Monday, December 13, 2010
Monday, November 29, 2010
O
Esta situação é parecida com a daquelas pessoas que têm um problema na ala e não conseguem dizer o ‘c’ ou o 'l', com a diferença de que isso até tem graça. E isto chateia. A tecla até unciona, só que tenho que insistir e azer um jeito, assim: ffffff. Fffff. Fffff. Quando me esqueço, ou não estou para me ralar, envio como estiver (um ormulário para o ministério da agricultura, por exemplo, também ninguém lê, é na boa), só que depois, se or alguma coisa importante, é mau, aquilo às tantas é tudo lido. Já falei com o técnico, que me disse para retirar a tecla, que elas são de encaixar, e limpar o pó. Mas eu tenho medo de que alguma coisa possa acontecer, desde partir o disco às tantas até provocar um enorme incêndio, e gostava que osse ele a azê-lo, o problema é que tenho vergonha de lhe dizer. F! São sobretudo estas as minhas aventuras de in o-excluído (ó pá, mas tantas outras!), nada de mais. Sinto-me, quando aço um es orço, relativamente con ortável, com a situação, excepto neste pequeno detalhe de icar às vezes diminuído e desesperado e fodido com isto. Não é propriamente um estigma social, é antes como se tivesse pulgas e piolhos, assim é no undo a in o-exclusão, mas não não ligo muito a isso, está tudo bem, até é divertido (e não parece...).
Wednesday, November 10, 2010
Isto não vai passar
O Mário não pagou o gás e por isso a Júlia toma um duche frio, numa das versões da história. Júlia resolve ligar a Susana.
Sim, logo vou ficar a tua casa.
Só por causa do gás?
Como é que soubeste?
Foi ele.
Como é que ele soube?
Disseste tu.
Disse?
Gritaste, no banho, ou ameaçaste, qualquer coisa assim.
Não, não é só por causa do gás.
Pois, mas ele pediu-me para eu dizer que não.
E tu?
Disse que... ia dizer que não.
Porquê? Não sei, para vosso bem, acho eu.
O nosso bem, essa é boa!
Estou a ver.
E então, posso ir?
Bom, se tens a certeza que é o melhor, acho que sim, mas vou ter que lhe dizer que não estás cá.
Claro, é isso.
Ele de certeza que vai rondar a casa de vez em quando, e também vai telefonar para cá, mas tu nunca podes atender!
Sim, sim, é isso.
E depois, quando tudo passar, também não lhe vais poder dizer nada, inventas uma história qualquer.
Claro que não digo nada.
Prometes?
Prometo, mas ouve, ISTO NÃO VAI PASSAR.
Pois, é que se disseres fico eu com um grande problema!
Eu compreendo, mas ouve-me, isto NÃO VAI passar!
Eu já lhe prometi que não te recebia, se depois ele souber…
Não vai sab…
… é capaz de me fazer alguma.
Não, que exagero, ele nunca te vai fazer nada.
Exagero? Bom, o Mário não é propriamente uma pessoa…
Quê?
Fácil, sabes que...
Não, não é.
Ah, continuas a não gostar que se fale…
De quê?
Esquece, eu...
Olha, o Mário pode ter o feitio dele, mas acho que não te faz nada, é só isso.
Não digo bater-me, mas sabes bem como ele gosta de inventar coisas... meio estranhas.
Sim. Às vezes.
Não são assim tão poucas, e sem necessidade nenhuma. Parece que tem gosto.
Sabes como ele é...
E tu também sabes, e mesmo assim... sinceramente não sei como aguentas. Aquelas piadas à frente de toda a gente, o que ele diz de ti...
Sim, eu sei.
Olha, a mim já me apareceu na loja num dia de movimento...
Só para se fazer de desconhecido.
Sim, eu a falar para ele naturalmente...
E ele a olhar para ti, espantado.
Sim, e só...
Porque há não sei quanto tempo não o reconheceste não sei onde.
Sim. Eu digo que foi por isso, não sei. É coisa que se admita? Não o venhas agora defender, já que me quiseste envolver!
Não, não é isso. Escuta, isto não é fácil para mim... mas tu...
O quê?
