Monday, December 29, 2008

A formiga e o lobo



Uma formiga batedora andava a explorar o areal húmido que rodeava uma poça quase seca quando se deparou com um buraco. A forma perfeita da enorme cratera levou-a a pensar tratar-se uma pegada muito recente de um animal que por ali andasse. Subiu a uma erva para avaliar melhor e logo percebeu que tinha sido um lobo o responsável.
As formigas batedoras são escolhidas pela sua capacidade de raciocínio e curiosidade, e esta não era excepção. De imediato se lançou numa grande correria, tentando alcançar o lobo que, com toda a certeza, não andaria longe. Por sorte, avistou-o pouco depois junto a uns arbustos. Parecia estar muito concentrado, observando qualquer coisa a boa distância. Tal como suspeitara, tratava-se de um velho conhecido seu. Na verdade, conhecer outros animais - e assim aprender coisas novas, contactar com diferentes maneiras de pensar ou simplesmente conviver - era muito do agrado da formiga. O preço a pagar era ser olhada com certo desdém pelas suas irmãs. Mas esta formiga sabia bem que as tarefas extenuantes e monótonas que as outras tinham de fazer as deixavamm incapazes de, ao menos, vislumbrar quanto perdem por nunca se desviarem do carreiro.
Entretanto, a formiga aproveitou a paragem do lobo para se aproximar. Começara já a chama-lo quando este partiu de cabeça baixa, num trote silencioso. A formiga bem correu, gritando «lobo, amigo!», mas as suas pequenas patas não lhe permitiriam alcançar um ouriço coxo, e a sua vozinha era quase tão fraca quanto o som de um pingo de chuva.
Não lhe restou se não subir arbusto acima para ver no que aquilo ia dar. Oh, que belo animal era o lobo! E que astuto e audaz! Primeiro aproximou-se silenciosamente da sua presa. Depois, possante, derrubou-a de um salto. Quase não precisou de correr.
A formiga deixou-se ficar numa folha, a observar. O lobo comeu tranquilamente, regressando depois pelo mesmo caminho. Quando já estava suficientemente perto, a formiga surpreendeu-o com este cumprimento:
- Olha quem é ele! Vê lá se soubeste trazer alguma coisa para os amigos…
- Não avisaste! – respondeu o lobo com um sorriso.
- Eu chamei-te, tu é que não ouviste. E eu que me contentava com uma lasquinha qualquer…
- Ah sim? – perguntou o lobo. – Não seja por isso! Tenho aqui uma entre os dentes. Tiras-ma e é toda tua. Só a aflição que me está a dar!
- Pois, isso é chato, é.
A formiga teve pena do lobo, um animal nobre e valente que se via agora atormentado por um pedacinho de carne do bicho que matara. Não deixou de se perguntar: «E se ele aproveita para me devorar também?» Mas logo concluiu: «Não o fará. Os corajosos não atacam os fracos dessa maneira. Só os cobardes o fazem». Sem saber muito bem o que fazer, e depois de um solêncio embaraçoso, acabou por lhe dizer:
- Eh, eh, o que tu queres sei eu!
- Oh, achas? Estás a brincar, não?
- Claro!
- Então vá – disse o lobo, abrindo a enorme boca junto à folha onde a formiga ainda estava.
Foi então a vez de a formiga mostrar a sua agilidade, saltando para a língua do lobo. Sentindo-a a fazer umas levíssimas cócegas, o lobo deu por si a pensar: «É tão franzina! Como pode ela achar que eu tiraria o mínimo proveito das suas poucas carnes? Uma sobremesa, talvez…»
Ainda um pouco perturbada com o que sugerira, a formiga avançava sobre aquela superfície movediça enquanto ia dizendo:
- Não, é que às vezes podias distrair-te… é só isso.


(Continua.)

Tuesday, December 23, 2008

A minha política de pescas


Os que me conhecem sabem bem que sou um apaixonado pela pesca. Grande parte dos meus amigos é constituída por pescadores. Conheci pessoas nas mais variadas situações, mas as amizades que se ganham na pesca são diferentes. São o oposto do que normalmente encontro na política, infelizmente.
Sozinho ou acompanhado, são momentos únicos os que se passa envolvidos nesta arte, desde a preparação da roupa e do equipamento até à possível mas incerta comezaina. O maior deleite da pesca não está na captura mas, muitas vezes, em tudo o resto à volta. Nunca sinto que perco tempo enquanto pesco, apesar de passar grande parte do tempo sem fazer grande coisa. E quando se apanha alguma coisa que vale a pena mostrar, sinto alegria mas também alguma pena por aquele ser vivo sofrer com o destino que lhe estava marcado na ponta do anzol.
Às vezes reflicto sobre isto e quase peço aos peixes para não picarem. Eles são criaturas magníficas. Este é um dos fascínios da actividade. Ao que julgo saber, na pré-história os homens sentiam espanto e ao mesmo tempo remorsos por tirarem a vida aos animais. Talvez seja essa a origem dos actuais vegetarianos, pacifistas, anarquistas, ecologistas, etc. Aparentemente são coisas que não estão relacionadas, mas eu penso que muitas das coisas que eles defendem são questões de todos os tempos. Todos os homens sentiram já em algum momento alguma pena pelos animais, pelos maus tratos que infligimos à Natureza, ou por o mundo ser como é. Onde nós podemos fazer a diferença é, respeitando e compreendendo esses sentimentos, que também são nossos, não ficar amarrados a visões radicais e tentar compreender a natureza.
Parece que alguns querem decretar um mundo perfeito. Mas não adianta ignorar o sofrimento que existe neste mundo, porque a sua lei é universal. E temos que aprender a viver com essa lei, fazendo que os seus impactos sejam tão pequenos quanto possível. O homem é a medida de todas as coisas, como dizia Protágoras.
É neste tipo de coisas que vou pensando quando vou à pesca, às vezes sem perceber se espero que o peixe pique ou que não pique.

Sunday, December 21, 2008

Ouvindo conversas, lendo fragmentos, observando sinais

Resolvi escrever um ‘ouvindo conversas, …’ especial, por causa de uma conjugação de factores (ou de astros), que me começaram a provocar redemoinhos dentro da cabeça numa altura em que eu queria passear de pijama no quintal, apanhar e comer ou abençoar tangerinas e sol e atirar as cascas ao desvairado Fugas ou deixá-las no chão.
Quintal ou blog? E\ou.
Uma das vizinhas que assumiu o protagonismo do último ‘ouvindo….' adoeceu, espero que sem muita gravidade . É interessante como numa comunidade pequena este tipo de coisas é sempre notícia. Para o bem ou para o mal, há uma rede global (queiram ou não, todos os habitantes da aldeia são englobados) que impede que acontecimentos desta natureza sejam ignorados. Há sempre alguma partilha, parte dela, por ventura, inconveniente.

A srª. Irene Bisgata contava-me ontem coisas da sua juventude, vivida há perto de 70 anos, “andávamos sempre juntos, aquele rancho de gente, olha o Albino João era um! Era as Carriças! As Marcialas, os Queridos, os Sapateiros, o pai daquela (…). Íamos a todo o lado, trabalhar para uns, trabalhar para outros. Olha que íamos à Sé [na sede do concelho, a 25 km] aos [umas cerimónias religiosas cujo nome não fixei] a pé, e para cá de comboio! [Pergunto porque não iam de comboio também, não havia?] Havia, só que era mais engraçado ir a pé, divertíamo-nos muito, íamos sempre a cantar, depois para cá vínhamos da estação até aqui a pé [5 km] sempre a cantar ainda, vínhamos ali para cá do Paul e já nos ouviam cá ao fundo. Quando chegávamos à casa da [?] tínhamos que cantar outra vez porque ela não nos deixava de lá sair sem ouvir a gente. A Duarta tinha uma grande voz, nunca vi para fazer segundas vozes, assim, para baixo, A senhora um dia sozinha se achava, a Deus mil louvores em silêncio dava, a gente sempre com voz própria e ela na segunda voz, uma voz boa. Depois As preces de um anjo e ela, para baixo, As preces de um anjo diz (…) alguém, tu és lá do Céu, bendita ó Maria. Quando era altura da batata lá ia aquele rancho para a batata, quando era para a sacha era tudo assim! Íamos semear o milho para este, depois para aquele, apanhar o nosso, depois o daquele… Tínhamos aí o milho para descamisar, logo de madrugada chegava o Elias… ele gostava muito de agarrar assim duas telhas e falava para os outros. Punha-as assim [em tubo, junto à boca] e começava AAQUIII NAA EIIRAAA DAAS BISGAAAATAAS HÁ AQUIII MUUUIITO MIILHOOO PARAA DESCAAMIISAAAAR!!! Passada meia hora estava aí isso cheio de pessoal, telefonavam-se assim uns para os outros”.

É curioso que ela tenha dito que se telefonavam. Não se pense que na altura não havia telefones. O info-excluído@pessoa diz que conheceu alguém que, mais ou menos por esta altura, tinha telefone. E já tinha número atribuído: o 20! Há aqui um texto que, porque não, serve de contraponto a este no que respeita aos avanços da tecnologia. Um dos comentários é do info-excluído e fala desse telefone com número de dois dígitos, na era analógica.

Friday, December 19, 2008

Lanterna mágica


Meu Amor Abre a Janela - Maria João Quadros

Thursday, December 18, 2008

Ouvindo conversas, lendo fragmentos, observando sinais


Eu, para a vizinha Maria Nazaré:
- A sua gata entrou-me em casa. Não é uma que tem um guizo?
Ela:
- Entrou? Ah p. de m. É muito atrevida. Anda-lhe aí a conhecer as divisões da casa! Ahahah. Ela não faz mal, mas é muito lascarinha. Só o mais que pode fazer é ir ficar à sua cama! Uhhuhah!
Maria Lúcia, outra vizinha:
- Olhe que ainda vai ficar à sua cama, hoje!
Eu:
- Pois.


