas elas eram mais velhas, já raparigas com ideias de casar. E outras casadas. Eu não pensava ainda em namorar, tão pouco. Sempre escrevi cartas, desde os meus doze ou treze anos.
Os homens, coitados, iam trabalhar para longe e depois falavam-se era por carta, com os familiares e com as namoradas – ou até outros assuntos. Mas era com respeito, [porque] tudo o que eu escrevia era na mesa da sala, elas ditavam e eu é que escrevia. Mas o meu pai e a minha mãe estavam sempre à disposição de entrar. E que não estivessem, para mim não fazia diferença. Naquela altura o namoro, propriamente, era diferente do de agora.

Filipa – O meu avô é que me disse que a srª sabia alguns segredos dos namorados, mas segredos sem maldade, e que por isso toda a gente a queria como amiga nas festas. Como é que eram essas festas? E o que acha das diversões dos jovens de agora?
Srª Maria dos Anjos –
Olha, vou-te dizer, tu que idade tens minha rosa?

Filipa – Dezasseis.
Srª Maria dos Anjos –
Andei contigo ao colo, já a minha neta mais nova andava na escola. Tu ainda não foste estudar para fora?

Filipa – Não.
Srª Maria dos Anjos –
Já sabes o que vais seguir?

Filipa – Não sei. Talvez jornalista.
Srª Maria dos Anjos –
Sim. Eu só comecei a ir a algumas festas, assim pelo dia, quando era da tua idade, mais ou menos. Àqueles bailes à noite, que às vezes havia aqui ou ali, nunca fui, nem em casada nem em solteira. Só o que é … eu era muito boa companheira, e sabia as canções, os versos, sabia aquilo tudo. Não era pelo dançar que eu lá ia. Sempre fui muito amiga de aprender. Dos meus irmãos todos, rapazes e raparigas, só eu é que sabia aquelas coisas dos antigos, dos nossos pais, nossos avós, e ainda sei a grande parte delas. E era por isso que toda a gente se queria dar comigo. Puxavam por mim, e eu cantava, não era pelo dançar ou isto ou aquilo que eu lá ia. Sempre gostei de cantar, e cantava, está claro, não cantava mal, pelo que diziam [risos]. Mas agora dizendo mesmo verdade das coisas como elas eram, nunca fui cá de agarramentos, isso assim não!

Filipa – Depois casou, o seu marido também foi emigrante e a srª é que ficou a tratar dos filhos. Eram tempos difíceis?
Srª Maria dos Anjos –
Criei os filhos e os netos, com a ajuda dos pais claro. Tudo aprendeu a ler e a escrever comigo! A fazer contas, muitas cantigas… sei lá! Agora alguns já estão formados, outros para lá caminham.
Mas trabalhava muito, pronto. Era uma vida… de trabalho, sempre toda a vida. Mais nada.

Filipa – E como é que foi naquela altura em que queriam encerrar a casa da criança?
Srª Maria dos Anjos –
Bom, isso era uma coisa que queriam fazer… era para passar para outro sítio, mais afastado daqui da região. Mas havia aqui muitas crianças pobres… em Romaride, em Eiras [de Sabaio], Valinhos, e outras. O povo opunha-se muito a isso. A casa já cá não está, pelo menos como ela era, mas enquanto cá esteve fez muita falta, e veio tudo dessa altura, da força e da luta do povo de Romaride. Disso nunca mais me esqueço.
Eu conhecia uma pessoa da direcção daquela obra, daquela assistência, em Coimbra, que era a irmã Adélia. Era uma pessoa dos conhecimentos do padre de Romaride. Ele, o padre, é que achou que era melhor ser eu a escrever para ela, também porque via que eu era das mais interessadas no caso, além de não haver muita gente a saber escrever, naquele tempo, os homens grande parte deles estava fora... E era para ela ver o que é que as pessoas da terra pensavam, os casos de miséria que por aí havia e isso tudo assim.
Escrevi muito, de negócios, terras, casamentos, ajudei muita gente, posso-o dizer, graças a Deus, mas esta carta foi a que mais gosto me deu escrever. Em nome das mães e das crianças mais desagasalhadas.

