Thursday, November 20, 2008

É muita frescura

O percursso da nossa selecção, de há um tempo para cá, tem sido tenebroso. Temos perdido ou empatado demasiadas vezes com equipas de um nível claramente inferior ao nosso (tão inferior que nem me lembro bem quais foram: Albânia? Azerbeijão?).

Agora até já nos permitimos perder com o Brasil, um país mais conhecido pelos cantores, actores, publicitários e gestores de companhias aéras que, não poucas vezes, dão um bigode aos nossos. A nível mundial, destaca-se pela emergente pujança da sua economia, pela importância política que lhe vem sendo reconhecida e pela afirmação da sua cultura e da sua língua. Até entre nós se nota essa marca, bem visível em vocábulos como bicha, no campo dos costumes frescos, e acessar, no campo das novas tecnologias. Não é que não existissem esses costumes e essas tecnologias antes, mas as palavras novas ajudaram a descomplexá-los um pouco, a torná-los mais acessáveis, ao nível do discurso. Estas considerações podem parecer irrelevantes para o assunto que nos trouxe aqui, seja ele qual for, mas a verdade é que o vocabulário pode ajudar a revelar a verdadeira cultura um povo, a qual não é mais do que o resultado da combinação de gentes que semeiam determinada terra, condicionadas por um clima específico, num dado período de tempo. E é sob esta perspectiva que melhor se pode apreciar a exuberância e a riqueza daquele alfobre, que já foi nosso.

Seria exaustivo fazer qualquer espécie de lista com os principais frescos produzidos no Brasil, mas se atendermos só ao que se passou ontem, podemos analisar alguns dos que mais estiveram em jogo, a sua ressonância exótica, ainda que nem sempre bela, ao mesmo tempo que os comparamos com alguns dos nossos melhores tubérculos - vocábulos honestos mas mais secos, e já com barbas - evidenciando assim a frescura alegre de uns e o desconsolo da cara de bigode murcho de outros :

Dunga 6 - Queiroz 2
Escrete 6 - Equipa de todos nós 2
Anderson 6 - Quim 2
Confederação 6 - Federação 2
Canarinha 6 - Verde-rubra 2
Time 6 - Equipa 2
Goles 6 - Golos 2

Quem pensava que o Brasil se distinguía, sobretudo, por aquela maneira engraçada de falar, por ser um dos maires exportadores mundiais de produtos agrícolas e filmes sobre a realidade das favelas e prisões, ou por ter concebido um sistema que permite que uma quantidade assinalável de carros, e não de condutores, circulem impulsionados pelo álcool, enganou-se redondamente: eles, afinal, sabem jogar à bola.
Ainda assim, é caso para perguntar: era mesmo preciso tanta frescura (e um bigode assim tão grande)?

4 comments:

Abobrinha said...

É engraçado, no jornal da tarde na televisão insistem que perdemos 6-2! Não acho isto normal! É que não pode ser!

Anonymous said...

É mau de mais para não ser mentira.
E eu que fiquei acordado para ver o jogo (só até ao 4º ou 5º; mas com o sono posso ter comfundido e se calhar ganhámos 0 - 1; tu não viste nada, ou quê?).

Obrigado pela visita, Abobrinha.

Anonymous said...

ainda há aqui algué q n saiba q o brasil é um graaaande país? e mto redutor q o vejamos como o pais das novelas, samba, futebol,praia
(ía dizer nação, potência, etc...)

Anonymous said...

Fazendo um pouco o papel de Marques Guedes, tenho que dizer que concordo consigo,o Brasil tem emergido na 'cena mundial' como uma potência a nível económico, político, etc. (aliás, é isso que diz o texto).
Como se não bastasse isso, ainda jogam que se fartam, o que não é surpresa - esse é até um dos estereotipos que mais caracterizam uma certa visão desse país, uma visão redutora, concordo consigo, e isso é uma das coisas que o texto pretende dizer (mas não assim, directamente!).
Outra coisa 'que pretende' é tentar encarar de uma forma ligeira (se é que é possível) e irónica um resultado pesado: 'é um resultado deprimente, e o adversário era 'só' o Brasil'.

A tentativa de usar a ironia, tal como a de Manuela Ferreira Leite, pode não ter resultado muito bem, mas pelo menos existiu, de facto, ao contrário da dela (digo eu).

Até à vista!