Também te ris às vezes do que ele faz! Ou não?
De algumas coisas, sim. Mas cada vez menos.
Para ele é tudo... um jogo, compreendes?
Escuta, agora já não importa.
Ele é assim, e eu... eu não queria que tu ficasses a pensar que ele é uma espécie de monstro. Compreendes?
Compreendo.
Nem que eu sou. Compreendes?
Tu?
Eu depois ligo-te. Por favor, tenta compreender.
Saturday, October 23, 2010
Lanterna mágica
                                                                                                    
Thursday, October 14, 2010
'Um clique, uma eternidade', em Eiras
Ao ver noticiados casos polémicos do famoso «Google Street View» um pouco por todo o mundo, lembrámo-nos, a nível da Junta de Eiras, de enriquecer o nosso sítio digital da Junta com fotografias das ruas principais e dos locais mais marcantes da freguesia, através de um concurso de fotografia. Estradas com buracos, ou problemas nas infra-estruturas da responsabilidade da Junta, não vão obviamente ser aceites.
Espero ter levado à certa alguns com esta partida, mas ela tem o seu propósito: pelo contrário, haverá espaço próprio para os cidadãos comunicarem alguma anomalia que encontrem no seu dia-a-dia. Eu não gosto daqueles órgãos de informação autárquicos que dão a notícia da inauguração da estrada nova, ou das obras na estrada, mas que não dão a conhecer a realidade antes: «Estrada precisa de obras urgentes», que também devia ser notícia. Claro que tanto o nosso jornal como o nosso sítio na internet são veículos principais para pôr os eirenses do trabalho desenvolvido pela junta, que é uma missão que classifico de informativa, para a avaliação do que tantas vezes escapa a quem cá vive e anda na sua lida diária, mas não estamos indiferentes aos problemas. Mas o nosso novo projecto relativo às fotografias vai ter um cantinho especialmente para as sugestões e alertas ou reclamações.
Concretamente, na parte do concurso há atribuição de prémios de acordo com regras e prémios que podem consultar-se no nosso site ou directamente na Junta. Estamos certos que o empenho dos eirenses vai ser grande, como é o amor que lhe temos. E a beleza da nosssa terra, nunca é demais lembra-la, é suficiente atracção para os seus filhos, para além claro forasteiros. «Um clique, uma eternidade» foi o lema escolhido, votando eu vencido «Fotografar o sentimento», já agora.
Vamos mostrar que quando queremos somos dignos do nosso melhor. Mesmo nestes tempos difíceis é também nos pequenos gestos, que são por vezes os maiores, e é na atitude, quanto a iniciativas como esta e em tudo. Uma frase célebre de Aristóteles, de que sempre gostei, diz: «a felicidade é ter algo que fazer, algo que amar e algo que esperar». Nela está tudo o que quero sempre e o que procuro sempre de incentivo para nós, enquanto comunidade, pois é nisso que me esforço, quer na actividade que me coube quer aqui, ao partilhar convosco neste simples texto. Oxalá assim seja, e se há que esperar, como diz o filósofo, então além de esperar que seja um êxito, podeis esperar também por novas iniciativas da nossa parte, que vamos preparando, assim haja possibilidade. A mais séria candidata, posso revelar, será a iniciativa de arborização das localidades da freguesia. Se houver vontade, com a ajuda da população, vamos de futuro tentar envolver todos neste projecto que sem dúvida de embelezamento, mas de civismo, de reforço dos laços afectivos à terra e à comunidade.
Monday, September 20, 2010
Mercearias mortas
O homem do mimimercado vendia peças de fruta morta, cortado já o fiambre morto, antes de hesitar novamente nas mesmas contas certas, como pesos mortos, para este senhor é uma embalagem de vinho morto, pão morto já não há minha senhora, ainda vai agora buscar troco escorrido, algures por uma porta para as traseiras que ligam ao pátio ajardinado, enquanto as conversas mortas com os clientes ficam mais sós ainda.
Depois de eternos minutos mortos regressa com passos de grão-de-bico entornado, nos olhos aguados de vitrina uns óculos fundo de garrafa de bagaço e gestos de biscoito seco numa magreza de papel vegetal.