(Maria Nazaré - quase 70 anos; Maria Lúcia - mais de 50 anos; hoje, Eiras de Sabaio)

Monday, December 15, 2008

Hoje não vi nenhuma gaja boa


Ainda me lembro de pensar, isto antigamente, quando via uma rapariga muito bonita, meu Deus, esta é daquelas que se vêem - com duplo ‘e’ - uma vez de dez em dez anos. Pensava isto muitas vezes até. Era quase todos os dias, era.
E achava este assunto muito importante. Houve uma vez um amigo que me disse que gostaria de ter, dentro do armário ou assim, uma rapariga sempre pronta a cumprir uma função: dar as bochechas a apertar, com jeitinho, quando ele sentisse necessidade. Logo ao acordar, por exemplo, ia lá afagar-lhas e pronto, estava dado o primeiro passo para começar bem o dia. E eu disse logo que a ideia era boa. Éramos muito líricos.
Naturalmente tive bastantes oportunidades de confirmar que as coisas não funcionam bem assim. Mas também ainda não descobri ao certo como funcionam. Agora o que eu sempre soube fazer foi ver. Quando vemos, imaginamos. E eu imagino quase sempre que estou a um passo de experimentar as bochechas. Normalmente não consigo, mas vou vendo no que dá. E não incomoda.
Não é preciso perceber nada de gajas para ver. É uma coisa que se basta a si própria, que não requer explicação. Não requer, não tem e não quer. Escrevem-se livros e artigos em catadupa sobre a natureza supostamente misteriosa das mulheres, sem que nenhum deles acrescente mais nenhuma conclusão além da de sempre: as mulheres são misteriosas. Os olhos já tinham percebido isso e, sempre que podem, evitam escutar as dúvidas do cérebro. Eles foram feitos para ver.
Os ‘blogs de gaja’ proliferam, mas os blogs e sites com gajas proliferam mais ainda. E nós olhamos, como não? Mas não é a mesma coisa. As bochechas daquelas sabemos nós que nunca iremos apertar, e os olhos querem ver. Não basta olhar, há que ver e imaginar a possibilidade de um futuro aperto.
Nos sites de gajas (não me refiro aos escritos por elas, mas àqueles que tornam a escrita - e outros acessórios mas não todos mas eu não sei - dispensável), e nisso as feministas têm alguma razão, acabamos por ver muito pouco. Olhamos. É como se andássemos à procura das raparigas que, em diferentes momentos, surgiram como um clarão a nossos olhos, encandeando-os e prendendo-os com a pergunta “tás a ver bem?” e nós não sabíamos, porque nunca tínhamos visto. Elas é que nos fizeram ver e perceber.
E por isso olhamos com atenção, tentando identificar alguma das ‘tais’ e sonhar com ela outra vez. Nunca encontrei nenhuma, apesar dos esforços incansáveis de quem vai carregando mais e mais raparigas naqueles catálogos. Aliás, como cada homem deve ter tido umas boas dúzias de epifanias em forma de rapariga, e como há cada vez mais homens com acesso há Internet, tem mesmo que ser assim. Felizmente que há o cuidado de colocar moças não muito feias, de maneira a não tornar a procura muito penosa. E, à falta de ver, sempre se vai olhando. Não são as que marcaram os nossos sonhos mas são, muitas vezes, substitutas muito boas. E ainda bem, porque isto de procurar fantasmas é muito aliciante mas também cansa.
Ontem deu-se-me um clique na cabeça e emergiu a frase, uma espécie de constatação espantada: “hoje (ontem) não vi nenhuma gaja boa!”. O espanto não é tanto por não ter visto nada como por perceber que não é coisa de um dia só. Esta distracção da visão, que se esquece de ver o que poderia ser distracção e regalo para a vista, já dura há um período indefinido. Será sinal de alguma coisa? Cheguei a ralar-me a sério, adivinhando já um assustador processo de degradação, comparável à perda gradual e silenciosa de um sentido. Mas talvez seja apenas falta de apanhar uns raiozinhos de sol, uns lampejos que me alumiem o caminho e aqueçam o coração.

Sunday, December 14, 2008

O nosso Vale cantado pelo dr. Luciano Carlos de Abreu

Tive ocasião, há já certo tempo, de falar aqui da figura do dr. Luciano Carlos de Abreu. Esse texto está aqui. Mas continha um erro. Felizmente que o sr. José Passos Santos, grande estudioso e interessado na cultura da nossa região, e agora nosso leitor, para além de velho amigo, me alertou para o facto.
Eu tinha referido que a naturalidade do dr. Luciano era Valinho, mas não está, de facto, correcto. Ele viveu, na verdade, desde muito jovem entre o Valinho e Romaride, mas a sua naturalidade é esta última. Lamento o sucedido e, prontamente, procedi à correcção do erro.
Como forma de compensação, deixo agora mais alguma da sua belíssima arte poética, onde fala precisamente das suas raízes. Que pena que este autor não ser mais conhecido e divulgado, sobretudo entre a juventude de todo o Vale Interior.



Oh! Que lindas colinas
Tens tu, Romaride.
São como faces meninas,
Mais suaves que a neve.


Na primavera sorri
A flor do jardim.
Assim tu, Romaride,
Rosa linda donde eu vim.


Que arrabaldes bem postos
Tem Eiras de Sabaio.
Santa Marta em Agosto,
Santo Agostinho em Maio.


Altas serras abaixai.
Quero olhar o meu Vale.
Verei o sol, seu pai,
Pintar belezas sem rival.

Thursday, December 11, 2008

Lanterna mágica

Fáj a szivem, Aranyeső, Úgy szeretem a rányimat





Não me perguntem quem são nem de onde vêm. São cidadãos do Youtube, que é currículo bastante. O que conta é a intenção, herói ou vilão.
Em época de festas estes davam baile a muitos artistas da nossa praça, e eu gostaria tanto de os ter tido a abrilhantar a boda do meu casamento!
Por acaso gostava.

Tuesday, December 9, 2008

Uma rapariga


Uma rapariga (Tânia), para fugir do mundo triste em que vive, casa e faz um filho com o seu homem. O menino ilumina todo o horizonte de felicidade na sua cabeça. Porque assim o determina a natureza, as mães fazem dos filhos a variável controlável da sua vida, ainda que tal não passe de ilusão. As raparigas fragilizadas, como Tânia, são muitas vezes as que mais anseiam por um filho.

O filho de Tânia começa a falar com um ano de idade e diz mãe. Mas com o passar do tempo a alegria dos primeiros chamamentos vai como que diminuindo. A sorte da felicidade da mãe é um peso que ele não pode suportar, e, por isso, foge para outro país. É quase um homem, já pode trabalhar. Junta-se a um grupo no café, à noite, e vêem futebol.

Metade daqueles homens conhecia alguém que morreu de acidente, nas constantes viagens de ida e volta.

Passam-se décadas até que um descendente dos que nunca mais voltaram aprenda a tocar piano. Era só o que lhe faltava e, no entanto, não é especialmente feliz. Mas não se suicida, ou coisa parecida. Dorme mal às vezes, vá.

Relatos da vida de uma professora

Enquanto se espera que comece o segundo acto da peça ‘Avaliação de Professores’, proponho que desviemos a atenção do palco por uns instantes e que olhemos para o que uns miúdos traquinas vão fazendo lá em baixo, no fosso de orquestra. Sempre ajuda a passar o tempo e, talvez, a focar melhor aquilo que realmente é importante. Digamos que são algumas declarações (feitas a quente) e alguns comportamentos singulares que fui apanhando, ao longo dos sucessivos anos lectivos. Provavelmente todos os professores poderiam preencher um caderninho com episódios destes, se se dessem ao trabalho. Deixo apenas alguns exemplos:

•• Numa turma de 3º ano, a professora (eu) pede aos alunos que transmitam aos pais determinado recado. Uma das alunas é de origem chinesa e, apesar de falar português correctamente, apresenta algumas dificuldades ao nível da semântica, devido ao facto de não falar português em casa. Dizia eu que havia um recado para transmitir aos pais. Eis a sua resposta, aflita:“Aos pais?! Eu não tenho dois pais! Tenho só um pai! E uma mãe!”

•• Na primeira aula de uma turma de primeiro ano, o primeiro aluno a falar, depois de pôr o braço no ar, faz esta pergunta:
“Professora, o que é que é uma pergunta retórica?”
(Juro! Ele era muito curioso e deve ter ouvido aquilo algures.)

•• Um aluno de 1º ano, amoroso mas um pouco instável, entra na aula de rompante e em tronco nu. Trazia a mão na anca, um olhar de ‘quem não era nada com ele’ e a camisola, vermelha, ao ombro. E vinha muito atrasado. De imediato lhe ordenei, com firmeza, que saísse, vestisse a camisola, batesse à porta e entrasse. Depois de aquela criatura magricela sair só tivemos que esperar uns instantes até ouvir bater. Mandei entrar e, para gargalhada geral, vêmo-lo passar, triunfante, e dirigir-se ao seu lugar, com uma camisola azul vestida. Onde a foi buscar e o que fez à outra não faço ideia.

•• No corredor, duas miúdas do 1º ano, abraçadas e sorridentes, dirigem-se a mim nestes termos:
“Nós somos namoradas! Somos gays!”

