Friday, October 10, 2008

Festas na aldeia


Uma festa popular do santo da terra pode ser assim:

9h – alvorada (isto é, foguetes);
13 h – abertura da quermesse;
22h – actuação do agrupamento musical Dominó;

São festas que despertam as pessoas muito cedo, sem necessidade. O que é que acontece entre as 9h e as 13h?
Então façam a alvorada ao meio-dia.

Outras coisas que deflagram nestas festas, Agosto, emigrantes: chegada da Filarmónica Nossa Senhora do Amparo; fogo de artifício; celebração solene da santa missa seguida de procissão e arraial com a venda dos andores; actuação do rancho folclórico do Grupo Alegre e Unido; a Comissão de Festas não se responsabiliza por qualquer acidente ocorrido durante os festejos;

Um acidente que me ocorre é não conseguir adormecer à noite por causa dos agrupamentos e, depois, acordar muito cedo por causa das alvoradas. Mas eu gosto cada vez mais do arraial.

Um programa das festas de há 10 anos seria mais ou menos igual aos de agora, mas poderia ler-se uma saudosa frase: “durante o decorrer dos festejos estará em funcionamento um esmerado serviço de bar.”

Há 20 anos os conjuntos tocavam slows, quantas vezes interrompidos para que se ouvisse a voz do Zé Eulálio: “Fiat Uno matrícula NI-24-75 é favor de se retirar do local onde se encontra.”

Há 40 anos dizem que havia zaragata certa, isso sim, eram programas. Ainda assisti a uma dessas pelejas fúteis, nada de especial, disseram-me. Uma farsa, ao pé de um verdadeiro arraial de porrada, como os havia antigamente. Mas não deu para ver quase nada e não gostei, porque foi muito perto.
A verdade é que participei em muitas festas de aldeia, tentando fazer carreira como baixista e guitarrista de verão num agrupamento carola. Nessa altura é que comecei a apreciá-las mais.

Lembro-me duma em especial, não sei porquê, eram 2 ou 3 da manhã baile dentro, numa aldeia iluminada pelas nossas luzes e pelo fio de lâmpadas no exterior da capela, desenhando-lhe as linhas bonitas, raparigas à espera recostadas, em congregação, compadres de pança a rodopiar, a apanhar o frio do palco, eu, no baixo, a roda de gente a dançar… Uma festa numa aldeola podia ser bela, afinal, e isso desconcertou-me. Mas era bestial.

No fim, apareceu um velho engraçado que nos queria ajudar a carregar o material. Começou logo por agarrar num banco de jardim, mas o cimento não cedeu. Tinha uma força incrível! Conseguiu levar sozinho uma coluna das pesadas, depois de praticar em coisas que só ele achava que eram nossas. Devíamos ter ficado preocupados com um possível acidente, mas de tanto rir nem nos lembrávamos. E ele apenas dizia, muito sério e bêbado: “olhem que isto é difícil… mas também não é fácil!”

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