Repassam moedas, ora aqui tem, a filha despachada, e se é uma fortuna, os sacos, já de lá vem assim, manuais gastos, os olhos da cara é que é, olá, para mim não me fica nada, uma boa tarde. Da rua cantam pássaros, e abaixo os últimos passos surdos e carregados. O homem do minimercado camisa de toldo sujo e engelhado passa ao pátio ajardinado nas traseiras, vazio, até cansado recolher os grãos para ouvir os pássaros que cantam na rua.
Chegam as entregas nas carrinhas, em pacotes familiares para arrumar. Os sacos de batata amarela são a mulher, as margarinas e os azeites nacionais são os sogros, as bebidas são o cunhado, o que não havia esta semana é a filha, ele é o queijo amanteigado.
Fechada a porta da rua, tudo está arrumado, sai pelo pátio ajardinado e sobe ao primeiro andar. Meio morto no noticiário das oito, enchouriçado de má-vinho, o cunhado, enquanto a mulher coze as batatas, para os sogros, tens mais do mesmo ou vai-se lá a baixo, já não me levanto do sofá, e as minhas batatas, precisam de azeite, a miúda, janta fora, pois para mim pão com queijo.
E logo depois mais pássaros e mercearias mortas, amanhã.
Friday, September 3, 2010
Fosso de orquestra
(caricaruras sonoras)
Passos Coelho - cravo
                                                        
Thursday, August 12, 2010
União Europeia, alegações à roda
A ideia de que se há-de construir a Europa, mesmo no que tenha de mito forçado, serve para divertir os desejos de poder por via imperial, alegadamente substituídos pelos encantos de um amor fraternal idealizado. Se esta ideia, usada assim para descrever uma impressão, fizer algum sentido e se for isto verdade, não há aqui nada de extraordinário nem de original, enquanto ideia geral para tudo. Logo, à natureza: depois de sempre, busca-se outra vez e outra vez a ilusão da inocência primitiva da criação, alheia à dor e luta entre as bestas bravas e as mansas. A fraternidade entre as nações também está sempre prevista nesse plano elevado, que um pedestre como eu também sonhava e sonho vagamente. Talvez a Europa seja a mais ousada, ou a mais ingénua, na sua construção de legos.
Mas é aborrecido construir sonhos, é melhor sonhá-los. As pessoas, dando-lhes bem a volta, entregar-se-ão com mais entusiasmo à guerra, outra vez: está sempre tão perto a tentação e o impulso para a destruição - dos sonhos dos outros – como em nós a tentação para a dissolução nos nossos. Por receio daquela tentação destrutiva mas nos ditos outros, e por pudor de cada não-outro em admitir a sua, os mesmos e os outros, em conjunto, que são todos, podem ver mais benefício a dado momento histórico em substituí-la por uma trégua ritualista (ritualizada). Daí a União Europeia, e daí ela ser assim, uma obrigação aborrecida.
Uma chatice. Claro que os dirigentes políticos europeus têm a missão concreta de tentar construir a grande ilusão e nisso se sentem autores do real: é a autoridade da realidade europeia o seu poder, mesmo que ela seja uma ilusão; e de resto, se tem de haver alguma, sempre há outras bem piores. Em todo o caso, quem tem poder não se aborrece tanto. Mas os liderados são outra história, porque não têm poder nem amor, que também serve para desaborrecer (amor pela realidade europeia constantemente em construção).
Ou, se têm amor, é um amor aborrecido, que nunca é amor.
Friday, July 23, 2010
Thursday, July 8, 2010
Info-excluído
Info-excluído não é apenas expressão de capricho insensato na escolha de nome para dar à expressão desta gente - nem a condição em que a gente tranquilamente se reconhece. É também o nome de um dos autores do blog. Que nunca chegou a escrever nele nada. E que mesmo assim se atreve a vir agora com o seu próprio e exclusivo sítio. Até daqui se exclui.
Sempre o mesmo.