A propósito da greve, deixem-me só dizer, fiz sim senhor. Mas tive muitas dúvidas. Este processo foi muito mal conduzido por todas as partes. Houve uma verdadeira dramatização de todo o caso (e vamos para o 2º acto). A ministra quis obter poder negocial conquistando a opinião pública. Eu em parte compreendo-a (e ouço muitas críticas por causa disso), atendendo à dificuldade em fazer mudanças profundas no sistema. É que eu ouço muitas bocas dizerem ‘sou a favor da avaliação, mas contra este modelo’, mas vejo alguns olhos, e oxalá eu me engane, dizendo o contrário. De qualquer modo, a ministra insistiu por demasiado tempo com o formato, que é de facto muito pesado. Mas eu defendo uma avaliação que distinga verdadeiramente o desempenho de cada um, e estou preparada para aceitar alguma carga adicional de trabalho que ela acarrete. Felizmente, bem o sei, estou longe de ser caso único.

Monday, December 8, 2008

De quanto vimos

A internet é um ser vivo, cheio de pensamentos, de sentimentos altos e baixos instintos. E cada um de nós, fazedores de sites e blogs, é uma célula. Somos células nervosas, andamos para aqui a comunicar com outras células, a enviar e receber alimento, a estabelecer ligações e a tentar roubar os nutrientes umas às outras. É assim mesmo, complexo, tanto competimos por comida como a partilhamos.
De tudo quanto tem chegado às células adiposas que se acomodam neste blog (que me desculpem as meninas), muita coisa saborosa poderia ser dada a provar. Mas há dois posts que destacamos, por razões diferentes mas que vêm a ser a mesma: têm a ver connosco. Logo nos primeiros posts deste blog tive ocasião de dizer que o que nos unia era sermos, de uma forma ou de outra, filhos do Vale Interior (e do próprio 'interior') e da info-exclusão.
As razões - que são só uma - são diferentes, e os textos também. O primeiro é ligeiro e engraçado, e se não tem, na mente da autora, directamente a ver com info-exclusão, para nós, assumidos info-excluídos (com melhoras), a relação é óbvia. Bem como a identificação com as situações descritas. O nosso conceito de info-exclusão é um bocado abrangente. Para terem uma ideia, eu julgo que a partir do momento em que os televisores começaram a ter um comando à distância, por exemplo, o mundo (exterior) nunca mais foi o mesmo. Não foi isso o início de nada, porque se trata de um processo, mas é um marco de uma tendência que se pode resumir nesta ideia: com um gasto mínimo de calorias podemos percorrer o mundo desde os desenhos animados americanos até à Rússia de Carlos Fino. Só que era preciso saber sintonizar a televisão, coisa simples até então. Assim, só no interior, onde não são pedidas tantas competências tecnológicas para usufruir da cidadania, nos sentimos menos excluídos. Mas não se pense que não reconhecemos a importância da internet, e todas essas coisas. Aliás, estamos a adorar a experiência de ter um blog. O problema, para além de um certo endeusamento parolo de todas estas alfaias, está no facto de as coisas não funcionarem da maneira que nós queremos. E isso irrita. E faz-nos andar sempre a correr atrás dos técnicos, técnicos esses, ou outros, que concebem as coisas prenhas de toda a espécie de complicações, para depois nos virem desenrrascar quando estamos aflitos, os porreiros. Bom.
Tive dúvidas quanto à colocação do link do segundo post. Devo admitir que, ao fazê-lo, tenho um pouco aquela sensação de estar a brincar com coisas sérias. É certo que nós vamos falando, à nossa maneira, de problemas como os que afectam o interior (ou essa era a ideia), entre outros, mas a tónica deste blog tem ficado a dever mais à análise de mesa de café e à galhofa do que à reflexão séria, atenta e oportuna, como a que está na base do texto de que falo. Seja como for, a preocupação genuína (e séria, também) quanto aos problemas nele tratados - que não têm só, nem sobretudo, a ver com o interior - são partihados por todos os que contribuem para este blog.
Cá vai:

Saturday, December 6, 2008

El chino torero




A cena tauromáquica alternativa está cada vez mais ao rubro. Encontrei este cartaz numa airosa, distinta e, de seu natural, mui serena localidade, algures na região do Vale Interior. Há um toureiro chinês e forcados anões!


Mas não sei se me deixo seduzir. Falta ali qualquer coisa mesmo 'fora'. Talvez um touro com duas cabeças (e um cavalo sem nenhuma), um cavaleiro transexual que cantasse e fizesse contorcionismo, uma pega pelo Grupo de Patinadoras no Gelo da Chamusca, mas com os respectivos patins, para dar uma hipótese ao touro. Se tivessem falado comigo poderiam ter feito qualquer coisa que valesse a pena, quase ao nível dos eventos TVI.

Wednesday, December 3, 2008

Lanterna mágica

The Mystery Of Bulgarian Voices & Music - Tragnala e malka Moma

Monday, December 1, 2008

Primeiras neves


Na salinha onde escrevo este texto faz um frio que não se pode. Estou na nossa Eiras de Sabaio, neste fim-de-semana pródigo: um dia de bónus e muita neve. Vim para aqui porque é o único local da casa onde tenho Internet instalada. Ainda estou a pensar se valerá ou não a pena procurar uma ficha tripla e mudar-me para a sala, onde há uma lareira, uma televisão e (apenas) uma tomada (a casa é muito antiga). Não teria Internet, mas gravava o texto no Word. Mesmo durante o dia, esta divisão é gélida, no Inverno. Já comprei um sistema wireless, mas não o sei instalar. Preciso de chamar cá um técnico.
Acontece que andei todo o dia com a expectativa de poder ‘postar’ qualquer coisa sobre o cenário belíssimo em que se transformou a nossa região, com a neve abundante que tem caído. Acertámos em cheio na data que escolhemos para visitar a terrinha. Está tudo branquinho, está. O Vale Interior, para desgosto da minha filha, acaba por ser a zona onde o nevão foi mais brando. Mas tirámos o dia de hoje para passear por esses cumes e encostas, ao som de uns vilancicos renascentistas que me emprestou o Camelo. Tudo, cada árvore, cada arbusto, casa ou lenha, está coberto de branco. As pessoas dizem que é pão, porque quando o gelo começar a derreter nenhuma água se perde; em vez disso, toda ela será absorvida pela terra, lentamente. Mas é uma pena que não se possam preservar alguns destes postais. Uma rocha que não perdesse aquela côdea de creme, como eu referi às tantas, por exemplo. A minha filha também se saiu com uma de um fontanário que parecia um bolo de noiva... Enfim, o espectáculo da neve encanta miúdos e graúdos, faz parte do nosso imaginário.
Tive vontade de tirar umas fotos, coisa que raramente me acontece, mas máquina não uso, e o telemóvel é o mais simples possível, como deve ser o de qualquer bom info-excluído. Daí, talvez, ter sentido necessidade de vir aqui escrever alguma coisa. Escrever que é magnífico quando o sol faz brilhar a neve, nós saímos do carro numa aldeia quase toda branca num momento assim, só as pessoas e o granito ainda à mostra nas paredes tinham outras cores. Não fizemos muito mais, mas respirámos profundamente um ar frio e bom, rimos às baforadas, catrapiscámos a luz e o branco e jogámos à apanhada e às bolas de neve, tudo misturado.
É-me grato mas difícil escrever isto, porque o frio que sinto agora, ao contrário do que senti durante o passeio, está a incomodar-me. E essa ideia, a de um frio que pode ser ora cruel ora revigorante e alegre, é um incómodo acrescido. Já fui buscar umas luvas, mas descobri uma coisa maldita: o rato do portátil, aquele rectângulo sensível ao toque dos dedos, não obedece ao tecido da luva. Nem se mexe. É uma frustração, tanto mais que não é possível tirar um dedo que seja da luva. E um dedo era só o que eu pedia. "Tudo ou nada", é o que as luvas dizem às minhas mãos, que vão fazendo turnos.
E é ainda mais frustrante do que isso, porque eu até tenho um rato 'dos outros', mas nunca o liguei, por preguiça e por info-exclusãosice. Entretanto (duas ou três linhas atrás, e numa altura em que já andava a experimentar usar a ponta do nariz - sabem lá o frio que faz aqui!) a minha mulher pediu-me para ir buscar lenha (para a fogueira, onde elas se aquecem), e acabei por molhar um pouco as luvas, ao atravessar um pátio. O que me levou à descoberta triunfal de que o rato se deixa manipular se as luvas estiverem ligeiramente húmidas. Se lhe faz mal à saúde ou não, não sei, mas agora quero é acabar o texto. Fico feliz, para além do mais, por me dar conta que não é impossível que um fortuito info-excluído que leia estas linhas possa, também, usufruir desta técnica revolucionária.
Por fim, com as mãos mais protegidas, ainda me dei ao luxo, depois de (supostamente) ter terminado este escrito, de navegar um pouco por outras páginas. Não resisti (e é por isso que não está a escrita feita ainda) a contar que, a páginas tantas, dei por mim, distraído, a humedecer a ponta do dedo (da luva) para poder usar o rato, tal como alguém que lê um livro faria para - lá está - mudar a página. Senti-me um pouco menos info-excluído e quase pronto para, a partir desta imagem tão simbólica e tão plena de significado, fazer outro texto, ainda mais repleto de reflexões mais profundas do que aquelas que aqui ficaram expressas.
Mesmo tendo em conta que bastaria dizer: que bonita é a neve.

Saturday, November 29, 2008

Encontrei isto

É uma história engraçada, quase teatro de comédia (tenho ideia que já ouvi algures algo parecido, mas posso estar enganado), que encontrei aqui.

(Aliás, quem a encontrou foi um comparsa, que gosta mais de ler e comentar os blogs dos outros do que escrever no seu, mas enfim.)