Filipa – Eu concordo com tudo. Mas falando de outras coisas, a srª teve um papel muito importante no nosso rancho. Quer falar disso?
Srª Maria dos Anjos –
Papel importante tem o teu avô [risos]. Andei nisso do rancho, mas só para ensinar as modas, não tinha tempo para andar a cantar. Nem a dançar [risos]. Isso é bom é para ti [risos]. Gostava de te ver lá, a dançar!

Tuesday, November 25, 2008

Litorânea




No último fim-de-semana fui passear ao litoral de Portugal. Há inúmeros lugares lindíssimos à espera de serem descobertos, uns mais remotos do que outros, e eu acho que a praia tem um encanto especial no Inverno. Com as novas acessibilidades, para mais, o Litoral já não está assim tão isolado do resto do país.
Comprei uma máquina nova recentemente, em breve tratarei de colocar aqui mais fotos, incluindo algumas do nosso Vale. Espero.

Thursday, November 20, 2008

É muita frescura

O percursso da nossa selecção, de há um tempo para cá, tem sido tenebroso. Temos perdido ou empatado demasiadas vezes com equipas de um nível claramente inferior ao nosso (tão inferior que nem me lembro bem quais foram: Albânia? Azerbeijão?).

Agora até já nos permitimos perder com o Brasil, um país mais conhecido pelos cantores, actores, publicitários e gestores de companhias aéras que, não poucas vezes, dão um bigode aos nossos. A nível mundial, destaca-se pela emergente pujança da sua economia, pela importância política que lhe vem sendo reconhecida e pela afirmação da sua cultura e da sua língua. Até entre nós se nota essa marca, bem visível em vocábulos como bicha, no campo dos costumes frescos, e acessar, no campo das novas tecnologias. Não é que não existissem esses costumes e essas tecnologias antes, mas as palavras novas ajudaram a descomplexá-los um pouco, a torná-los mais acessáveis, ao nível do discurso. Estas considerações podem parecer irrelevantes para o assunto que nos trouxe aqui, seja ele qual for, mas a verdade é que o vocabulário pode ajudar a revelar a verdadeira cultura um povo, a qual não é mais do que o resultado da combinação de gentes que semeiam determinada terra, condicionadas por um clima específico, num dado período de tempo. E é sob esta perspectiva que melhor se pode apreciar a exuberância e a riqueza daquele alfobre, que já foi nosso.

Seria exaustivo fazer qualquer espécie de lista com os principais frescos produzidos no Brasil, mas se atendermos só ao que se passou ontem, podemos analisar alguns dos que mais estiveram em jogo, a sua ressonância exótica, ainda que nem sempre bela, ao mesmo tempo que os comparamos com alguns dos nossos melhores tubérculos - vocábulos honestos mas mais secos, e já com barbas - evidenciando assim a frescura alegre de uns e o desconsolo da cara de bigode murcho de outros :

Dunga 6 - Queiroz 2
Escrete 6 - Equipa de todos nós 2
Anderson 6 - Quim 2
Confederação 6 - Federação 2
Canarinha 6 - Verde-rubra 2
Time 6 - Equipa 2
Goles 6 - Golos 2

Quem pensava que o Brasil se distinguía, sobretudo, por aquela maneira engraçada de falar, por ser um dos maires exportadores mundiais de produtos agrícolas e filmes sobre a realidade das favelas e prisões, ou por ter concebido um sistema que permite que uma quantidade assinalável de carros, e não de condutores, circulem impulsionados pelo álcool, enganou-se redondamente: eles, afinal, sabem jogar à bola.
Ainda assim, é caso para perguntar: era mesmo preciso tanta frescura (e um bigode assim tão grande)?