Tuesday, June 22, 2010
Ouvindo conversas, lendo fragmentos, observando sinais
Hoje creio que dá. Esteve aquela mulher a falar até esta hora, huumm, quando é isso parece que costuma a dar. Deve estar pra começar breve. Eu só gosto de ver por causa das pessoas que levam coisas para lá pra ele, e depois aquele Miguel que está lá em cima… farta-se de rir. Olha, ele ri-se tanto, tanto, tanto que é uma coisa por demais, até isto parece que estremece, estremece… TUDO! Quando é a bola não me interessa para nada. A gente não percebe nada do que eles dizem! Eles haviam era de dizer quando é que dava e não dava! E também gosto de ver aquelas que ao princípio vão para lá todas contentes, eeeehhh, com os braços no ar, depois estão, não são chamadas e ele vai lá e pergunta-lhes então quanto é que dava, e elas, ah… ficam assim, uhm [risos] e vai, vai, vão-se embora sem lá ir[risos].
(Irene Bisgata, 88 anos, Eiras de Sabaio, ontem, 19:10)
Wednesday, May 26, 2010
De quanto vimos
O melhor blog de uma australiana em Portugal que conheço. É este. Divertido, original (toda a aventura da antípoda o é, aliás), e ainda capaz de nos fazer pensar. Sobre a gente.
Entre o divertido e o assim-assim, em doses diárias (nem que seja por isso, é digno de nota!). Por vezes original. Ora então.
Para dar alguma seriedade. E tem interesse.
Monday, May 10, 2010
Eu nunca mais.
Nunca mais quero saber de futebol, com este sistema aleatório. O Benfica devia ser considerado campeão a meio da época por uma assembleia de pessoas que percebam de futebol. Oficialmente. (O Braga podia ter ganho o campeonato ontem!) Ou então que se faça tudo por meio de lobbying junto dos árbitros. O chamado sistema da corrupção dos árbitros não cai bem na mentalidade portuguesa e é uma pena. Já se tentou, mas dá muita polémica.
Nunca mais quero sofrer assim, nunca mais. O pessoal no café festejou na mesma, e eu não, fiquei a um canto, cansado e perplexo. Perplexo com a falta de emoções que me veio, quase mais triste do que alegre, e sem emoções, e a sofrer. É só o que posso dizer.
Mesmo no final, quebrou-se a imagem heróica da equipa que vimos durante o resto da época, e de qualquer maneira gosto mais da emoção espontânea de uma boa jogada do que do calculismo pequeno-burguês com os pontos e a tabela classificativa, sobretudo se obriga a um clímax constantemente adiado, um campeão devia ser um fazedor de boas jogadas sucessivas. O Benfica só não o foi no fim! Entristece mas é assim.
Também acontece que quando uma coisa de sonho é muito esmiuçada somos obrigados a pensar nela como em coisas do dia-a-dia, uma torneira, um tremoço, etc., e isso leva-nos depois a que nos interroguemos sobre o que é que estamos ali a fazer a olhar para aqueles palermas a jogar.
Por isso este sistema, em que uma equipa claramente de sonho vai até ao fim oprimida pelas contingências da realidade - mesmo que absurda! -, não me parece o melhor.
Entretanto isto também me há-de passar, vou perceber que somos campeões e vou ficar eufórico. Já andava nisso, e tinha começado a escrever um texto eufórico, na semana passada, antes de termos perdido com o Porto, agora fica para quando me apetecer. Então até lá e saudações desportivas.
Sunday, April 25, 2010
Lanterna mágica
                                                        
Thursday, April 15, 2010
Decidi receber cá o compasso na Páscoa
Que ela é bonita como a Primavera que está nesta altura muito contente, já fala com a gente. É esta alegria, a Páscoa, as sombras bem desenhadas pelo sol da manhã e um padre com um vestido às flores de casa em casa e tudo o mais, as pessoas cantando por dentro para o meio-dia.