Friday, November 28, 2008

Entrevistas a pessoas da nossa terra



A srª. Maria dos Anjos Sobral vive no lugar dos Malheiros, mas é conhecida em quase toda a freguesia de Romaride. Em tempos foi das pessoas que mais protestaram contra o encerramento de uma instituição de apoio a crianças pobres de Romaride, porque os homens tinham emigrado e pouca gente sabia ler e escrever. Ela era, aliás, das poucas mulheres que não eram analfabetas. Soube criar os filhos e os netos, e ainda ajudou e participou, ao longo dos seus 82 anos, em várias associações e iniciativas, como o Rancho Folclórico de Romaride.

Filipa – A srª Mª dos Anjos como é que aprendeu a ler?
Srª Maria dos Anjos –
O meu pai era lavrador e teve seis filhos. Só os dois mais novos é que foram rapazes, as quatro primeiras tudo raparigas. Eu sou a terceira, a Custódia era a mais velha. E eu fui a única das minhas irmãs que aprendeu a ler. Isto porque a minha irmã Custódia foi servir para um padre que nessa altura veio para Romaride aos doze anos. E eu não podia ficar em casa sozinha, ia mais ela e por lá estava, quando assim calhava. E foi com a irmã do padre, que era mais velhota que ele (e ele também já não era novo), que eu fui começando a aprender.

Filipa – E foi fácil?
Srª Maria dos Anjos –
Ah, aprendi como os outros! Os que puderam, quem podia aprendia. Mas nunca fui muito rude, sempre gostei de aprender de tudo.

Filipa – E depois as outras raparigas iam ter consigo para lhes escrever as cartas aos namorados, não era? Não ficava atrapalhada por estar a escrever coisas de namorados?
Srª Maria dos Anjos –
Escrevia para raparigas e rapazes, escrevia para quem calhava. Mas elas eram mais velhas, já raparigas com ideias de casar. E outras casadas. Eu não pensava ainda em namorar, tão pouco. Sempre escrevi cartas, desde os meus doze ou treze anos.
Os homens, coitados, iam trabalhar para longe e depois falavam-se era por carta, com os familiares e com as namoradas – ou até outros assuntos. Mas era com respeito, [porque] tudo o que eu escrevia era na mesa da sala, elas ditavam e eu é que escrevia. Mas o meu pai e a minha mãe estavam sempre à disposição de entrar. E que não estivessem, para mim não fazia diferença. Naquela altura o namoro, propriamente, era diferente do de agora.

Filipa – O meu avô é que me disse que a srª sabia alguns segredos dos namorados, mas segredos sem maldade, e que por isso toda a gente a queria como amiga nas festas. Como é que eram essas festas? E o que acha das diversões dos jovens de agora?
Srª Maria dos Anjos –
Olha, vou-te dizer, tu que idade tens minha rosa?

Filipa – Dezasseis.
Srª Maria dos Anjos –
Andei contigo ao colo, já a minha neta mais nova andava na escola. Tu ainda não foste estudar para fora?

Filipa – Não.
Srª Maria dos Anjos –
Já sabes o que vais seguir?

Filipa – Não sei. Talvez jornalista.
Srª Maria dos Anjos –
Sim. Eu só comecei a ir a algumas festas, assim pelo dia, quando era da tua idade, mais ou menos. Àqueles bailes à noite, que às vezes havia aqui ou ali, nunca fui, nem em casada nem em solteira. Só o que é … eu era muito boa companheira, e sabia as canções, os versos, sabia aquilo tudo. Não era pelo dançar que eu lá ia. Sempre fui muito amiga de aprender. Dos meus irmãos todos, rapazes e raparigas, só eu é que sabia aquelas coisas dos antigos, dos nossos pais, nossos avós, e ainda sei a grande parte delas. E era por isso que toda a gente se queria dar comigo. Puxavam por mim, e eu cantava, não era pelo dançar ou isto ou aquilo que eu lá ia. Sempre gostei de cantar, e cantava, está claro, não cantava mal, pelo que diziam [risos]. Mas agora dizendo mesmo verdade das coisas como elas eram, nunca fui cá de agarramentos, isso assim não!

Filipa – Depois casou, o seu marido também foi emigrante e a srª é que ficou a tratar dos filhos. Eram tempos difíceis?
Srª Maria dos Anjos –
Criei os filhos e os netos, com a ajuda dos pais claro. Tudo aprendeu a ler e a escrever comigo! A fazer contas, muitas cantigas… sei lá! Agora alguns já estão formados, outros para lá caminham.
Mas trabalhava muito, pronto. Era uma vida… de trabalho, sempre toda a vida. Mais nada.

Filipa – E como é que foi naquela altura em que queriam encerrar a casa da criança?
Srª Maria dos Anjos –
Bom, isso era uma coisa que queriam fazer… era para passar para outro sítio, mais afastado daqui da região. Mas havia aqui muitas crianças pobres… em Romaride, em Eiras [de Sabaio], Valinhos, e outras. O povo opunha-se muito a isso. A casa já cá não está, pelo menos como ela era, mas enquanto cá esteve fez muita falta, e veio tudo dessa altura, da força e da luta do povo de Romaride. Disso nunca mais me esqueço.
Eu conhecia uma pessoa da direcção daquela obra, daquela assistência, em Coimbra, que era a irmã Adélia. Era uma pessoa dos conhecimentos do padre de Romaride. Ele, o padre, é que achou que era melhor ser eu a escrever para ela, também porque via que eu era das mais interessadas no caso, além de não haver muita gente a saber escrever, naquele tempo, os homens grande parte deles estava fora... E era para ela ver o que é que as pessoas da terra pensavam, os casos de miséria que por aí havia e isso tudo assim.
Escrevi muito, de negócios, terras, casamentos, ajudei muita gente, posso-o dizer, graças a Deus, mas esta carta foi a que mais gosto me deu escrever. Em nome das mães e das crianças mais desagasalhadas.

Filipa – Eu concordo com tudo. Mas falando de outras coisas, a srª teve um papel muito importante no nosso rancho. Quer falar disso?
Srª Maria dos Anjos –
Papel importante tem o teu avô [risos]. Andei nisso do rancho, mas só para ensinar as modas, não tinha tempo para andar a cantar. Nem a dançar [risos]. Isso é bom é para ti [risos]. Gostava de te ver lá, a dançar!

Tuesday, November 25, 2008

Litorânea




No último fim-de-semana fui passear ao litoral de Portugal. Há inúmeros lugares lindíssimos à espera de serem descobertos, uns mais remotos do que outros, e eu acho que a praia tem um encanto especial no Inverno. Com as novas acessibilidades, para mais, o Litoral já não está assim tão isolado do resto do país.
Comprei uma máquina nova recentemente, em breve tratarei de colocar aqui mais fotos, incluindo algumas do nosso Vale. Espero.

Thursday, November 20, 2008

É muita frescura

O percursso da nossa selecção, de há um tempo para cá, tem sido tenebroso. Temos perdido ou empatado demasiadas vezes com equipas de um nível claramente inferior ao nosso (tão inferior que nem me lembro bem quais foram: Albânia? Azerbeijão?).

Agora até já nos permitimos perder com o Brasil, um país mais conhecido pelos cantores, actores, publicitários e gestores de companhias aéras que, não poucas vezes, dão um bigode aos nossos. A nível mundial, destaca-se pela emergente pujança da sua economia, pela importância política que lhe vem sendo reconhecida e pela afirmação da sua cultura e da sua língua. Até entre nós se nota essa marca, bem visível em vocábulos como bicha, no campo dos costumes frescos, e acessar, no campo das novas tecnologias. Não é que não existissem esses costumes e essas tecnologias antes, mas as palavras novas ajudaram a descomplexá-los um pouco, a torná-los mais acessáveis, ao nível do discurso. Estas considerações podem parecer irrelevantes para o assunto que nos trouxe aqui, seja ele qual for, mas a verdade é que o vocabulário pode ajudar a revelar a verdadeira cultura um povo, a qual não é mais do que o resultado da combinação de gentes que semeiam determinada terra, condicionadas por um clima específico, num dado período de tempo. E é sob esta perspectiva que melhor se pode apreciar a exuberância e a riqueza daquele alfobre, que já foi nosso.

Seria exaustivo fazer qualquer espécie de lista com os principais frescos produzidos no Brasil, mas se atendermos só ao que se passou ontem, podemos analisar alguns dos que mais estiveram em jogo, a sua ressonância exótica, ainda que nem sempre bela, ao mesmo tempo que os comparamos com alguns dos nossos melhores tubérculos - vocábulos honestos mas mais secos, e já com barbas - evidenciando assim a frescura alegre de uns e o desconsolo da cara de bigode murcho de outros :

Dunga 6 - Queiroz 2
Escrete 6 - Equipa de todos nós 2
Anderson 6 - Quim 2
Confederação 6 - Federação 2
Canarinha 6 - Verde-rubra 2
Time 6 - Equipa 2
Goles 6 - Golos 2

Quem pensava que o Brasil se distinguía, sobretudo, por aquela maneira engraçada de falar, por ser um dos maires exportadores mundiais de produtos agrícolas e filmes sobre a realidade das favelas e prisões, ou por ter concebido um sistema que permite que uma quantidade assinalável de carros, e não de condutores, circulem impulsionados pelo álcool, enganou-se redondamente: eles, afinal, sabem jogar à bola.
Ainda assim, é caso para perguntar: era mesmo preciso tanta frescura (e um bigode assim tão grande)?

Wednesday, November 19, 2008

Lanterna mágica

Rock Around The Clock (Original Version)


Estamos em 1954 e o Rock and Roll está em plena gestação. Esta versão foi gravada apenas um mês antes da de Bill Haley, como se pode ler no próprio video. Mas vive noutra dimensão espaço-temporal.