Wednesday, November 19, 2008

Lanterna mágica

Rock Around The Clock (Original Version)


Estamos em 1954 e o Rock and Roll está em plena gestação. Esta versão foi gravada apenas um mês antes da de Bill Haley, como se pode ler no próprio video. Mas vive noutra dimensão espaço-temporal.

Democracia

Se a democracia é o sistema político que há-de redimir o mundo, talvez não surpreenda que a ameaça da sua supressão seja comparável - e procure os mesmos efeitos ao nível da retórica - que a alusão ao fim do mundo feita pelas profecias.
Ontém foi Manuela Ferreira Leite (para onde lhe fugiu a boca, afinal?), antes tinha sido o general Loureiro dos Santos. Também me lembro de umas declarações de Mário Soares, há anos, sobre os riscos que correria a democracia portuguesa, se não fosse a União Europeia. Os propósitos (ou despropósitos) com que foram proferidas tais avisos, bem como os respectivos contextos, são diferentes, mas o fantasma do fim da ordem das coisas tal como esperamos que elas sejam, remetendo para o tempo futuro ou para o condicional, perpassa os três exemplos. Estes podem, em parte, ser lidos como um apelo à reflexão e ao arrependimento, mas nos mais recentes não é tão pequena quanto isso a tentação de perscrutar ecos de um desejo irreprimível de ordem e justiça que transcenda as que existem, demasiado corrompidas pela usura e pela mesquinhez humana.
Apesar de a retórica nunca ser só retórica, oxalá seja só retórica.

Thursday, November 13, 2008

Ouvindo conversas, lendo fragmentos, observando sinais

"Ai foi o pretito que ganhou? Eu também estava por ele. Se calhar não sou racista, atão. O outro o que é que ele quer? É cá um velhão!"


(Uma senhora, estes dias, Eiras de Sabaio)

RTP 2

Infelizmente não tenho acompanhado tanto quanto gostaria um programa fascinante na dois: o Natureza e tecnologia, Domingos, às 21h. Eu sou muito dado a documentários, e já vi alguns parecidos com este (que não tem nada a ver com os tradicionais documentários de animais, a mãe protectora e os filhotes, o predador e a presa, etc), mas nenhum tão bem feito.
É verdadeiramente espantosa a inteligência da natureza na concepção de formas, revestimentos, modos de locomoção, etc. (um criacionista encontrará aqui muito material de apoio às suas teses - e um evolucionista também!). As possibilidades tecnológicas que os investigadores podem encontrar nas soluções da natureza, tal como se pode constatar no documentário, são muito mais do que teóricas.
Boa narrativa, apelativa mas económica, e óptima fotografia.

Thursday, November 6, 2008

O meu cão já tem sobrenome



Desde Setembro que tenho um cão pretito. Após a mútua alegria inicial, as primeiras preocupações que tive foram: onde é que ele vai ficar e que nome lhe hei-de dar. Por acaso tinha um espaço minimamente confortável, mas para a lenha, que era o que já se guardava lá. Começou logo a ganir mesmo muito alto (muito forte, que é como nós dizemos na música), mas o cão, que a lenha sempre se portou bem.

Eu estava convencido que mais tarde ou mais cedo aquele animal se iria calar. E assim foi. Mas quando de repente se fez silêncio até fiquei preocupado e fui lá ver. Percebi de imediato que tinha fugido através de um buraco que já estava meio aberto e eu não tinha reparado, mas logo o reparei. Procurei-o. Em vão, ele é que regressou tranquilamente, mais tarde. Não me resignei e deixei-o no mesmo sítio, sujeito a alguma reparação, e ele ainda escapou mais duas ou três vezes, aquele macaco. A mais espectacular foi uma em que ele se deu ao trabalho de roer a madeira da trave, da ombreira ou como é que se chama, e depois ainda teve que tirar uma tranca de outra porta. E andava sempre a fugir-me, mesmo quando o soltava no quintal e tudo. Era uma chatice, mas a verdade é que foi assim que eu resolvi o problema do nome: passou a ser o Fugas. Ainda hoje, toda a gente ‘ Ó Fugas, ó Fugas!'