Sou uma teologia de cima a baixo, já, não é nada de mais, é a ciência que toda a gente pratica quando a cabeça esquece as tarefas do escritório da Suiça e se perde desdenhando das leis da gravidade, tal como as conhecemos, à velocidade da luz. Vou então a questões técnicas, eu avisei quando começámos que depois não sei o que é que hei-de escrever num blog, bom, (num blog! é muito deprimente!), porque é que o padre anda de casa em casa? Para receber dinheiro e conviver um pouco, e eu pensva que era só para conviver um pouco. Diria que na Páscoa tudo é móvel, desde o padre, passando pelos afilhados que por cá têm o hábito de percorrer as casas de padrinhos, etc. e tal, por Jesus Cristo, que neste dia saiu do túmulo e é por isso que se celebra a Páscoa, não é nada por causa da rapariga do café nem da Primavera (se for agora vai dar ao mesmo), também há metade dos espanhóis que nos visitam de automóvel, e acabando na própria Páscoa, que no calendário é móvel (e havia móveis para limpar a óleo de cedro, na sala do sr. prior, em casa da minha avó). Porque é que o vestido dos padres é às flores? Trata-se de óbvia camuflagem para um cenário todo florido nesta época do ano. Camuflagem, isto é… dir-se-ia que assim se vê como a Igreja é una com a obra do Criador. E já agora troca-se um pouco as vistas a Satã.
Mas falava em dinheiro. O caso foi este: lá me entraram em casa, estando eu devidamente prevenido de acepipes e quatro espécies de vinho bom. Na minha inocência de menino da cidade que quer participar nas coisas giras do povo não estava no entanto a contar que esperavam que desse um folar ao padre, que podem ser uns cinquenta euros, talvez, depende do que se queira dar. É mais uma forma de pagar os serviços que ele presta ao longo do ano. Entretanto, foram ali uns momentos de bom convívio, que era o que eu pensava que era para ser. Acho até que esteve aquela santa comitiva a fazer um pouco de tempo, a ver se eu afinal me resolvia a chegar à frente com os tremoços. Logo na altura pressenti de passagem que podia faltar qualquer coisa, mas a conversa estava boa e como às tantas era só eu que bebia, pois diziam eles que ainda lhes faltava muitas casas, nada me preocupava grande coisa. Então saíram e um dos acompanhantes, um camarada mais das minhas relações, é que se deixou discretamente ficar um pouco para trás, e, com visível condescendência, me esteve a pôr a par dos ajustes destas usanças. Parece-me bem, e parece-me óbvio, agora. Eu é que sou tão ignorante que só sei pedir cafés à rapariga e comer o chocolate.
(Quero dizer às pessoas de Eiras de Sabaio que de facto não recebi a visita do sr. padre Ventura, mas que este texto me surgiu de uma real espécie de simulação mental que fiz acerca do que seriam os resultados prováveis ou possíveis se na verdade ela tivesse acontecido, e depois de de facto também ter chegado a falar com algumas pessoas, meio intrigado e meio interessado em participar de alguma maneira nesta tradição que acho bonita, e em prestar a minha homenagem, e é isso que faço, à minha maneira que só assim é que sei, já sei que muitos não vão gostar, como eu também não gosto de outras coisas que, quando não me matam, curam-me mais um bocadinho).
Wednesday, April 7, 2010
A seda entre nós -II
              Em texto aqui publicado a 12 de Outubro do ano passado, já tive oportunidade de poder dar alguma conta neste espaço da nossa relação histórica com toda a indústria da seda. É uma história incrustada na nossa alma quer para o bem, quer também para o mal, como já sabemos e veremos, que nem só de páginas gloriosas se fez.
              Distintíssimo material, já no século XVI vestir ou não sedas era um dos atributos que distinguiam socialmente as pessoas, à semelhança por exemplo do porte de espada. Chegaram a ser criadas leis próprias sobre o seu uso, como a «ley sobre os vestidos de seda & feitios delles e das pessoas que os podem trazer», de 1570, e surgiram costumes, como o privilégio de que gozavam os cidadãos do Porto, livres de poder vestir sedas, independentemente da sua pertença social.
              Sabe-se que nem tudo o que luz é ouro, e que a alma é mais do que a comida e o corpo mais do que o vestido, mas o mais dos homens sempre buscou o conforto para sua alma e o seu corpo na boa comida e no bom vestido, e se às vezes a elevação destas coisas está em acordo com o carácter, o merecimento e a dignidade de cada um, também vemos quantas vezes quanto mais sombras na alma e degradação no corpo, maior é o brilho em guarnições e atavios a que se deita a mão. Que tal brilho possa, quando naturalmente apresentado, ser admirado na sua conta, não no-lo neguemos, porém cuidando que não fiquem os nossos olhos ofuscados, e como que cegos, às intenções daqueles que o usam apenas e só como penhor daquela nobreza que precisamente lhes falta. Isto era verdade noutros tempos, e mais que nunca é nos que vão correndo.