Democracia

Se a democracia é o sistema político que há-de redimir o mundo, talvez não surpreenda que a ameaça da sua supressão seja comparável - e procure os mesmos efeitos ao nível da retórica - que a alusão ao fim do mundo feita pelas profecias.
Ontém foi Manuela Ferreira Leite (para onde lhe fugiu a boca, afinal?), antes tinha sido o general Loureiro dos Santos. Também me lembro de umas declarações de Mário Soares, há anos, sobre os riscos que correria a democracia portuguesa, se não fosse a União Europeia. Os propósitos (ou despropósitos) com que foram proferidas tais avisos, bem como os respectivos contextos, são diferentes, mas o fantasma do fim da ordem das coisas tal como esperamos que elas sejam, remetendo para o tempo futuro ou para o condicional, perpassa os três exemplos. Estes podem, em parte, ser lidos como um apelo à reflexão e ao arrependimento, mas nos mais recentes não é tão pequena quanto isso a tentação de perscrutar ecos de um desejo irreprimível de ordem e justiça que transcenda as que existem, demasiado corrompidas pela usura e pela mesquinhez humana.
Apesar de a retórica nunca ser só retórica, oxalá seja só retórica.

Thursday, November 13, 2008

Ouvindo conversas, lendo fragmentos, observando sinais

"Ai foi o pretito que ganhou? Eu também estava por ele. Se calhar não sou racista, atão. O outro o que é que ele quer? É cá um velhão!"


(Uma senhora, estes dias, Eiras de Sabaio)

RTP 2

Infelizmente não tenho acompanhado tanto quanto gostaria um programa fascinante na dois: o Natureza e tecnologia, Domingos, às 21h. Eu sou muito dado a documentários, e já vi alguns parecidos com este (que não tem nada a ver com os tradicionais documentários de animais, a mãe protectora e os filhotes, o predador e a presa, etc), mas nenhum tão bem feito.
É verdadeiramente espantosa a inteligência da natureza na concepção de formas, revestimentos, modos de locomoção, etc. (um criacionista encontrará aqui muito material de apoio às suas teses - e um evolucionista também!). As possibilidades tecnológicas que os investigadores podem encontrar nas soluções da natureza, tal como se pode constatar no documentário, são muito mais do que teóricas.
Boa narrativa, apelativa mas económica, e óptima fotografia.

Thursday, November 6, 2008

O meu cão já tem sobrenome



Desde Setembro que tenho um cão pretito. Após a mútua alegria inicial, as primeiras preocupações que tive foram: onde é que ele vai ficar e que nome lhe hei-de dar. Por acaso tinha um espaço minimamente confortável, mas para a lenha, que era o que já se guardava lá. Começou logo a ganir mesmo muito alto (muito forte, que é como nós dizemos na música), mas o cão, que a lenha sempre se portou bem.

Eu estava convencido que mais tarde ou mais cedo aquele animal se iria calar. E assim foi. Mas quando de repente se fez silêncio até fiquei preocupado e fui lá ver. Percebi de imediato que tinha fugido através de um buraco que já estava meio aberto e eu não tinha reparado, mas logo o reparei. Procurei-o. Em vão, ele é que regressou tranquilamente, mais tarde. Não me resignei e deixei-o no mesmo sítio, sujeito a alguma reparação, e ele ainda escapou mais duas ou três vezes, aquele macaco. A mais espectacular foi uma em que ele se deu ao trabalho de roer a madeira da trave, da ombreira ou como é que se chama, e depois ainda teve que tirar uma tranca de outra porta. E andava sempre a fugir-me, mesmo quando o soltava no quintal e tudo. Era uma chatice, mas a verdade é que foi assim que eu resolvi o problema do nome: passou a ser o Fugas. Ainda hoje, toda a gente ‘ Ó Fugas, ó Fugas!'

Mais ou menos desde essa altura comecei a preparar outro sítio para o armazenar, porque não o queria obrigar a ficar num sítio onde não se sentia bem. É uma antiga estufa e tive que andar a pôr rede etc., por isso é que demorou tanto tempo! Por isso e porque o gajo fugia-me sempre, sempre de lá. Ao todo terão sido umas dez vezes, incluindo uma ou outra em que conseguiu fugir ainda antes de eu ter tido tempo de fechar a porta. Podia não conseguir fazer uma jaula à prova de Fugas, mas pelo menos toda a gente dizia que eu tinha escolhido um bom nome para lhe dar.

Hoje finalmente concluí uma prisão de alta segurança, para um criminoso compulsivo. Pus tijolos onde era necessário, amarrei a rede com o triplo dos arames e pus o cão lá dentro, que foi a parte mais arriscada. E fiquei a ver ao longe. Só que ele deu umas voltinhas, tentou furar aqui e ali sem grande convicção e desistiu. Ele deve ter percebido que não valia a pena tentar. É muito fino.

Por falar nisso, apareceu naquela altura o Arménio, que achou que era importante fazer uns melhoramentos no telhado da casota que também construí lá dentro. Estávamos atarefados com os trabalhos quando o surpreendemos a escavar um buraco. Não era um túnel para fugir, isso pensámos nós, mas não estava para aí virado, era um túnel direccionado apenas para baixo . E deixámo-lo. Depois é que nos lembrámos que devia ser estratégia: se não conseguia fugir pelos meios habituais, tinha que recorrer ao logro. Das escavações saíram coisas desagradáveis: restos de galinha, é melhor não entrar em pormenores. Como ele ameaçava continuar, vi-me obrigado a transferi-lo para as instalações antigas. Mas receio, e aqui é que entra o logro, que tenha sido coisa planeada. E que, neste momento, ele esteja a escavar mais uns centímetros no túnel que sabia ser impossível fazer na ala de segurança máxima.

É por isso que o quadrúpede já tem nome e sobrenome: Fugas Scofield.

Sunday, November 2, 2008

O interior

A minha existência, enquanto pessoa (bem como muito do que sou) é tão real como a do Vale Interior, terra de onde sou mas onde não vivo.
Independentemente das incertezes geográficas, das dúvidas existenciais, a minha preocupação com o interior do nosso país é genuína.
Ela foi uma das razões da criação deste blog.
Ainda não tive oportunidade para aqui deixar muitas mostras disso mesmo, mas espero que isso possa acontecer entretanto.
Para já, deixo um link que trata um pouco do assunto, sobretudo no que respeita aos problemas da Educação.
O blog, de resto, é bem interessante.

Saturday, November 1, 2008

De hoje a oito dias, na história


Algumas das entradas do dia 8 de Novembro no livro “Hoje na história” ( The History Channel) são:

392 – O paganismo é banido no Império Romano.

[seja como for]

1407 – Teofilato, o licencioso papa Bento IX, reivindica o papado uma terceira vez. Vendera-o uma vez, foi deposto outra e à terceira é expulso de Roma.

1620 – No início da Guerra dos Trinta Anos, as forças da Liga Católica destroçam o exército dos Boémios protestantes no monte Branco perto de Praga, República Checa.

1939 – Uma bomba explode numa cervejaria de Munique, Alemanha, minutos depois de Adolfo Hitler abandonar o local. Hitler interpretou ter ficado ileso como um sinal do apoio de Deus. O mesmo afirmou o arcebispo de Munique, que realizou uma missa para celebrar o milagre.

1960 – John F. Kennedy torna-se o mais jovem candidato, e o primeiro católico, a ser eleito presidente dos Estados Unidos, vencendo por estreita margem o vice-presidente republicano Richard M. Nixon.

Wednesday, October 29, 2008

Ouvindo conversas, lendo fragmentos, observando sinais


"Para quem costuma rezar um Terço por dia, o Santo Padre sugere distribuir os mistérios do Rosário, ao longo da semana, da seguinte forma:

- Mistérios Gozosos:
Segunda-feira e Sábado;
- Mistérios Luminosos: quinta-feira;
- Mistérios Dolorosos: Terça e Sexta-feira;
- Mistérios Gloriosos: Quarta-feira e Domingo; "


(O Rosário, a oração da Paz; João S. Clá Dias)

Monday, October 27, 2008

Sunday, October 26, 2008

Itália


A Itália é um país que sempre faz espécie. Encontrei umas linhas interessantes sobre o país no The New York Times que, entre outras coisas, traz uma descrição da Encyclopedia Britannica que se pode traduzir mais ou menos assim: “ trata-se menos de uma nação única do que de uma colecção de locais culturalmente relacionados, reunidos num conjunto invulgarmente aprazível”.
Quase se poderia dizer que é uma apreciação que tem mais de Britannica do que de Encyclopedia, ainda que não seja propriamente injusta.
No artigo pode ler-se outra ideia interessante, ainda que não propriamente muito original: “(…) desconfiados da autoridade depois de o exercício do poder ter assumido, ao longo do tempo, carácter descentralizado e frequentemente arbitrário, os italianos tendem a estabelecer ligações de lealdade a nível local: à região ou à cidade ou, mais frequentemente, à própria família”.

Há relativamente pouco tempo a esquerda perdeu o poder para Berlusconni de forma estrepitosa. A máfia tanto pode fazer uma cidade ver o seu lixo amontoar-se durante semanas, como ameaçar e matar quase impunemente.
Algumas das notícias de hoje, que deixo em jeito de descrição, mais do que com o pretensão de concluir alguma coisa, dão conta da possível contratação de David Beckham pelo AC Milan, do regresso da Madonna del Cardellino, de Rafael, à galeria Uffizi, depois de uma década de trabalhos de restauro, e da loucura que tomou conta dos italianos por causa do jackpot de 100 milhões de euros do totoloto local. Alguns estão a apostar as poupanças de uma vida no jogo, cujo 1º prémio não é atribuído desde Abril.

É uma terra onde muita coisa acontece, muito mais parece estar sempre prestes a acontecer e, no mínimo, espanta e emociona em estilo tragicómico, o que não está ao alcance de todos. Convém ir seguindo o que lá se passa.

