Wednesday, November 19, 2008

Democracia

Se a democracia é o sistema político que há-de redimir o mundo, talvez não surpreenda que a ameaça da sua supressão seja comparável - e procure os mesmos efeitos ao nível da retórica - que a alusão ao fim do mundo feita pelas profecias.
Ontém foi Manuela Ferreira Leite (para onde lhe fugiu a boca, afinal?), antes tinha sido o general Loureiro dos Santos. Também me lembro de umas declarações de Mário Soares, há anos, sobre os riscos que correria a democracia portuguesa, se não fosse a União Europeia. Os propósitos (ou despropósitos) com que foram proferidas tais avisos, bem como os respectivos contextos, são diferentes, mas o fantasma do fim da ordem das coisas tal como esperamos que elas sejam, remetendo para o tempo futuro ou para o condicional, perpassa os três exemplos. Estes podem, em parte, ser lidos como um apelo à reflexão e ao arrependimento, mas nos mais recentes não é tão pequena quanto isso a tentação de perscrutar ecos de um desejo irreprimível de ordem e justiça que transcenda as que existem, demasiado corrompidas pela usura e pela mesquinhez humana.
Apesar de a retórica nunca ser só retórica, oxalá seja só retórica.

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