              À conta do fascínio que vem de nós, os seres humanos, pelos artigos de valia superior, muito engenho humano também durante séculos se foi solicitando, muitas histórias correram, dignas de romance, muitas lutas houveram, batalhas se travaram. A propósito da seda, que é pela comparação com a sua pureza que vou tentando acusar o que em nós está em sentido contrário, é conhecido que a tecnologia para respectiva produção era segredo de estado na antiga China, e que foram uns monges cristãos que trouxeram as primeiros ovos do bicho-da-seda para o Ocidente na parte oca das suas bengalas de bambu. Antes de estes conhecimentos se espalharem pela Europa, mercadores e aventureiros percorriam as remotas rotas da seda por essa Ásia dentro, ou então desafiavam os oceanos, rumo ao oriente para se abastecerem do produto fabricado. Como nós, portugueses, que nisso fomos os primeiros, mesmo estando registado que as primeiras sementes do bicho-da-seda chegaram à Península por volta do século VIII, introduzidas pelos árabes. Há também foral de D. Sancho II de Portugal respeitante às amoreiras de que se alimenta o bicho-da-seda, e à necessidade de impedir o seu plantio sem controle.
              É caso para ponderação o tanto que se labutou para que tivéssemos em mãos portuguesas o conhecimento das técnicas necessárias à sua produção no nosso território português, e o tão grande desgoverno que depois houve à volta de toda a actividade serícola, por incapacidade, por falta de visão, a que se juntam algumas moléstias naturais que persistentemente traziam grandes prejuízos aos produtores. É certo que n’ A Terra Portugueza, de Rocha Peixoto, se pode ler que por volta de 1679 se publicou entre nós «um pequeno tratado sobre a creação do lepidóptero; e do paiz que, com a Hespanha, produzia e manufacturava sedas quando no resto da Europa mal se sabia ainda a arte, começaram a conhecer-se os seus magnificos velludos, setins e gorgorões e a serem procuradas as nossas télas, organsis e tafetás, os quaes, não rivalisando com os dos Kalifados de Granada e Córdova, eram todavia executados com primôr». Mas a cobiça e a vaidade tomam-se dos homens sem que disso sequer se dêem por tidos nem por achados, como temos visto, e impedem-nos de dar passos firmes adiante, especialmente quando o mando não ajuda. Na sua maior parte, para os indivíduos sempre foi demasiado sedutor o «negócio da China», e assim pouco ou nada se vem a querer com a boa diligência, com o emprego da mente e do corpo ao trabalho persistente, e com a dedicação ao bom governo das coisas. Não são apenas males de hoje, o desperdício de energias na busca de um qualquer expediente mal esmoído que promete fortuna ao primeiro bater de palmas. Mas a indústria serica, que assim chegou a chamar-se, não consente em tal desmazelo. Citarei ainda Rosa Peixoto a este propósito, que, falando de facto da seda bem poderia vir falar no mesmo modo de muitas outras coisas actuais, coloca bem a questão nestes termos: «E entre nós, ou desprevenidos ou ignorantes, ora ineptos ora desconfiados, nem os decretos e fábricas-modelos, nem o furor desvairado dos lucros valeram à indústria que se antolhou moribunda, falta de preceitos, falta de exemplo, falta de discreta previdência».
Monday, March 15, 2010
Lanterna mágica
                                                        
Friday, March 5, 2010
Buscar para encontrar
Tenho a melhor profissão do mundo, acho que a minha filha acha. Se é assim, estou de acordo. Ou estaria, não sei. Eu gosto de animais, ela também. É natural, tem seis anos. E sou veterinário, cuido e curo de animais. Logo sou um herói, logo tenho a melhor profissão do mundo. Não é assim tão fácil para mim, tenho de admitir. Embora me sinta bem de volta da bicharada de estimação da cidade, não consigo deixar de pensar que no fundo tudo mais não é que uma brincadeira de gente grande, um capricho. Estimável, saudável. O meu – estimável, saudável – é imaginar-me nas botas de um João Semana da medicina veterinária, naturalmente exercendo na província, no interior. Mas, já que é para caprichar, saído de um romance do Aquilino Ribeiro, se puder ser. Não sou por enquanto este herói. Um salvador para o paciente e para o agricultor, aflito com o prejuízo que terá na morte do cavalo ou do boi. Aqui os cães e os gatos são outra história, deixam saudades quando morrem mas podem ser substituídos a custo zero, as ruas estão cheias deles.