Friday, October 24, 2008

Compras



Gosto de fazer compras no comércio tradicional. As grandes superfícies são demasiado impessoais, frias mesmo, e eu não aprecio particularmente fazer parte de uma multidão de anónimos que se evitam, que se escondem na confusão. Prefiro percorrer a baixa (do Porto), andar de loja em loja com as mãos carregadas de sacos, e desfrutar da oportunidade de me cruzar e encontrar com quem passa, conhecido ou desconhecido, com as pessoas das lojas, ou com quem apenas está a ver os outros passar. Na baixa cabem todos.

Hoje tirei o fim de tarde para ir às compras. A minha última paragem foi na mercearia da sra. Ricardina. Enquanto pesava alguma fruta, uma garota com um ganchinho azul ia tentando convencer a mãe a comprar umas pulseiras e um chocolate. As pulseiras eram iguais às que todas as miúdas usam, e o chocolate era normalíssimo também. A mãe não parecia nada inclinada a satisfazer aqueles caprichos, provavelmente mais por uma questão de princípio do que por causa de dificuldades sérias. Mas as suas respostas, por vezes verdadeiros lamentos, soavam à conversa da crise. É que a crise vem acompanhada de uma música própria, que contagia toda a gente, incluindo quem, por ventura, não lhe sente os efeitos.

Não é o meu caso. Enquanto o diálogo de surdos entre e mãe e filha prosseguia, dei por mim a pensar em todas as coisas a que tive que dizer não, só durante a tarde de hoje, como uma mala nova para substituir a que costumo usar, já velhota, ou uma torradeira que ando a cobiçar há meses. E preferi nem olhar para a montra de uma livraria que fica umas ruas antes da mercearia.

A senhora bem se esforçava por ir chamando a atenção da pequena para outras coisas, mais importantes e úteis, que levava a pensar nela. Mas esta, sem chegar nunca a armar uma daquelas birras medonhas, dava mostras de saber cumprir o seu papel. E não desarmava.

Nós é que não nos podemos dar a esse luxo. Temos de nos ir conformando com a redução nos gastos. De há uns anos a esta parte, tudo está mais caro, sem que os ordenados tenham acompanhado a inflação. Depois, cada um tem os seus desafios específicos. O meu passa por não pôr de parte o sonho de vir a ter casa própria, sendo que, uma vez que sou uma professora deslocada, não trabalho no local onde gostaria de viver no futuro (ou melhor, onde gostaríamos, já que a decisão não é só minha). E isso significa que tenho de suportar o custo da renda da casa onde estou presentemente.

A necessidade de poupança vai-se impondo em todas as decisões que envolvam a realização de despesa, grandes ou pequenas, em prejuízo de hábitos adquiridos. Ainda não pus em causa o cafezinho, mas já não compro o jornal diariamente, tento fugir da pastelaria, dos chás com as amigas, dos espectáculos, de um ou outro DVD que ia comprando, etc. Hoje, por exemplo, antes de me dirigir à mercearia, passei por um carrinho de castanhas assadas, que me foi tentando cativar enquanto atravessava a praça onde estava. Resisti, apesar de um cartuchinho vir mesmo a calhar numa tarde fria como a de hoje (e ainda bem que resisti, porque no fundo da rua estava um sem-abrigo a olhar para quem passava, e fico especialmente embaraçada quando trago comida e me deparo com alguém necessitado).

Entretanto, a menina parecia estar quase convencida, se bem que o chocolate ainda a fizesse choramingar. E a mãe, calma mas determinada como só elas, ia lembrando que não se pode ter tudo, que muita gente nunca tem oportunidade de comer doces e elas já levavam umas sobremesas e o chocolate para o pão.

Quando mãe e filha saíram e se fez silêncio, toda aquela conversa, que começara por me dar pena, ficou a martelar na minha cabeça, não me permitindo esquecer as minhas próprias dificuldades, em particular a jornada de renúncias em que se transformara uma tarde de compras. São sacrifícios relativamente modestos, mas depois de tanta disciplina e bom senso - apesar de concordar com aquela mãe - e depois de tanto chocolate invocado, fiquei… descompensada.

Acabei por abrir a tampa de um boião de bombons, dos antigos e baratinhos, e tirei uma mão-cheia deles. Cá fora, subi a rua, dei metade ao sem-abrigo e concedi-me o luxo de comer os outros. Toda a gente precisa de um doce, de vez em quando.

Monday, October 20, 2008

Saturday, October 18, 2008

Ouvindo conversas, lendo fragmentos, observando sinais


"Os lugares à mesa

Os donos da casa sentam-se em frente um do outro, na parte mais larga da mesa.
À direita do dono da casa, senta-se a senhora de mais idade ou de mais categoria social; à esquerda, a que se lhe segue, imediatamente.
À direita da dona da casa o homem de maior representação e à esquerda o seguinte.
As pessoas mais novas ou de menos categoria, sentam-se nas cabeceiras da mesa. Podendo ser, devem sentar-se, alternadamente, homens e senhoras."


(Noiva, esposa e mãe; Colecção Laura Santos)

Friday, October 17, 2008

O que é que se passa com os técnicos?


Também me queixo da falta de quem nos resolva os problemas informáticos. A nossa página de internet da junta está desactivada há uns meses. Mas aproveito para informar a população de Eiras que o serviço de acesso à internet continua de portas abertas na sede da junta, com vários computadores disponíveis, e que não é só para os mais joevns! Digo isto porque me têm colocado a questão, mas é só o site que não está a funcionar.
Que jeito nos dava ter cá o técnico. Ele não estará interessado em conhecer a nossa cozinha? Os nossos vinhos e produtos tradicionais? É trazê-lo cá, que arranja-se qualquer coisa, para ele e para o Serrão, que também é técnico!
As tecnologias de informação assumem cada vez mais um papel destacado no nosso tempo, e ainda bem, por serem um meio usado em quase tudo, desde a economia aos tempos livres.
Nós damos grande importância a essa realidade, nomeadamente entre os mais jovens, através de iniciativas como o centro de internet já referido. Agora, há que despertar na juventude o interesse por outras coisas além da internet, pois ao assumir um papel tão importante não deixa espaço para que cada jovem perceba que não pode estar dependente dos computadores para tanta coisa assim.
Cada um é que sabe, e o nosso centro continua aberto a todos, ao contrário do que alguns diziam.

Thursday, October 16, 2008

Problemas técnicos




Por algum motivo neste blogue nos assumimos como virtuais info-excluídos. No campo das tecnologias, quais analfabetos funcionais, sabemos o mínimo, e só o mínimo, como quem assina o nome e lê as placas com os nomes das terras. Mas é o suficiente para percebermos que a maior parte da culpa é… dos técnicos, dos especialistas, responsáveis pela criação deste mundo electrónico! Encontramos, a cada passo, aberrações que potenciam a nossa info-exclusão e, no entanto, apesar de amaldiçoarmos os computadores, os técnicos, e o Bill Gates, temos remorsos por nos sentirmos frustrados, pois, no fundo, mesmo nós reconhecemos que a revolução digital é fenomenal. E também porque gostaríamos de saber resolver, tão bem como qualquer info-incluído digno desse nome, as trapalhadas com que os informáticos nos brindam.

Eis dois exemplos de verdadeiros choques tecnológicos por que passámos ultimamente, ambos relacionados com o recém-nascido Info-excluído (oportunamente falarei de outros):

● Logo nos primeiros dias, quando algum dos colegas de blogue se tentava juntar (adicionar), depois de executar todos os passos previstos, deparava-se invariavelmente com um imperscrutável e irritante erro. Acabámos por encontrar um técnico disponível a ajudar-nos, que, a certo custo, percebeu que para solucionar o problema era necessário que cada um dos candidatos a bloguista executasse, na sua conta, determinados procedimentos sem nexo nenhum. Depois, não sabemos porquê, o próprio Blogger identificou o nosso blogue como possível spam blog e impediu-nos o acesso durante dois dias. Felizmente era facultada a possibilidade de pedir que um operador humano fosse verificar se se tratava ou não de um spam blog, o que sugere que os próprios criadores não confiam nas suas criaturas! Claro que cliquei na opção respectiva, sendo de imediato saudado com uma espantosa declaração, qualquer coisa parecida com: “se está a ler isto é porque provavelmente você é um ser humano, (…)”. Provavelmente. A máquina admite, portanto, que precisa de um humano para averiguar se um blogue é ou não feito por humanos. Muito bem. Mas, então, fico ainda mais perplexo com o atrevimento que a leva dar a entender que eu, por minha vez, preciso de uma máquina para saber se sou ou não humano! Aposto que só o faz aos info-excluídos.


● Tivemos também um problema com as linhas em branco. Ninguém sabia, por exemplo, como fazer para separar os títulos dos posts do texto propriamente dito. E, do mesmo modo, nem sempre conseguíamos que as linhas em branco usadas frequentemente na separação de parágrafos e afins fossem reconhecidas, depois da edição do texto. Devia ser uma coisa simples, mas o que me diz a minha experiência é que, na informática, a simplicidade é caprichosa. O sr. Cabaça foi quem mais sofreu com este problema, porque o editor (ou o próprio Blogger, ou lá o que é) teimava em não reconhecer os espaços que vão entre as quadras do poema. A opção foi recorrer à barra (/), um expediente típico de info-excluído. Fui eu que o sugeri, de resto. Entretanto encontrámos umas dicas para remediar a situação (que se resumem a escrever um p entre os sinais de menor e de maiorno editor (?) Html; se alguém conhecer uma solução melhor, chegue-se à frente), evitando assim recorrer de novo ao quase sempre indisponível técnico. Entretanto, seguindo uma sugestão minha, o sr. Cabaça optou por deixar a barra a separar as quadras, só porque sim. E até está bem.