Mais ou menos desde essa altura comecei a preparar outro sítio para o armazenar, porque não o queria obrigar a ficar num sítio onde não se sentia bem. É uma antiga estufa e tive que andar a pôr rede etc., por isso é que demorou tanto tempo! Por isso e porque o gajo fugia-me sempre, sempre de lá. Ao todo terão sido umas dez vezes, incluindo uma ou outra em que conseguiu fugir ainda antes de eu ter tido tempo de fechar a porta. Podia não conseguir fazer uma jaula à prova de Fugas, mas pelo menos toda a gente dizia que eu tinha escolhido um bom nome para lhe dar.

Hoje finalmente concluí uma prisão de alta segurança, para um criminoso compulsivo. Pus tijolos onde era necessário, amarrei a rede com o triplo dos arames e pus o cão lá dentro, que foi a parte mais arriscada. E fiquei a ver ao longe. Só que ele deu umas voltinhas, tentou furar aqui e ali sem grande convicção e desistiu. Ele deve ter percebido que não valia a pena tentar. É muito fino.

Por falar nisso, apareceu naquela altura o Arménio, que achou que era importante fazer uns melhoramentos no telhado da casota que também construí lá dentro. Estávamos atarefados com os trabalhos quando o surpreendemos a escavar um buraco. Não era um túnel para fugir, isso pensámos nós, mas não estava para aí virado, era um túnel direccionado apenas para baixo . E deixámo-lo. Depois é que nos lembrámos que devia ser estratégia: se não conseguia fugir pelos meios habituais, tinha que recorrer ao logro. Das escavações saíram coisas desagradáveis: restos de galinha, é melhor não entrar em pormenores. Como ele ameaçava continuar, vi-me obrigado a transferi-lo para as instalações antigas. Mas receio, e aqui é que entra o logro, que tenha sido coisa planeada. E que, neste momento, ele esteja a escavar mais uns centímetros no túnel que sabia ser impossível fazer na ala de segurança máxima.

É por isso que o quadrúpede já tem nome e sobrenome: Fugas Scofield.

Sunday, November 2, 2008

O interior

A minha existência, enquanto pessoa (bem como muito do que sou) é tão real como a do Vale Interior, terra de onde sou mas onde não vivo.
Independentemente das incertezes geográficas, das dúvidas existenciais, a minha preocupação com o interior do nosso país é genuína.
Ela foi uma das razões da criação deste blog.
Ainda não tive oportunidade para aqui deixar muitas mostras disso mesmo, mas espero que isso possa acontecer entretanto.
Para já, deixo um link que trata um pouco do assunto, sobretudo no que respeita aos problemas da Educação.
O blog, de resto, é bem interessante.

Saturday, November 1, 2008

De hoje a oito dias, na história


Algumas das entradas do dia 8 de Novembro no livro “Hoje na história” ( The History Channel) são:

392 – O paganismo é banido no Império Romano.

[seja como for]

1407 – Teofilato, o licencioso papa Bento IX, reivindica o papado uma terceira vez. Vendera-o uma vez, foi deposto outra e à terceira é expulso de Roma.

1620 – No início da Guerra dos Trinta Anos, as forças da Liga Católica destroçam o exército dos Boémios protestantes no monte Branco perto de Praga, República Checa.

1939 – Uma bomba explode numa cervejaria de Munique, Alemanha, minutos depois de Adolfo Hitler abandonar o local. Hitler interpretou ter ficado ileso como um sinal do apoio de Deus. O mesmo afirmou o arcebispo de Munique, que realizou uma missa para celebrar o milagre.

1960 – John F. Kennedy torna-se o mais jovem candidato, e o primeiro católico, a ser eleito presidente dos Estados Unidos, vencendo por estreita margem o vice-presidente republicano Richard M. Nixon.