Enquanto não mudo de vida, vamo-nos entretendo na clínica e no youtube. Desde os quatro anos que a minha filha escolhe sozinha os vídeos que quer ver. Ensinei-a eu, que me comecei a entender com o youtube por essa altura também, há cerca de dois anos. E que herói fui para ela, mostrando-lhe o que eu próprio ia descobrindo! Achei que era a minha obrigação, para o caso de este mal da info-exclusão ser contagioso. Na verdade acabei por dar ouvidos à história dos perigos que corre quem é alérgico à maquinaria digital em geral, num mundo cada vez mais coberto por todas estas cintilantes camadas de poeira tecnológica. Entretanto consegui também que acreditasse que percebo muito de computadores, o que certamente só vai durar até ao dia em que se interessar por coisas mais sofisticadas que o youtube. Não há problema, já estou preparado para passar de herói a vilão de um momento para o outro.
A info-exclusão pode ter mais de doença do que parece. Por exemplo a primeira vez que usei um motor de busca senti-me nervoso, incapaz de escolher qualquer coisa de A a Z para buscar pelo nome. É uma ideia terrível para quem acreditava que o mundo estava todo fora dos computadores. Apesar disso, ou talvez por causa disso, acabei por me convencer que estava à beira de algo importante, o primeiro passo rumo à info-inclusão, ou coisa assim. Quase um momento solene, e eu sem saber com que incomodar o tão tecnologicamente avançado e perspicaz google. Com o youtube aconteceu-me mais ou menos o mesmo, se bem que tratei logo de encarregar a minha filha da escolha dos temas de busca. E foi assim que chegámos aos vídeos de animais – e aos de desenhos animados, e aos de desenhos animados com animais!
Pode ser que, no momento em que o youtube deixe de ser suficiente, estejamos ambos prontos para prescindirmos um pouco dos computadores e eu consiga de uma vez por todas ser, não só o seu, como o meu herói.
Monday, February 8, 2010
De hoje a oito dias na História
Sócrates é condenado à morte no dia 15 de Fevereiro de 339 a.c. No mesmo dia de 1758 a mostarda começa a ser fabricada na América.
Friday, January 22, 2010
Manhã. Janeiro bom.
                                                        
Tuesday, January 12, 2010
Eu hesito entre duas raparigas
Eu hesito entre duas raparigas-Lyrics Paroles
Letra
Eu hesito entre duas raparigas
Quais gémeas são iguais
Mas tenho a certeza
Que de uma gosto mais
Mas tenho a certeza
Que de uma gosto mais
Eu hesito entre duas raparigas
Quais gémeas são iguais
As duas são morenas
Entre nós Amor d’ar cómico
Tão trigueiras que nem apenas
O sol sorri plató.ni.co
Mas para subir em meu tractor
É tal! mas qual não sei
Porque me perco no amor
Ela por ela ambas ame.e.ei
Eu hesito entre duas raparigas
Quais gémeas são iguais
Mas tenho a certeza
Que de uma gosto mais
Mas tenho a certeza
Que de uma gosto mais
Eu hesito entre duas raparigas
Quais gémeas são iguais
Meu coração continua
Sem saber o que fazer
É melhor amar as duas
Sem nenhum de nós saber
Que este encanto não se acabe
E eu já pensei tanta vez
Pois enquanto ninguém sabe
Somos felizes os três
Lalala-rala-ralala
Lalala-rala-rala
Lalala-rala-ralala
Lalala-rala-rala
Lalala-rala-ralala…
Saturday, January 2, 2010
Lanterna mágica
A propósito de metafísica