Tuesday, October 14, 2008

Os nossos mestres


O dr. Luciano Carlos de Abreu foi uma das figuras mais grandiosas da nossa região. Veio ao mundo a 24 de Fevereiro de 1894, em Tábuas, freguesia de Romaride, e faleceu em Lisboa, em 19 de Novembro de 1965.
Licensiou-se em Direito, na Universidade de Coimbra, tendo vivido grande parte da sua vida entre esta cidade e a capital. Foi nestas urbes que se dedicou à advocacia e ao ensino, leccionando em diversas escolas secundárias, tendo mesmo sido um dos fundadores de um colégio.
Homem dotado e dinâmico, foi um notável conferencista, poeta e prosador. Além de livros académicos de referência na sua área, publicou muitas outras obras, entre as quais destaco os livros de poemas dedicados à nossa terra (ou nela inspirados). Mas o seu legado literário, em poesia e prosa, é imenso, assim como o seu amor ao Vale Interior, à sua gente e cultura. Trata-se, fundamentalmente, de um grande português, disposto a dar o seu melhor em tudo o que se envolvia.
Resolvi-me por apresentá-lo, ou recordá-lo, na minha estreia neste espaço, por ter sido uma referência ao longo da minha vida, e por tão bem ter sabido cantar o nosso vale. Assim, deixo aqui algumas quadras de uma de suas maiores obras poéticas, " Estudos de poesia popular", premonitórias das de António Aleixo:


Em grandes poisos se altaneiam
muitos tolos abelhudos;
Nem sabem quanto se afeiam,
Vaidosos e barrigudos.
/
/
Pouco existe que mais doa
a honrado trabalhador,
que ver gente sã, à toa,
a comer d'outros o suor.
/
/
Têm porte e figura
certos que conheço;
mas em casa, broa dura,
e a candeia ao avesso.
/
/
Sorrateiro, sorridente,
fresco e franzino.
Assim, o insolente,
vem armar seu desatino.
/
/
Por não ver o velhaco,
que ser sério é um bem,
afunda-se em tal buraco,
que não vai sem mais ninguém.

Monday, October 13, 2008

Grandes expectativas


Nota prévia: escrevi este texto no início do ano lectivo, já lá vai quase um mês, mas como a minha (e a nossa) info-exclusão não me permitiu deixá-lo aqui antes, faço-o agora (espero que seja desta).


A vida de um professor é marcada por ciclos precisos, que se repetem todos os anos. Depois do regresso às aulas, em Setembro, vêm o Natal, o Carnaval, a Páscoa e as férias grandes, as principais estações do ano lectivo. E cada ciclo tem os seus rituais obrigatórios: as reuniões, as avaliações, as festas, as inúmeras efemérides, etc.
Por enquanto, tudo cheira a novo e todos somos crianças de cara corada e olhos a brilhar, só de olhar para os livros por estrear. Há gente nova no grupo, gestos e regras que se aprendem ou relembram. Por enquanto, os sonhos e os receios de todos caminham bem alto, de mão dada.
Nunca percebi se estes momentos são uma recompensa antecipada pelos trabalhos por que passaremos depois, se uma enganadora bonança que consegue sempre deixar-nos desprevenidos face às tempestades. Veremos, já que, e esta é que é a verdade, dias bons, dias maus e dias assim-assim não se hão-de fazer esperar e a rotina acaba por ser o que mais surpreende. Nunca aprendemos, mas que interessa isso nestes dias?
Dentro em breve os anjos e os santos – isto é, os alunos e os professores (experimente dar aulas a anjos destes e diga depois se o somos ou não) – estarão envolvidos numa luta constante por protagonismo, todos contra todos. Resta esperar que a Salvação e a Graça vão, ainda assim, acontecendo diariamente, entre fraquezas e preces.
Duas jovens colegas ‘das AECs’ (actividades extracurriculares), candidatas a santas, perguntavam-me, no outro dia, por planificações, materiais, actividades, etc., para as respectivas áreas, Música e Inglês (ou seria Expressão Plástica?)
Eu percebo-as, mas desconfio que não sabem até que ponto não é isso que, a nós, as santas mais velhas, nos preocupa verdadeiramente. O que nos preocupa é saber se vamos ou não chegar ao fim do ano com o tal sentimento de termos sido demasiado defraudadas pelas expectativas do início.
Suspeito que elas nunca passaram um fim-de-semana a fazer compotas para toda a família, como algumas de nós fazem, para esquecer a escola, deixá-la lá longe. E também não devem recorrer muito ao ‘Relax Woman’ (nunca percebi se era um CD ou um livro), às escapadelas culturais de ocasião ou ao Xanax.
Mas sei, seja como for, que já valeu a pena continuar a acreditar na paciência dos santos e na inocência dos anjos. Porque, se não tivermos grandes expectativas agora… quando é que as teremos?


Lanterna mágica


De hoje a oito dias, na história


No dia 20 de Outubro de 1827 uma frota conjunta da França, Reino Unido e Rússia derrotou uma frota Otomana e Egípcia, naquela que viria a ficar conhecida como a Batalha de Navarino.
A batalha teve lugar ao largo das costas da Grécia, e constituiu um marco decisivo na sequência de acontecimentos que conduziram à independência daquele país em 1829. Até então a Grécia integrava o império Otomano, o qual só reconheceria o reino grego em 1832.

Sunday, October 12, 2008

Ouvindo conversas, lendo fragmentos, observando sinais


"Queres ver eu a comer um carapauzinho e a cabeça dele?
Olha, assim! Nham-nham!
Como os olhos e tudo! Olha!"

(Marta, 4 anos, comendo carapaus fritos; hoje, Eiras de Sabaio.)

De hoje a oito dias, na história


A 19 de Outubro de 1960 os Estados Unidos decidem-se pela implementação de um embargo comercial a Cuba, como resposta às nacionalizações impostas pelo governo revolucionário cubano. A então administração Eisenhower terá ficado especialmente incomodada com a nacionalização de empresas americanas, mas todos os desenvolvimentos da revolução cubana a preocupavam.
Um dos efeitos do embargo foi a concretização do alinhamento estratégico de Cuba com a União Soviética, o qual levaria, em 1962, a novo e mais alargado embargo (desta vez patrocinado pelo presidente Kennedy) e, posteriormente, à Crise dos mísseis.

A 19 de Outubro de 1987 os mercados de capitais de todo o mundo entraram em colapso, na que ficaria conhecida pela segunda-feira negra.

As questões que se vão colocando sobre as virtudes e os defeitos de distintos modelos económicos têm uma longa história. A coincidência da data proporciona dois exemplos.

Friday, October 10, 2008

Festas na aldeia


Uma festa popular do santo da terra pode ser assim:

9h – alvorada (isto é, foguetes);
13 h – abertura da quermesse;
22h – actuação do agrupamento musical Dominó;

São festas que despertam as pessoas muito cedo, sem necessidade. O que é que acontece entre as 9h e as 13h?
Então façam a alvorada ao meio-dia.

Outras coisas que deflagram nestas festas, Agosto, emigrantes: chegada da Filarmónica Nossa Senhora do Amparo; fogo de artifício; celebração solene da santa missa seguida de procissão e arraial com a venda dos andores; actuação do rancho folclórico do Grupo Alegre e Unido; a Comissão de Festas não se responsabiliza por qualquer acidente ocorrido durante os festejos;

Um acidente que me ocorre é não conseguir adormecer à noite por causa dos agrupamentos e, depois, acordar muito cedo por causa das alvoradas. Mas eu gosto cada vez mais do arraial.

Um programa das festas de há 10 anos seria mais ou menos igual aos de agora, mas poderia ler-se uma saudosa frase: “durante o decorrer dos festejos estará em funcionamento um esmerado serviço de bar.”

Há 20 anos os conjuntos tocavam slows, quantas vezes interrompidos para que se ouvisse a voz do Zé Eulálio: “Fiat Uno matrícula NI-24-75 é favor de se retirar do local onde se encontra.”

Há 40 anos dizem que havia zaragata certa, isso sim, eram programas. Ainda assisti a uma dessas pelejas fúteis, nada de especial, disseram-me. Uma farsa, ao pé de um verdadeiro arraial de porrada, como os havia antigamente. Mas não deu para ver quase nada e não gostei, porque foi muito perto.
A verdade é que participei em muitas festas de aldeia, tentando fazer carreira como baixista e guitarrista de verão num agrupamento carola. Nessa altura é que comecei a apreciá-las mais.

Lembro-me duma em especial, não sei porquê, eram 2 ou 3 da manhã baile dentro, numa aldeia iluminada pelas nossas luzes e pelo fio de lâmpadas no exterior da capela, desenhando-lhe as linhas bonitas, raparigas à espera recostadas, em congregação, compadres de pança a rodopiar, a apanhar o frio do palco, eu, no baixo, a roda de gente a dançar… Uma festa numa aldeola podia ser bela, afinal, e isso desconcertou-me. Mas era bestial.

No fim, apareceu um velho engraçado que nos queria ajudar a carregar o material. Começou logo por agarrar num banco de jardim, mas o cimento não cedeu. Tinha uma força incrível! Conseguiu levar sozinho uma coluna das pesadas, depois de praticar em coisas que só ele achava que eram nossas. Devíamos ter ficado preocupados com um possível acidente, mas de tanto rir nem nos lembrávamos. E ele apenas dizia, muito sério e bêbado: “olhem que isto é difícil… mas também não é fácil!”

Thursday, October 9, 2008

Wednesday, October 8, 2008

Inauguração

Parabéns, amigo Serrão, pela iniciativa da realização do blog, e pela inauguração do mesmo, um contributo que sei que será prestimosíssimo para toda a «nação» valense. Eu é que costumo fazer as inaugurações, sou eu, como dizia o outro! De modo que estou até aliviado por, desta feita, ficar de fora da dita, que lhe coube a si.
Mas, bem-hajam todos pela generosidade. Eu cá estarei, para ir opinando sobre o que bem entender, e para ir trazendo alguns apontamentos sobre o que se passa na nossa terra.
Pode ter escapado aos mais desatentos que a página de Internet da Junta está desactivada. Temos tido alguns problemas informáticos, que só serão resolvidos quando o nosso técnico tiver tempo. Até lá, conto com o Info-excluído para não deixar os interessados sem acesso à informação. O que disser será sempre identificado, e é de minha exclusiva responsabilidade. Quem ler os meus textos já sabe que eu, na situação de Presidente da Junta, tenho um ponto de vista parcial dos problemas que ainda nos afligem.
Tivemos uma excelente reunião de trabalho onde se esclareceu este assunto, já que pelo facto de sermos vários, com diferentes pontos de vista e de diferentes freguesias, não deve haver grande injustiça na análise dos assuntos. Eu, por conseguinte, vou tentar ser o mais imparcial possível, como é de direito em alguém que ocupa um cargo como o meu.
Por falar na perdiz, para quando outra reunião de trabalho? Desta vez pode ser na zona (adoptiva) do Serrão e do Camelo, porque tenho que ir à capital. Claro que não é bem reunião de trabalho, porque nem todos podem fazer uma viagem destas sem mais nem menos, mas conheço lá em baixo uns rapazes cá da zona que se reúnem muito à volta do cabrito ou da truta, ou assim. Que dizem?

Friday, October 3, 2008

Deixem-me fazer as apresentações



Se há-de ser alguém, eu mesmo farei, e com todo o gosto, as apresentações da trupe - quanto mais não seja por ser certamente o único que já sabe postar!

Camelo - filho ilustre da terra, como se dizia antigamente, cedo dela abalou, para cursar música. Mas sempre tocou vários instrumentos e sempre manteve uma importante ligação a essa terra que o viu nascer.
Eu conhecia-o mal, até determinadas andanças nos terem tornado companheiros de ocasião e, entretanto, amigos. Esta é mais uma dessas aventuras.
Tem um estilo, de escrita e de vida, muito próprio, assente numa sapiência refinada. Quem tiver oportunidade de ler algum texto seu, dirá que daria bom escritor; mas eu digo que ele é um óptimo escritor. Oxalá este projecto o beneficie e projecte tanto, nomeadamente entre os meios valenses, que vão já reconhecendo os seus méritos, quanto as suas contribuições, não duvido, acrescentarão ao próprio blog.
Acrescento só que se trata de respeitado programador cultural numa autarquia do litoral ( ou não era para dizer?), e que é natural de Fontelas.

Anabela Prata - esta menina é de Eiras de Sabaio, a nossa muito querida. E minha freguesia natal!
É professora do 1º ciclo e educadora de infância!
Vive e trabalha no Porto e somos conhecidos de há muito. É realmente daquelas pessoas que sabem o que querem. Ou não, porque se tirou dois cursos…
Aliás, diga-se que, com o seu talento, podia tirar os cursos que entendesse, mais coisa menos coisa. Mas virou-se para a educação, e fez muito bem.

J. Bailica - este companheiro fez o percurso inverso ao do Camelo, ao da Anabela e ao meu, porque veio (ou foi?) da cidade para a terra de Sabaio. E isso é muito interessante num blog como este. É caso para dizer que, se ele não existisse, teríamos de o inventar.
Essa é logo uma razão para ter aqui o Bailica. Mas a família do rapaz, para mais, quer do lado materno quer do paterno, é toda do Vale Interior: a mãe de Eiras de Sabaio e o pai de Romaride.
A juntar a isto, há o enorme interesse que suscita os projectos em que está envolvido, dos quais toda a região irá, esperamos, beneficiar sobremaneira. Adianto já que são projectos das áreas do turismo e da agricultura, e que o prezado colega de blog é arquitecto!

José Flores Cabaça - o sr. Cabaça conseguiu ter lugar marcado em grande parte dos principais projectos culturais e sociais que, ao longo dos anos, fizeram história na nossa região. Esperemos que o Info-excluído dê continuidade a esse percurso.
A sua presença em jornais regionais data de há mais de 40 anos! Foi, ou é, membro de inúmeras colectividades, fez rádio, etc., etc.
É uma figura marcante na região; e uma figura fortemente marcada por ela, também. Por isso fizemos questão de o ter aqui.
Este blog tem uma linha editorial bastante aberta, como tentei expor no primeiro post. Há uns pré-requisitos básicos e, depois, o que conta é a vontade de escrever e o valor acrescentado que cada membro pode trazer.

Presidente da junta - o sr. Francisco Aires Marchante, presidente da junta de Eiras de Sabaio, queria usar o seu nome próprio neste espaço. Mas, como muito bem sabem todos os eirenses, não há na terra quem não o trate, precisamente, por ‘presidente da junta’. Basta lembrar que continuou a ser tratado por esse título, como se ainda fosse responsável pelo cargo, durante o mandato do sr. Costa – depois de umas eleições às quais o sr, Marchante não se candidatou.
Mais: é o próprio que, muitas vezes, entre amigos e de forma bem-humorada, incentiva o seu uso. Bem me lembro, por exemplo, de o ouvir dizer muitas vezes “eu é que sou o presidente da junta!”, evocando uma famosa personagem de Herman José!
Outras dúvidas que podem surgir prendem-se com os propósitos, e mesmo a legitimidade, de darmos aqui voz a um responsável político, detentor de um cargo numa autarquia local (e não a outros). A essas dúvidas podemos contrapor a seguinte pergunta: será que o sr. Marchante, só porque é presidente da junta, não tem os mesmos direitos que os outros cidadãos, nomeadamente aceder a um espaço despretensioso como este?
Seja como for, o sr. Marchante foi convidado, sobretudo, atendendo à pessoa, ao seu perfil e disponibilidade que, pensamos, se enquadra bem num blog como o nosso.
Além disso, temos aqui vozes de vários quadrantes, e teremos outras em breve, se tudo correr bem.

Filipa Cabaça - eu não conheço bem a Filipa, neta do sr. Cabaça. Vou revelar a sua idade: 16 anos. Não se diz a idade de uma senhora, mas neste caso…
E ela é uma senhora, apesar de ser uma menina.
Espero que a sua participação neste blog nos ajude a todos a não ficarmos muito presos às nossas ideias, a não sermos muito teimosos, sérios, rabugentos… enfim, muito velhotes.

Info-excluído@pessoa - como tive oportunidade de informar no primeiro post, a ele se deve, em grande parte, a existência deste blog (a propósito, como é que se faz para que o seu nome não apareça transformado num link?)
Não é do Vale mas vai lá muitas vezes, desde que nos conhecemos.
Diz que, para já, não quer revelar o verdadeiro nome, porque, garante, dá azar ( onde é que eu já ouvi isto?)
Diz, até, que ainda não sabe bem se vai, de facto, participar. É muito reservado e contraditório!


Serrão – eu próprio. Sou natural de Eiras de Sabaio e vivo no litoral. Lembro-me do mundial de futebol de Espanha, mas pouco ou nada do da Argentina.
Tenho uma filha pequena e não sei bem no que me estou a meter, embora tenha dito aos outros que isto ia correr bem, que era pouco mais do que uma brincadeira. Sou veterinário.

Wednesday, October 1, 2008

Primeiro post do último blog

Fui o último, do meu grupo de amigos, a ter PC, telemóvel, leitor de DVD, ligação à Internet … , dizia eu há uns meses a um desses amigos, serei o último a ter um blog? Até os meus sobrinhos têm!

Mas logo confirmei aquilo de que já suspeitava: não seria necessriamente o último, uma vez que este agora meu companheiro de blog consegue ser ainda mais avesso às tecnologias do que eu. Ele até acha que elas lhe dão azar.
E no entanto dizia desejar ser blogguer.

Desculpe?

Eu já há tempo vinha ruminando numas ideias sobre um espaço de discussão dedicado ao nosso Vale (e outros vales!). São pensamentos, sonhos e preocupações, ou apenas o que resta de discussões avulsas, formais e informais (e não falo só de copos e jantaradas) que venho mantendo com pessoas da região, para além de participações esporádicas na imprensa local. A net, há que reconhecer, acaba por ser o meio mais do que ideal para que se possa concretizar esse anseio.

A conversa com o meu amigo acabou por ser a faísca detonadora. A partir daquele conversa inicial, a ideia foi-se encorpando e acabámos por juntar um belo grupo, de gente que se identifica e agrega em torno de dois pontos de referência fundamentais.

E quais são eles? Uma região - o Vale Interior, da nossa Beira Alta - e a info-exclusão. Isto porque todos, de uma forma ou de outra, estamos ligados ao Vale e, curiosamente, todos - como viemos a descobrir - nos sentimos um pouco analfabetos nestas artes tecnológicas. Pertenceremos a alguma espécie rara?

E une-nos também a vontade de participar, de contribuir, enfim, de nos exprimirmos sobre sabe-se lá o quê – mas tendo sempre presente, nem podia ser de outra forma, que, para efeitos do blog, somos filhos do Vale e da info-exclusão. É essa a nossa marca distintiva, sobre a qual assenta tudo o resto.

Diga-se que o nome info-excluido surgiu logo, na tal conversa de que falei no início, da boca do meu amigo. Eu achei-lhe piada e sugeri que esse poderia ser o nome do blog. Mas ele preveniu-me, com cara séria, que gostava da designação, e que fazia questão de a usar aqui no blog.

Lá chegámos a um acordo: quer blog quer blogger o usarão, embora com uma adaptação da parte do último. Dizia que se não fosse assim não participava, porque daria azar. E não estava a brincar.